Turquia: Istambul no centro das atenções das eleições autárquicas
Mais de 61 milhões de eleitores turcos são chamados às urnas, este domingo, para as eleições autárquicas. Istambul é o centro de todas as atenções, cinco anos depois de o partido do Presidente Recep Tayyip Erdogan ter perdido a cidade para a oposição. Perto da principal cidade curda, Diyarbakir, foram registados confrontos à margem do escrutínio e morreu uma pessoa, tendo 12 ficado feridas.
Publicado a:
Ouvir - 01:36
Nove meses depois das renhidas eleições presidenciais na Turquia, que solidificaram o controlo quase absoluto que Recep Tayyip Erdogan tem sobre o aparelho de Estado, 61 milhões de turcos votam, este domingo, para elegerem 1400 presidentes de câmara.
A votação ocorre depois de uma campanha morna, menos intensa do que é habitual, porque coincide com o Ramadão, mas também porque o resultado não trará nada de novo - a frente de oposição unida que ambicionava derrotar Erdogan no ano passado desmoronou-se após a derrota eleitoral e apresenta-se hoje fragmentada e dividida, competindo entre si para obter os votos do campo anti-Erdogan.
Concorrem a estas eleições 34 partidos políticos. A principal dúvida é se a oposição, que em 2019, na única meia vitória nos últimos 20 anos, venceu na capital, Ancara, e em Istambul, a maior metrópole turca, consegue manter essas duas cidades. O mais provável é que Mansur Yavas, o presidente da câmara de Ancara, da oposição, renove o mandato. Já a reeleição de Ekrem Imamoglu, da esquerda republicana e laica em Istambul, que concorre contra Murat Kurum, um ex-ministro de Erdogan, está mais renhida.
Em 2019, o AKP, partido conservador islâmico do Presidente Erdogan - que governa a Turquia com maioria absoluta desde 2003 – perdeu a cidade de Istambul para a oposição social-democrata do Partido Republicano Popular (CHP). A vitória de Ekrem Imamoglu foi, então, um grande revés para Recep Tayyip Erdogan.
Recep Tayyip Erdogan ambiciona recuperar Istambul porque sabe que a maior cidade turca, com 16 milhões de habitantes, é um trampolim para a política nacional e uma reeleição de Imamoglu poderá dar uma nova vida à oposição e catapultá-lo para a Presidência em 2028. O próprio Erdogan começou a sua carreira política como presidente da camara de Istanbul, nos anos 90, e construiu desde aí o seu aparelho político. A cidade é o motor financeiro, social e cultural da Turquia.
Nas últimas autárquicas, o AKP ganhou 740 municípios contra 240 para o CHP.
As eleições decorrem num contexto de uma grave crise económica, com uma acentuada perda do poder de compra da maioria dos cidadãos, sobretudo reformados. A inflação é de 70%.
As urnas fecham as 17h locais (14h GMT) e os resultados serão conhecidos ainda esta noite.
Tensão no sudeste do país
Esta manhã, houve confrontos numa aldeia a 30 quilómetros da cidade curda de Diyarbakir, no sudeste. Fonte do ministério da Saúde confirmou à agência France Presse a morte de uma pessoa e ferimentos em 12.
Recorde-se que no sudeste do país, 59 dos 65 presidentes da câmara que o partido curdo conseguiu eleger em 2019 foram afastados e substituídos nos últimos quatro anos pelo Governo de Erdogan. Os autarcas foram acusados de associação ao grupo terrorista separatista curdo PKK, Partido dos Trabalhadores do Curdistão. O partido curdo concorre agora com um novo nome.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro