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Reportagem

Arquipélago português da Madeira entre principais destinos de nómadas digitais

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São milhares os nómadas digitais que, nomeadamente, desde a pandemia de Covid-19 escolheram vários locais pelo mundo para aí se instalarem.Estes novos trabalhadores do século XXI cumprem as suas funções de forma remota, graças à internet, e usufruem, frequentemente, de condições mais aprazíveis no dia-a-dia.A RFI esteve no arquipélago português da Madeira para contactar com as autoridades locais e também com nómadas digitais.

Victor Leduc, Martin Donadieu e Shannone Controu, nómadas digitais franceses instalados na Madeira, Funchal, 26 de Junho de 2023.
Victor Leduc, Martin Donadieu e Shannone Controu, nómadas digitais franceses instalados na Madeira, Funchal, 26 de Junho de 2023. © rfi/Miguel Martins
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Entre muitos destinos internacionais dois territórios em Portugal têm estado a acolher importantes comunidades de nómadas digitais.

Lisboa, a capital, mas também a região autónoma da Madeira.

Desde finais de 2020 a Startup Madeira contou com mais de 17 000 pessoas inscritas, mais de metade já concretizou a experiência.

Primeiro, com um pequeno centro, na Ponta do Sol, no sudoeste da ilha: a experiência agora cobre as duas ilhas habitadas do arquipélago (Madeira e Porto Santo).

Carlos Lopes é um dos promotores do projecto.

Ele conta como é que o programa ganhou a dimensão que agora tem colocando o território no ranking de destinos preferidos de nómadas digitais.

 

Nós começámos na Ponta do Sol com um projecto para testar e conhecer melhor o que os nómadas digitais procuravam quando estavam no destino Madeira, na Ponta do Sol. Mas, rapidamente, percebemos que havia outras localidades que nos podiam ajudar. Essencialmente com entidades privadas, tal como estamos aqui, hoje, no Funchal, num espaço co work, totalmente privado, debaixo de um hotel.

Tal como podemos também estar em Machico, com uma comunidade mais ligada à natureza, ou no Santo da Serra. Ou até, mesmo, no Porto Santo onde o destino praia e o destino mar acontecem.

Ou seja, acima de tudo, cada localidade da Madeira tem algo diferente a dar. E a verdade é que os nómadas digitais procuram autenticidade, comunidade, e é isso que a Madeira tem para dar.

 

 

Morro da Penha d'Águia, na costa norte da ilha da Madeira. A qualidade de vida no arquipélago tem desde a época do Covid atraído nómadas digitais à Madeira e ao Porto Santo.
Morro da Penha d'Águia, na costa norte da ilha da Madeira. A qualidade de vida no arquipélago tem desde a época do Covid atraído nómadas digitais à Madeira e ao Porto Santo. © rfi/Miguel Martins

Martin Donadieu é francês. Este nómada digital explica ter-se envolvido num projecto "Madeira friends" onde se tenta, também, capacitar os madeirenses que se podem manter na sua terra natal se conseguirem um trabalho que possa ser exercido de forma remota a partir da ilha.

"Enquanto nómadas digitais, sabendo que podemos, com as competências que temos, trabalhar a partir do lugar que quisermos... Ora as pessoas de cá, frequentemente, acham que, tendo competências de gabarito, não têm outra opção a não ser sair da Madeira por forma a serem pagos à altura do que merecem. O que gostaríamos de fazer com a associação "Madeira friends" seria mostrar aos locais que se eles, de facto, gostam e apreciam o arquipélago poderiam continuar a viver cá ao conseguirem vender as suas competências a quem delas precisar. Já não precisariam, obrigatoriamente, de partir morar em Lisboa ou em Paris. É também o que procuramos transmitir ao estarmos cá com a associação e todos os eventos que organizamos para transmitir aos madeirenses essa cultura."

As duas ilhas habitadas do arquipélago da Madeira têm atraído milhares de nómadas digitais (aqui a baía do Funchal, principal cidade).
As duas ilhas habitadas do arquipélago da Madeira têm atraído milhares de nómadas digitais (aqui a baía do Funchal, principal cidade). © rfi/Miguel Martins

Já Shannone Controu se diz determinada em continuar a trabalhar à distância para a sua startup, instalada em França. Apesar de a Madeira ter sido, sobretudo um acaso, ela assume a sua satisfação com a experiência.

"Trabalho para uma startup francesa, de Paris. Trabalho a tempo integral a partir da Madeira. Trabalhar desta forma já não é uma questão que me coloque. É um modo de vida com o qual me identifico plenamente e que quero manter. 

Antes do Covid nunca tinha ouvido falar da Madeira, nem sequer que era a ilha do Ronaldo ou algo do género !

Quando olhei da janela do avião e vi todas estas montanhas fiquei a perguntar-me o que era tudo isto ? Só para que tenham noção do meu grau absoluto de desconhecimento da Madeira e do quão grande foi a minha surpresa, da beleza da ilha, as pessoas são, mesmo, fabulosas !"

Casas típicas de Santana, no norte da Madeira, uma etapa incontornável para os visitantes da ilha.
Casas típicas de Santana, no norte da Madeira, uma etapa incontornável para os visitantes da ilha. © rfi/Miguel Martins

Por seu lado Victor Leduc conta-nos como é que a sua vida de nómada digital na Madeira acabou por se concretizar e como decorre o seu dia-a-dia.

"Apaixonei-me pela Madeira e no fim da primeira semana cá já estava à procura de casa. De há um ano para cá já sou residente e comprei um apartamento. Adoro esta natureza, o clima, uma qualidade de vida incrível para trabalhar. Na Madeira eles são até quase mais modernos do que em França: a fibra está em quase todo o lado. Tenho um excelente sinal em casa, um giga por segundo, sem problemas técnicos. Prefiro trabalhar a partir de casa, mas também há muitos locais de trabalho partilhado, se se tem vontade de trabalhar com outras pessoas. Trabalhamos o dia inteiro, mas ao final do dia, com a diferença horária e o facto de estarmos mais a sul e a oeste temos muito sol ao entardecer e podemos também aproveitar pelas 6, 7 horas, a seguir ao trabalho, como ainda há luz do sol podemos sair e aproveitar e ao fim de semana podemos, mesmo, fazer caminhadas, há muito que fazer !"

Em que medida é que a vinda de nómadas digitais para a Madeira não tem sido sinónimo de especulação de preços, nomeadamente no mercado imobiliário, deixando de lado os habitantes sem poder de compra, relativamente a pessoas oriundas de outros mercados laborais ? Esta uma pergunta que colocámos a Carlos Lopes da Startup Madeira.

Testemunhos de um fenómeno social e económico que tem estado a revolucionar vários territórios dispersos pelo planeta, incluindo a célebre "Pérola do Atlântico".

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