Acesso ao principal conteúdo
Convidado

Global Expo: De sala de espectáculos a centro de acolhimento de refugiados

Publicado a:

A Global Expo é um dos maiores centros de acolhimento de refugiados em Varsóvia, na Polónia. A reportagem da RFI foi conhecer esta micro-cidade que, entre Março e Abril, chegou a receber cerca de 4 mil refugiados ucranianos. Hoje são mais de mil. 

Global Expo, centro de acolhimento de refugiados em Varsóvia, na Polónia.
Global Expo, centro de acolhimento de refugiados em Varsóvia, na Polónia. © Neidy Ribeiro
Publicidade

Krzysztof Szczesny, responsável pelo centro, recebe-nos entre reuniões. Confessa que desde que a Global Expo abriu as portas, três dias depois do início do conflito militar, nunca mais pararam.

“O projecto começou três dias depois do início do conflito militar e temos estado a trabalhar com o apoio das autoridades polacas. Começámos com ajuda básica, criando espaços seguros, comida, ajuda médica e depois quando estabilizámos esta situação, aprendemos como gerir um centro de acolhimento porque nesta parte da Europa, na história moderna, nunca tínhamos enfrentado este problema. Aqui não há terramotos, nem tsunamis, por isso tivemos de aprender todas as lições, várias vezes por dia. Tivemos uma enchente de refugiados vindos da Ucrânia, mas, ao mesmo tempo, muitas ONGS dos Estados Unidos e de outros países que nos vieram ajudar”.

De um dia para o outro, o centro concebido para acolher espectáculos e eventos desportivos transformou-se numa micro-cidade, com espaços para dormir, cantinas, lojas de roupa, escolas, infantários, centros de cuidados médicos e até apoio psicológico.

“Tentámos encontrar outro tipo de ajuda como, por exemplo, especialistas capazes de lidar com síndrome pós-traumáticos, ajudando mães solteiras a reconstruírem-se. Entretanto, começámos a criar actividades para ocupar as crianças, depois de termos consultado a Unicef. Estas crianças, neste momento, estão com muito tempo livre e nós quisemos começar a criar rotinas, introduzindo o ensino à distância. Temos também um jardim de infância e tentamos encontrar formas de criar postos de trabalho para os refugiados para que eles se mantenham ocupados, nem que seja por algumas horas por dia. Lançámos o projecto para criação de emprego, mais tarde decidimos avançar com a formação profissional para as mães solteiras”.

Olga tem 35 anos e é voluntária na Global Expo. Fugiu de Ternopil, uma localidade próxima da cidade de Lviv porque sentiu que a Ucrânia deixou de ser um local seguro para criar os seus filhos.

“Cheguei a 26 de Fevereiro. Vim para aqui porque tenho filhos pequenos e não era seguro para eles. Depois disso, procurei um centro de voluntariado onde pudesse dar a minha ajuda. Eu vim para a Global Expo no dia 5 de Março”.

Olga trabalha no departamento de transportes onde é responsável por encaminhar os refugiados que chegam ao centro para os diferentes países de acolhimento.

Trabalho no departamento de transporte, que faz parte da Global Expo. Aqui ajudamos os refugiados a chegarem aos diferentes países da Europa, organizando-lhes essas viagens. Eles escolhem os sítios para onde podem ir, a melhor opção para eles. Depois nós registamos essas escolhas, tratamos dos transportes para que cheguem ao destino final. Além disso, se eles precisarem de alguma informação - para obter assistência do governo, para ir a algum lugar em Varsóvia, por exemplo, para encontrar uma embaixada ou se precisarem de alguns serviços médicos nós ajudamo-los. Ajudamos a chamar um táxi, fazemos o percurso, como ir de aqui até lá. Além disso, as pessoas procuram-nos com diferentes perguntas e nós tentamos ajudar a encontrar uma resposta”.

Tamara tem 45 anos e na Ucrânia era professora de inglês. Chegou com a filha Masha à Global Expo há cerca de um mês. Em Kharkiv, ficou o filho mais velho que não pode sair da Ucrânia devido à lei marcial, que obriga os homens com mais de 18 anos a estarem disponíveis para defender o país. 

“Não tinha planeado sair, mas com uma criança não posso ficar num país onde há guerra. Kharkiv estava debaixo de fogo e havia uma linha da frente perto da cidade. Saímos de Kharkiv no primeiro dia. Foi assustador porque os aviões e os helicópteros militares sobrevoavam todos os dias a cidade. Foi assustador, sofri e chorei muito. De alguma forma, foi muito inesperado para nós. Aqui no centro [Global Expo] as condições não são más. Temos um espaço para dormir e comida que é muito boa. Temos absolutamente tudo aqui, incluindo produtos de higiene. Há médicos, espaços de entretenimento para as crianças. Além disso, conheci vários polacos, que moram em Varsóvia e que nos convidam para passear. Enquanto esperamos”.

No centro, para muitos, os dias são de espera. É o caso de Tamara que aguarda um visto para ir viver para a região do Quebec, no Canadá.

“Quando a guerra começou, anunciaram muitos países diferentes para onde poderíamos ir. Ouvi falar do programa CUAET - este é um visto simplificado para os ucranianos irem para o Canadá e achei que era possível. Eu já conheço pessoas no país também e já sei que com o meu diploma posso trabalhar como professora. Terei de fazer um exame para poder exercer a minha profissão”

Em Varsóvia, a Global Expo é um dos poucos centros que ainda tem espaço para acolher refugiados. Krzysztof explica que a permanência dos refugiados varia de acordo com as necessidades de cada um. 

“Nós temos pessoas que chegam por um curto período de tempo e outras que precisam de mais tempo para assentar e decidirem o que querem fazer. Por exemplo, neste momento, temos mais de mil telemóveis conectados à internet para procurarem informações sobre as diferentes comunidades nos diferentes países, como a França. Estão à procura de emprego. Cada pessoa é uma história diferente. Há pessoas que precisam de mais tempo e há outras que ficam apenas por uma noite. Estamos a precisar de ajuda financeira para pagar as despesas que temos no centro de refugiados. Precisamos de pagar as contas de electricidade, internet e água. Há uma necessidade urgente de todo o tipo de ajuda ”. 

As ajudas continuam a chegar de todo o lado. Osvaldo vive em Varsóvia e começou a fazer voluntariado desde o início do conflito na Ucrânia. Conta que na primeira viagem que fez a Lviv criou uma rede de contactos e, desde então, sente que tem a missão de ajudar os ucranianos.

“Na minha primeira viagem a Lviv criei uma rede de contactos e até ao dia de hoje já fui lá umas dez vezes, mas também fui a Kiev e Boucha. Cada vez que fazia a viagem, a minha ajuda humanitária era mais especializada. No início era comida e roupa, depois cheguei a levar insulina, adrenalina, medicamentos para o exército, equipamento para os militares, nunca armas. Levei coletes anti-balas, cintos para colocar armas. A primeira viagem foi a mais stressante. Nos arredores de Kiev, cheguei a estar a cerca de 20 km das tropas russas, mas nunca tive receio. Sentia que tinha uma missão”

De acordo com as Nações Unidas, a invasão russa da Ucrânia, no passado dia 26 de Fevereiro, já provocou a morte de cinco mil civis e fez mais de 8 milhões de deslocados. No entanto, a ONU indicou que pelo menos três milhões já regressaram ao país. 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Ver os demais episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.