Guiné-Bissau: “a sociedade civil tentou alertar, mas ninguém deu ouvidos”
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Ouvir - 07:26
Há quase duas semanas, o palácio do governo guineense foi atacado por homens armados numa altura em que lá se encontrava o chefe de Estado a presidir um Conselho de Ministros. Esta tentativa de subversão que vitimou 8 pessoas foi atribuída há dias pelo Presidente da República a antigos oficiais condenados no passado por tráfico de droga.
Desde então, instalou-se em Bissau uma calma tensa e, há cerca de uma semana, as Forças de Defesa e Segurança começaram a efectuar buscas casa-a-casa em Bissau à procura de armas de uso militar para prevenir eventuais novas acções violentas.
Em entrevista à RFI, o jurista e activista guineense dos Direitos Humanos Fodé Mané, evoca o contexto social em que aconteceu esta tentativa de desestabilização e denunciou, por outro lado, abusos durante as buscas que estão a ser realizadas pelas Forças de Segurança.
“Estamos numa incerteza total, porque depois dos acontecimentos de 1 de fevereiro, a pretexto de investigação, estão a ser violadas a residências das pessoas, há detenções arbitrarias e ainda acrescido com um decretado estado de alerta que faz com que se alargue o âmbito destas perseguições”, considera o jurista referindo que “nessa alegada investigação, as pessoas não estão a ser assistidas pelos advogados, pelos familiares, mesmo aqueles que têm dependência a certos tipos de medicamentos.”
Ao qualificar o ambiente que se vivem em Bissau como sendo de “medo e terror”, o activista refere que “a sociedade civil tentou alertar” sobre o contexto social muito delicado que o país atravessa, mas que “ninguém deu ouvidos”. Inclusivamente, refere Fodé Mané, “esperávamos na quinta-feira passada, quando veio o representante do secretário-geral das Nações Unidas para a África Ocidental que ele ouvisse os representantes da sociedade civil, mas veio apenas solidarizar-se com Umaro Sissoco Embalo”.
Muito crítico quanto ao desempenho da comunidade internacional nesta crise, ao referir que “os Direitos Humanos não fazem parte da agenda de qualquer entidade”, o jurista questiona-se também sobre a intenção de a CEDEAO enviar para a Guiné-Bissau uma força de estabilização. Na sua óptica, pretende-se “garantir que as decisões tomadas pelo poder, tendo as forças armadas estrangeiras, possam ser concretizadas”.
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