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Timor-Leste celebra 20 anos da Restauração da Independência

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20 de Maio de 2002. Há 20 anos, Timor-Leste tornava-se uma nação independente, depois de duas décadas de ocupação indonésia, que se sucederam à colonização portuguesa.

Fotografia tirada a 30 de Agosto de 1999, dia do referendo sobre a independência.
Fotografia tirada a 30 de Agosto de 1999, dia do referendo sobre a independência. WEDA / FILES AFP / AFP
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Ana Gomes, que foi embaixadora em Jacarta, capital da Indonésia, entre 1999 e 2003, assinala os progressos conseguidos pelo país após a conquista da liberdade.

"A primeira vez que eu fui a Timor-Leste, em 1999, via-se nos olhos de todas as pessoas que era um povo que vivia franzido de medo, não obstante, a extraordinária coragem que tiveram na luta da resistência e que foi o que fez a diferença toda, depois, através do processo de referendo, conduzido pela ONU, para conseguirem a liberdade e a independência", começou por explicar, recordando depois o contexto do país na altura.

Actualmente, o país está electrificado. Não existe nenhum distrito do país que não tenha eletricidade, algo que "nunca aconteceu na história". Na altura da independência, o país tinha apenas um médico timorense. Nos dias de hoje, existem mais de 1000, dados invocados por Ana Gomes para explicar "as diferenças que estes 20 anos já fizeram".

Progressos que foram conquistados depois de um difícil processo de luta. António Ramos fez parte da organização da Resistência Nacional dos Estudantes de Timor-Leste e relembra o esforço feito para colocar a questão da independência sob os olhares do mundo, aproveitando uma visita de Bill Clinton, Presidente norte-americano da altura.

"Integrei o movimento estudantil, concretamente a Organização da Resistência Nacional dos Estudantes de Timor-Leste que reunia todos os estudantes timorenses pela luta pela independência", referiu, ao microfone da RFI.

Um dos episódios que mais marcou a resistência estudantil prende-se com um episódio em que 29 estudantes invadiram a embaixada dos Estados Unidos da América, em 1994, para voltarem a colocar a questão de Timor nos meios de comunicação sociais internacionais.

"Na altura, decorreu na capital indonésia, em 1994, uma cimeira dos países Ásia-Pacífico que contou com a presença do presidente norte-americano, Presidente Bill Clinton. Nós fizemos essa manifestação e saltámos lá para dentro, tendo ficado na embaixada praticamente duas semenas", recordou.

Ao recordar este período, António Ramos sente uma verdadeira mistura de sentimentos.

"Em primeiro lugar, orgulho, embora tenha sido uma participação curta, mas significativa e que teve um contributo muito grande para a internacionalização das questões de Timor", acrescentou.

Por outro lado, estas "batalhas" pela independência são parte de um "processo que causou muito sofrimento do povo timorense. Faz parte da luta. As guerras para a independência. A conquista implica sofrimento e danos materiais e humanos".

"Como cidadão, que no passado se envolveu no processo, o meu sentimento e de todos os que participaram é que o sonho dos heróis, o que sonhamos, temos de passar à prática. Esperamos que com estes 20 anos, possamos recordar o valor da luta para a implementar na nossa responsabilidade como cidadãos para o desenvolvimento do país", disse ainda.

A antiga potência colonizadora, Portugal, teve um importante papel na autodeterminação dos timorenses, desde logo através do referendo, que juntamente com as Nações Unidas, conseguiu negociar com a Indonésia, consulta popular que levou à independência. Também a comunidade portuguesa em França não ficou indiferente à causa timorense, conforme recorda Carlos Semedo, Presidente da Associação França-Timor.

"A primeira componente do apoio da diáspora à causa timorense foram jovens lusodescendentes, associações de estudantes lusófonos nas diversas universidades. Uma associação que se chama Cap Magellan, em Paris, organizou fóruns e recebeu aqui dirigentes que estavam no exílio, como foi o exemplo de José Ramos-Horta, isto em ligação a uma das associações que fui um dos fundadores, a associação Agir Por Timor, que existiu até ao referendo", começou por evidenciar, em entrevista à RFI.

Outro aspecto do apoio comunitário residia nas associações. "Criámos na Coordenação das Colectividades Portuguesas de França, um centro de documentação de Timor-Leste que era animado pela Agir Por Timor", salientou também.

Os professores de língua portuguesa que ensinavam nas associações ou os departamentos de língua portuguesa nas Universidades também foram fulcrais durante todo o processo.

"Isto levou a que tenha havido em França um número muito importante de pessoas tocadas pela questão de Timor, muito mais do que noutros países na Europa, excepto Portugal, mas de uma maneira impressionante", relembrou.

Carlos Semedo salientou ainda que, em geral, "os movimentos de solidariedade nos outros países eram levados a cabo por activistas, militantes da solidariedade internacional, gente muito politizada, alguns intelectuais. Em França foi uma coisa completamente popular e partilhada".

Carlos Semedo chamou à atenção ainda para os jornalistas portugueses que trabalhavam em França e que divulgavam tudo o que estava a acontecer em Timor-Leste.

"Houve jornalistas aqui que sempre deram prioridade à questão de Timor no tratamento da informação", reiterou.

Também em Paris, houve uma grande mobilização em torno da causa timorense e realizaram-se várias manifestações que pediam a atribuição da independência ao país.

Apesar dos progressos já feitos, Ana Gomes, profundamente conhecedora da realidade timorense, não deixa de apontar o que ainda há para aperfeiçoar.

"O grande desafio que há agora é o desenvolvimento e é um desenvolvimento que crie empregos para a juventude de Timor-Leste, que é um país muito jovem, o que é um grande activo, mas que precisa de ter qualificação, educação e empregos", enumerou.

Depois, relembrou que actualmente Timor-Leste vive, sobretudo, dos recursos do petróleo, na base dos acordos que fez com a Austrália. Apesar disso, Ana Gomes considera que "não é bom para nenhum país ficar dependente exclusivamente do petroléo e, portanto, um dos grandes desafios que tem neste momento é a diversifcação da economia".

Nos próximos 5 anos, José Ramos Horta assume a liderança do país e terá pela frente um desafio de "transição geracional", de acordo com a ex-embaixadora portuguesa na Indonésia.

As celebrações dos 20 anos de independência de Timor, que englobaram também a tomada de posse de Ramos-Horta como 5° Presidente da República, continuam esta sexta-feira. Nas comemorações participam delegações de vários países.

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