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Artes

“Eu não faço sandálias, faço poesia”

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Desenhar, cortar, colar, criar. Poderiam ser gestos mecânicos, mas não para um artesão cabo-verdiano. Beto Diogo diz que não faz sandálias, faz poesia. Cada sandália é um modelo único e deve ser tratado como tal. É a tal “alma da coisa”. A RFI esteve à conversa com este artesão no Mindelo, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde.

Beto Diogo, artesão. Mindelo, Cabo Verde. 28 de Março de 2022.
Beto Diogo, artesão. Mindelo, Cabo Verde. 28 de Março de 2022. © Carina Branco/RFI
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Isto é parte da alma da coisa. Como costumo dizer: é como acariciar uma mulher, é como dar um carinho a uma mulher. Eu não gosto que batam nas obras, tem que se usar mesmo as mãos e isso para mim é dar carinho à peça. Eu gosto de ver as minhas peças bem tratadas e não gosto de vender a qualquer pessoa”, começa por explicar Beto Diogo.

As suas peças são as sandálias e, nas suas mãos, são consideradas obras únicas que devem ser tratadas como tal.   É a tal “alma da coisa”. Não basta desenhar, cortar, colar. É preciso criar. Com afecto e dedicação. Beto Diogo diz que não faz sandálias, faz poesia. O artesão poeta defende que o seu dom é mesmo moldar a sandália que vai encaixar perfeitamente em cada um.

Beto Diogo é artesão profissional desde 2011. Começou em São Vicente, mudou-se para Santiago, mas continua a palmilhar as diferentes ilhas para vender sandálias e ensinar a sua arte porque é também artesão formador e tem um atelier móvel.

A ideia do atelier móvel é levar a arte às localidades porque há muitos jovens que não têm condições para se deslocarem aos centros de formação profissional e nós é que vamos ter com os jovens nas comunidades. Já fizemos na ilha do Fogo, na Brava, em Santiago, São Vicente e vamos também para Santo Antão”, conta o artesão, acrescentando que muitos dos seus formandos vivem hoje desta arte.

Beto Diogo aprendeu o ofício “por curiosidade” e descobriu o seu “dom”. Em 2013, conseguiu fazer a sua carteira profissional. “Eu nasci com o dom, consegui criar uma pedagogia e hoje eu ensino e transmito.”

Num mundo dominado pelas novas tecnologias e produtos realizados em grande escala, aqui, no atelier móvel do Beto, “é tudo feito à mão”, “com contrastes diferentes para mostrar a dinâmica do valor do artesanato porque de forma industrial já há muitos por aqui”.

Ou seja, cada sandália é mesmo única: “É peça única. Como eu costumo dizer: Eu não faço sandálias, faço poesia. Em cada sandália eu aplico uma coisa, uma vivência e transmito-o de forma artesanal. É uma coisa que você não pode ler, mas você pode olhar”, descreve.

Beto Diogo também fez investigação sobre as sandálias albercas em Cabo Verde e percorreu as várias ilhas à procura da origem dessas sandálias. As albercas são a sua inspiração e hoje reinterpreta-as numa linhagem mais contemporânea.

Oiça aqui a conversa.

07:59

Artesão Beto Diogo - Eu não faço sandálias, faço poesia

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