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Macron admite que Paris “poderia ter travado o genocídio” no Ruanda

O Presidente francês considera que França "poderia ter travado o genocídio” no Ruanda em 1994, "com os seus aliados ocidentais e africanos", mas "não teve vontade de o fazer ". A tomada de posição foi publicada, esta quinta-feira, pela agência France Presse, a partir de fonte do Eliseu. Este domingo, o Ruanda lembra os 30 anos do início do genocídio contra a minoria tutsi pelas mãos do regime extremista hutu, que causou mais de 800.000 mortos entre Abril e Julho de 1994.

Emmanuel Macron no Memorial do Genocídio de Kigali. 27 de Maio de 2021.
Emmanuel Macron no Memorial do Genocídio de Kigali. 27 de Maio de 2021. AFP - LUDOVIC MARIN
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Depois de ter reconhecido em 2021, as “responsabilidades” de França no genocídio de 1994 no Ruanda, Emmanuel Macron dá um passo suplementar por ocasião do 30° aniversário dos massacres. O Presidente francês amite que Paris “poderia ter travado o genocídio”, "com os seus aliados ocidentais e africanos", mas "não teve vontade de o fazer". A notícia foi avançada, esta quinta-feira, pela agência France Presse, a partir de fonte do gabinete da Presidência, que adiantou que, no domingo, Emmanuel Macron vai divulgar um vídeo nas redes sociais sobre este tema e revelou, parcialmente, o conteúdo da mensagem.

Citada pela AFP, fonte da Presidência indicou: "O chefe de Estado recordará que quando a fase de extermínio total dos tutsis começou, a comunidade internacional tinha os meios de saber e agir, graças ao conhecimento dos genocídios contado pelos sobreviventes arménios e do Holocausto e que a França poderia ter travado o genocício, com os seus aliados ocidentais e africanos, e não teve essa vontade.

Convidado pelo homólogo ruandês, Paul Kagame, para as comemorações de domingo, o Presidente francês estará representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Stéphane Séjourné, e o secretário de Estado dos Assuntos do Mar, Hervé Berville, que nasceu no Ruanda e foi retirado do país nos primeiros dias do genocídio.

O Palácio do Eliseu acrescenta que "em 7 de Abril de 2024, o chefe de Estado reafirmará que a França está ao lado do Ruanda, do povo ruandês, em memória de um milhão de crianças, mulheres e homens mortos por terem nascido tutsis”.

Em Maio de 2021, na viagem a Kigali, Emmanuel Macron reconheceu “as responsabilidades” de França no genocídio. “Responsáveis franceses tiveram a lucidez e a coragem de falar em genocídio e a França não soube medir as consequências”, afirmou. “Nós, todos, abandonámos centenas de milhares de vítimas a um inferno de portas fechadas”, acrescentou o chefe de Estado francês, em Kigali, no memorial às 800.000 pessoas assassinadas entre Abril de Julho de 1994.

Macron precisou que Paris "não foi cúmplice" do genocídio perpetrado pelos hutus e não pediu desculpas, mas disse que esperava o perdão dos sobreviventes.

O gesto do Presidente francês marcou uma aproximação com o homólogo ruandês, Paul Kagame, que louvou “a imensa coragem” do seu “amigo” Emmanuel Macron, depois de as autoridades ruandesas terem acusado, ao longo de anos, Paris de "cumplicidade" no genocídio por manter estreitas relações com o regime hutu do presidente Juvénal Habyarimana. Algo que levou à ruptura de relações entre Paris e Kigali entre 2006 e 2009.

Meses antes do discurso de Macron, em 2021, uma comissão de historiadores, dirigida por Vincent Duclert e criada por iniciativa do chefe de Estado francês, concluiu que seu país tinha "responsabilidades pesadas e conclusivas" e apontou a “cegueira” do então Presidente François Mitterand perante o caminho do genocídio que tomou o governo hutu, então apoiado por Paris.

Em declarações à AFP, Marcel Kabanda, presidente de Ibuka France, a principal organização de memória, justiça e apoio aos sobreviventes do genocídio tutsi, disse que a mensagem divulgada esta quinta-feira “vai ainda mais longe do que o relatório Duclert e a declaração que ele [Emmanuel Macron] fez em Kigali”. “Estou satisfeito por ele dar à França esta imagem positiva de um país que reconhece os seus erros e que cresce ao reconhecer a sua história”, acrescentou.

O historiador Vincent Duclert falou em “um passo em frente, sem dúvida” e “um reconhecimento extremamente forte” de “todos os erros” que “a França cometeu desde o início dos anos 90 no Ruanda”. Em entrevista à estação de rádio France Inter, Vincent Duclert acrescentou: “Sentíamos que a França estava um pouco retirada deste 30° aniversário e, de repente, com o Presidente, a França volta ao primeiro plano."

Por sua vez, a associação Survie pediu que a França vá ainda mais longe e “reconheça oficialmente” uma “cumplicidade no genocídio”.

Em 2010, o antigo Presidente Nicolas Sarkozy também reconheceu, em Kigali, "graves erros" e "uma forma de cegueira" das autoridades francesas que tiveram consequências “absolutamente dramáticas”.

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