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Chile: Extrema-direita vence primeira volta das presidenciais

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No Chile desenha-se uma segunda volta polarizada, depois de o candidato de extrema-direita, José António Kast, ter ultrapassado, com 27,95% dos votos, o candidato de esquerda, Gabriel Boric, que arrecadou 25,71%. Ana Figueiredo, docente universitária e investigadora em psicologia política, na capital chilena, refere que este resultado não era expectável e mostra um país profundamente fracturado. 

No Chile desenha-se uma segunda volta polarizada, depois de o candidato de extrema direita, José António Kast, ter obtido 27,95% dos votos e ultrapassado o candidato de esquerda, Gabriel Boric, que somou 25,71%.
No Chile desenha-se uma segunda volta polarizada, depois de o candidato de extrema direita, José António Kast, ter obtido 27,95% dos votos e ultrapassado o candidato de esquerda, Gabriel Boric, que somou 25,71%. © AP Photo/Esteban Felix
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"Não era uma votação esperada. As pessoas acreditavam que Boric ia ganhar sobretudo porque, durante o dia, os resultados que iam chegando do estrangeiro davam vantagem, com uma maioria muito forte, ao candidato Gabriel Boric. (...) Creio que havia muita confiança de que Kast não passasse à segunda volta. Passar à segunda volta em primeiro lugar é mostrar um país de direita, muito mais de direita do que o próprio país acredita".

Neto de um oficial nazi e filho de um ministro da ditadura, Miguel Kast, um dos denominados Chicago Boys, que impôs o modelo ultraliberal no país, José Antonio Kast, 55 anos, obteve 27,95% dos votos na primeira volta e surge como favorito. A investigadora reconhece que o programa político do candidato de extrema-direita representa um retrocesso enorme para o Chile.

"Ele quer eliminar leis de protecção das dissidências sexuais, leis de protecção dos animais e tem uma proposta de fazer listas de perseguição política contra activistas de esquerda. Ele não fala de direita, fala de um governo autoritário, fala do seu general. Ele quer dar imunidade a todos os que foram condenados por crimes de lesa-humanidade durante a ditadura. É anti-imigração, quer construir valas junto à fronteira para impedir a entrada de imigrantes no país, quer dar mais direitos às forças de ordem e às forças armadas. No Chile temos o ministério da Mulher e dos Direitos, ele já disse que vai abolir esse ministério. Vai abolir a lei do aborto, impulsionado pelo governo de Michel Bachelet, que é o aborto em três causas: violação; risco de vida para a mulher; ou inviabilidade do feto. É um retrocesso enorme", detalhou.

O seu principal adversário é o candidato de esquerda, próximo do partido socialista, que arrecadou 25,71%. Gabriel Boric, 35 anos, que ficou conhecido durante o movimento estudantil nos protestos de 2009 e 2011, promete um Chile mais inclusivo com a instauração dos direitos sociais. Ana Figueiredo admite que o projecto político de Gabriel Boric pode ficar pelo caminho.

"Historicamente no Chile quem ganha à primeira volta, ganha na segunda volta. Ontem os candidatos de direita/centro direita disseram que não vão apoiar Boric vão negociar com Kast. Gabriel Boric é muito jovem, foi líder estudantil e chegou a deputado. Boric enquanto foi deputado teve problemas de saúde mental, teve uma baixa psiquiátrica e isso tudo foi usado contra ele", explicou. 

Nesta eleição está também em jogo o futuro da Assembleia Constituinte que está a redigir a nova Constituição chilena, devendo ser submetida a referendo em 2023. A esquerda que apoia Boric é a mesma que tem maioria na Assembleia, enquanto que a extrema-direita de Kast é conivente com os crimes da ditadura.

Este domingo os chilenos não votaram apenas nas eleições presidenciais, houve eleições para o parlamento, senado e para governadores regionais. Ana Figueiredo reconhece que não há consistência de voto, lembrando que "a pessoa mais votada no senado é uma das vítimas das manifestações que ficou cega, devido à actuação da polícia, e do outro lado surge Kast”.

Outra surpresa destas eleições foi o candidato que chegou em terceiro lugar, Franco Parisi, que obteve 12,8%. Franco Parisi conduziu uma campanha a partir dos Estados Unidos , sem nunca colocar os pés no Chile. A docente universitária diz que os eleitores de Parisi poderão determinar o desfecho da segunda volta

"Ninguém tem muita informação sobre o programa dele, mas os votantes de Franco Parisi podem decidir a segunda volta. Franco Parisi é anti-imigração, mas nunca deu sinais de anti-narcotráfico. Um tema muito sensível no Chile. É muito difícil saber qual será o passo dele na segunda volta, pois por um lado a agenda anti-imigração dá força a Kast, no entanto algumas das suas promessas eleitorais aproximam-se mais da esquerda”, admite 

No próximo dia 19 de Dezembro, José António Kast e Gabriel Bric, defrontam-se na segunda volta. Os chilenos devem escolher entre o regresso aos ideais de Augusto Pinochet ou a recuperação dos valores de Salvador Allende. 

"Eu creio que o Chile está a entrar numa situação tão divisória como essa. Se ganha Kast reafirma-se tudo o que é o seu general, a sua Constituição e mais peso para as forças armadas e forças de ordem. Boric tenta dar um país de direitos, mais social. O Chile não é um país de direitos sociais. Sem dúvida, chega a ser fracturante assim", conclui. 

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