Acesso ao principal conteúdo
Artes

CNAD: “Manifesto da contemporaneidade cabo-verdiana”

Publicado a:

O novo Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design de Cabo Verde (CNAD), no Mindelo, começou por ser “uma utopia”, de acordo com o seu director, Irlando Ferreira, mas está a transformar-se num “manifesto da contemporaneidade cabo-verdiana”. O projecto surge de um sonho inspirado pelos que outrora criaram o Centro Nacional de Artesanato e pretende ser “uma revolução a nível da economia da cultura” em Cabo Verde. 

Irlando Ferreira, Director do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design de Cabo Verde. Mindelo, 29 de Março de 2022.
Irlando Ferreira, Director do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design de Cabo Verde. Mindelo, 29 de Março de 2022. © Carina Branco/RFI
Publicidade

“Uma utopia”, é assim que Irlando Ferreira descreve a reabilitação do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design de Cabo Verde, o CNAD, que dirige desde 2015.

17:57

Entrevista a Irlando Ferreira, Director do CNAD

O projecto recupera os sonhos dos artistas Manuel Figueira, Luísa Queirós e Bela Duarte que criaram o Centro Nacional de Artesanato (CNA), a primeira instituição cultural de Cabo Verde, logo após a independência. O objectivo era não deixar morrer o artesanato através do resgate e recolha dos objectos e saberes, com enfoque na panaria tradicional, para depois os ensinar.

O centro foi extinto em 1997 e reabriu em 2011 como Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design. Irlando Ferreira é convidado para o dirigir em 2015 e propõe uma visão em que muitos não acreditaram mas que vai poder ser vista a partir de 28 de Julho.

Na altura, Irlando Ferreira apresentou um projecto de requalificação e ampliação arquitectónica do CNAD, fortalecido pelo estatuto de instituição pública, em 2018. Para além de museu, com exposições, residências, centro de investigação, de formação e biblioteca, o CNAD apresenta-se como uma plataforma de desenvolvimento da arte, do artesanato e do design em Cabo Verde.

E muito trabalho já foi feito, com a criação online do Sistema Integrado do Artesanato Nacional (SIART) e a implementação de um regulamento e carta de artesão. Há, ainda, a Feira de Artesanato e Design URDI, o primeiro concurso de design no país, o salão Created in Cabo Verde, as residências criativas, os catálogos e as chamadas “Grandes Conversas” que são também editadas em livro. O CNAD vai estar nas outras ilhas com laboratórios de formação de arte, artesanato e design e com a criação de lojas para escoar o artesanato local.

Comecemos por visitar o museu que já está a quebrar muros mentais e físicos. Os muros em volta do centenário edifício, que era a residência do senador Vera Cruz, já caíram e foram substituídos por bancos de pedra que convidam a sentar, a abraçar o espaço e depois a entrar. Este edifício histórico, construído nos finais do século XIX e “que se confunde com a história desta cidade e deste país”, vai acolher a coleção do CNAD, na Galeria Manuel Figueira, e um espaço para artistas emergentes, na Galeria Zero. Há, ainda, o café e a loja.

Atrás do palacete clássico está o novo edifício que vai acolher as exposições temporárias, o centro de formação, a biblioteca e o acervo do museu. O que chama, de imediato, a atenção é a fachada colorida, feita de tampas de bidons, que é muito mais do que se vê porque esconde uma outra criação, desta vez sonora e da autoria do músico Vasco Martins. No fundo, como todo o CNAD, trata-se de um “manifesto da contemporaneidade cabo-verdiana”, resume Irlando Ferreira.

O segundo edifício, dos arquitectos Moreno Castellano e Eloisa Ramos, tem um traçado contemporâneo e linhas rectas, é funcional e disruptivo, e é a ponte para o futuro a partir do passado. O rés-do-chão começa com a Galeria Luísa Queirós, que pode receber artistas de Cabo Verde e de qualquer parte do mundo. No piso inferior, fica o espaço para o acervo, uma colecção com mais de 1700 peças. Seguem-se, nos diferentes pisos, a Galeria Bela Duarte, o Centro de Investigação e Biblioteca Nhô Damásio e o Centro de Formação Nhô Griga.

Ou seja, cada espaço é uma homenagem ao núcleo fundador do CNA e aos mestres artesãos de Cabo Verde. “Não se pode querer fazer o contemporâneo, o novo, sem se respeitar e valorizar o percurso feito até então, senão ficamos a boiar. Toda a arte tem uma raiz e não cuidar dessa raiz é dar cabo dos ramos e das folhas”, descreve Irlando Ferreira.

“O pensamento é um organismo vivo, vai evoluindo. Tens de ser sincero quando geres um projecto deste género. Quando és sincero na tua actuação, naturalmente vais encontrando caminhos e vais encontrando pessoas que consigam materializar aquela visão. Nós, individualmente, não conseguimos fazer a transformação. Temos que ter a visão, temos que ter a capacidade de fazer com que as pessoas acreditem naquela loucura, naquelas utopias (…) Quando nós desenhámos este projecto, quase ninguém acreditava”, conta o director.

Irlando Ferreira mostra-nos, ainda, o espaço de residência para acolher artistas que aí vão poder trabalhar - e dormir - e, no último andar, o “open space” para o trabalho da equipa do CNAD.

Do ponto de vista simbólico, a própria iniciativa de construir um edifício de raiz “é um passo bastante importante na história de Cabo Verde porque é a primeira vez que se constrói um equipamento cultural de raiz”.

É curioso porque se o CNA, lá atrás, é a primeira instituição cultural de Cabo Verde, logo a seguir à independência, vai repetir na história ser o primeiro equipamento criado de raiz para responder à cultura, sobretudo na dimensão visual”, acrescenta o director.

Graças aos laboratórios de formação de arte, artesanato e design e à criação de lojas nas diferentes ilhas para vender as obras de arte, artesanato e design, o CNAD vai criar um novo modelo de gestão e financiamento cultural que pode ser considerado como “uma revolução, pelo menos, a nível das indústrias criativas e da economia da cultura” em Cabo Verde.

Se precisar de ver para crer, a materialização da “utopia” do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design de Cabo Verde está marcada para finais de Julho, no Mindelo, na ilha de São Vicente.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Ver os demais episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.