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Guiné-Bissau

Guiné-Bissau: Vigília pela salvaguarda do Parque Mbatonha dispersada pela polícia

Nesta quinta-feira 5 de Janeiro, uma vigília de organizações não governamentais foi dispersada pela polícia. As ONG insurgiram-se contra a decisão tida como irreversível pelas autoridades de soterrar a lagoa para aí construir uma mesquita, um hospital e uma escola.

Destruição parque ambiental da Guiné Bissau.
Destruição parque ambiental da Guiné Bissau. © Mussá Baldé, RFI
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A polícia dispersou nesta quinta-feira, 5 de Janeiro de 2023, um protesto de activistas ambientais na capital.

Em causa a decisão da autarquia em soterrar uma lagoa, grande reserva de aves migratórias numa das únicas reservas de água doce.

Um caso que o chefe de Estado nesta quarta-feira tinha descrito como sendo irreversível e que se vai traduzir na construção de uma mesquita, de uma escola e de um hospital.

Francisco Gomes Wambar, director da Organização para Defesa e Desenvolvimento das Zonas Húmidas (ODZH) na Guiné Bissau, uma organização ambiental não-governamental, denuncia a falta de uma consulta e de estudos prévios para o caso que seria "um facto consumado".

"Podemos dizer que é um facto consumado. "Não consultaram, não fizeram uma consulta pública. Não temos estudo de impacto ambiental.

Contactar as autoridades é extremamente difícil. É uma coisa já decidida, que vai ser feita.

O que mostra o grau de autoritarismo do país, aquilo que podemos descrever como violência estrutural e que é característico de países como o nosso !

Mesquita aí ? Não podemos dizer que é por questões religiosas, nós não entramos nisso.

A questão religiosa: cada um é livre de escolher a sua religião, de praticá-la onde quiser.

Mas ali foi construído como um parque. Tendo em conta as suas funções ecológicas é uma área que recebe água que vem dos bairros periféricos, que se vai tornar daqui a pouco uma área soterrada completamente !

Essa água que ele armazena para onde é que vai ? Essa é a nossa maior preocupação ! Outra, tem algumas espécies: crocodilos que estão lá vão ficar soterrados. Não existe um plano de salvamento, não existe nada ! É só colocar pedras e acabou !"

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, em conferência de imprensa realizada na quarta-feira 4 de Janeiro, confirmou que o parque Mbatonha ia ser substituído por uma mesquita, um hospital e uma escola.

Umaro Sissoco Embaló, Presidente guineense, esclareceu a polémica em torno do parque Mbatonha, na capital guineense.

O chefe de Estado confirmou que no local serão construídos, com o apoio da Turquia, uma mesquita, um hospital e uma escola.

O Presidente disse que compreende o valor daquele parque, mas também observou que o interesse de desenvolvimento se sobrepõe ao interesse ambiental.

A questão de Mbatonha penso que não é uma questão de desígnio nacional como as pessoas querem politizá-lá. Fui abordado por muita gente, mas o que eu disse é que está em curso uma investigação do Ministério Público e Polícia Judiciária sobre o financiamento feito pela União Europeia. Porque quando se ouve falar de 400 mil euros no Mbatonha não há nada que indique que foram gastos 400 mil euros. Porque falar em 400 mil euros são muitos milhões em francos CFA e isso não existe. Está em curso a investigação. Estes dias ouvi muita gente a falar de Mbatonha. Pedi ao Ministério Público e à Polícia Judiciária. Quero-vos dizer o seguinte: O interesse nacional se sobrepõe ao interesse ambiental. […] E a Guiné-Bissau é um país laico. […] Pelas informações de que disponho, se a Câmara Municipal de Bissau entendeu que é possível, depois da avaliação que lá fez, qual é o problema de lá se fazer uma mesquita? Nós somos um Estado laico, quem quiser ir lá rezar qual é o problema? […] Por aquilo que deram a saber será feita uma mesquita grande, centro de saúde de oftalmologia, oncologia, ginecologia, medicina interna. […] As pessoas não podem pegar nisso, nestas questões da religião, só porque não são muçulmanas. Eu não estou aqui para falar disso, mas também posso falar disso porque a minha esposa é cristã. As pessoas que parem com isso. […] Se for construída uma mesquita no Mbatonha não haverá nenhum problema”, concluiu Umaro Sissoco Embaló.

Recorde-se que o parque Mbatonha é um lugar de lazer de crianças, mas também é aproveitado para a prática de exercícios físicos. O lugar é um importante centro de descanso, nidificação e de alimentação de aves. O Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) defende que o parque recebe anualmente mais de 125 espécies de aves.

Lugar com uma vegetação abundante e água doce no centro de Bissau, o parque foi totalmente requalificado, em 2018, com os apoios da União Europeia e cooperação portuguesa, passando a chamar-se desde então Parque Europa, Lagoa de Mbatonha.

Destruição de parque ambiental.
Destruição de parque ambiental. © Mussá Baldé, RFI

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