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Guerra na Ucrânia: "Tínhamos tudo e agora não temos nada"

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Inna, Evguénia e Larissa são o rosto de uma Ucrânia que vive hoje o centésimo trigésimo primeiro dia de guerra. Inna e Efguenia, mãe e filha, passaram dois meses escondidas numa cave em Maripol. Larissa vem de Kharkiv e recusa falar do que viu. As três mulheres conseguiram fugir ilesas aos bombardeamentos. Na Polónia procuram ajuda para viajar até à Alemanha e começar, quem sabe, uma nova vida. Para trás deixaram a família, os amigos e cidades em ruínas.

Balcão de informações da estação de comboios de Varsóvia, na Polónia.
Balcão de informações da estação de comboios de Varsóvia, na Polónia. © Neidy Ribeiro
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Inna, Evguénia e Larissa são o rosto de uma Ucrânia que vive esta segunda-feira, 4 de Julho, mais um dia de guerra. Encontramos as três mulheres junto ao balcão de informações da estação central de comboios de Varsóvia, semblante carregado e olhar perdido, acabam de chegar à capital polaca.

Inna e Efguenia, mãe e filha, fugiram aos bombardeamentos que destruíram Maripol. A cidade portuária, situada no Mar de Azov, esteve cercada durante mais de um mês pelo exército russo. De acordo com as autoridades locais morreram mais de 20 mil pessoas. Inna conta que passaram dois meses escondidas numa cave, até ao dia em que a ajuda chegou.

“Passamos dois meses numa cave e depois começamos a sair para ir buscar água e procurar ajuda humanitária. Não tivemos escolha, tivemos de ficar na cave à espera. A nossa cidade já não existe, ela foi praticamente bombardeada. Os apartamentos foram devorados pelas chamas. O apartamento da minha mãe foi bombardeado e o nosso está em ruínas”.

Larissa vem de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia. Quando lhe perguntamos como conseguiu sair da região recusa, com a voz embargada, falar do que viu. Diz apenas que foi graças aos corredores humanitários que escapou do inferno, uma viagem que durou mais de quatro dias.

Lina, Efguenia e Larissa conheceram-se na fronteira ucraniana com a Polónia e desde então nunca mais se separaram. Hoje vieram procurar ajuda para chegar até à Alemanha.

“Viemos à procura de alguém que nos possa ajudar. Nós não sabemos o que devemos fazer”, explica Evguénia.

Rute é voluntária na estação central de comboios de Varsóvia. Em Março chegou a passar 12 horas no balcão de informações, agora vai menos vezes.

"No princípio vinha todos os dias, passava aqui 12 horas ou mais. Agora como já não há tanta necessidade venho três horas por dia, às vezes oito no máximo. Neste momento o nosso trabalho é praticamente informação. Antes organizávamos o transporte de refugiados para Varsóvia, para o estrangeiro e também os sítios onde eles podiam dormir. As coisas estavam a correr muito bem, mas depois a pessoa responsável pela [estação] central decidiu mudar e agora já não podemos organizar os transportes, nem as dormidas para os refugiados. A verdade é que também já não temos lugar para eles dormirem. Neste momento, estamos a ajudá-los, por exemplo, quando eles vão para a Alemanha. Sabemos que quando eles compram bilhete até à última estação da Polónia na fronteira eles pagam menos do que pagam se comprarem até Berlim. Por vezes, tentamos também comprar os bilhetes", detalha.

A Polónia já recebeu mais de três milhões de refugiados, o país encontra-se sobrelotado e muitas vezes sem capacidade para dar resposta aos ucranianos que continuam a fugir do conflito.

“Não estávamos à espera disto. Não tivemos sequer transporte para ir até à estação. Porque é que a Europa acolhe os ucranianos do oeste? Lá não há guerra. Essas pessoas foram para a Europa, mas estão a alugar os apartamentos às pessoas do sudoeste e nós não conseguimos ir para lado nenhum", questiona.

A guerra na Ucrânia já fez mais de oito milhões de refugiados. Moscovo afirma que esta ofensiva pretende libertar a Ucrânia da opressão. Inna rejeita os argumentos, sublinhando que não pediu ajuda a ninguém

"Eles libertaram-nos de tudo. Dos nossos amigos, da nossa casa, do nosso dinheiro. Com esta guerra a Rússia assinou a sua própria sentença. Mesmo se havia pessoas que amavam a Rússia hoje estão todos contra. Porque é que eu lhes devia agradecer, eu vivia muito bem, tínhamos tudo e agora não temos nada", concluiu.

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