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Os últimos Jogos Olímpicos do ucraniano Jean Beleniuk

Jean Beleniuk conquistou o bronze no Campeonato Europeu de Luta de 2024. Foi a primeira competição desse nível para o atleta em três anos, com os Jogos Olímpicos de Verão em Paris na linha de mira. Jean Beleniuk é contra o boicote das competições em que atletas russos "neutros" participam, uma vez que segundo o atleta ucraniano “devemos usar os JO 2024 para promover o discurso pró-ucraniano e dizer a verdade sobre o que está a acontecer no nosso país.”

Jean Beleniuk, atleta ucraniano.
Jean Beleniuk, atleta ucraniano. © Sviat Vietrov
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Por: Olexandra Stara da redacção em ucraniano

Tradução: Cristiana Soares

Jean Beleniuk é lutador greco-romano e político ucraniano. Em 2019, tornou-se o primeiro membro negro do Parlamento ucraniano.

Nasceu em 1991 em Kiev, filho de pai ruandês e mãe ucraniana. O pai, piloto de aviação morreu durante o genocídio contra os Tutsis no Ruanda, quando Beleniuk tinha apenas três anos de idade.

Começou a lutar em 2000, tinha nove anos de idade e em 2010 ganhou a medalha de prata no Campeonato Mundial Júnior. Em 2011, tornou-se campeão europeu júnior e conquistou o bronze no Campeonato Mundial. Em 2015 consagra-se campeão mundial de Luta Livre na categoria até 85 kg. Um ano depois, conquistou o ouro no Campeonato Europeu de Luta Livre e a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Verão no Rio de Janeiro. Em 2021, conquistou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020 em Tóquio.

Na política, Beleniuk foi eleito deputado na Verkhovna Rada nas eleições legislativas ucranianas de Julho de 2019 como membro do partido político Servo do Povo. 

Jean Beleniuk conquistou o bronze no campeonato europeu de luta de 2024. Foi a primeira competição desse nível para o atleta em três anos, com os Jogos Olímpicos de Verão em Paris no horizonte. Segundo o Beleniuk, esta será a última prova da sua carreira. 

Em entrevista à RFI, Jean Beleniuk explica o que o motiva a treinar e o porquê de não defender o boicote das competições em que atletas russos "neutros" participam.

Antes do Campeonato Europeu de Luta de 2024 disse que esta competição seria um teste do seu estado actual. Já conseguiu avaliar as suas forças e fraquezas?

No geral, estou satisfeito com o torneio. Sim, pôs em evidência alguns problemas em que preciso de trabalhar. Ainda há tempo antes dos Jogos Olímpicos e vamos usar este período o mais eficazmente possível para melhorar as minhas fraquezas. E é bom, também, que tenhamos compreendido as forças e fraquezas dos nossos adversários.

Esta é a preparação para os seus terceiros JO, mas a primeira no contexto da guerra na Ucrânia. Como está a decorrer e em que é que difere das anteriores?

Difere, principalmente, pelo contexto em que ocorre. Claro, durante o próprio treino, estou distraído do que está ao meu redor, excepto quando mísseis passam sobre a nossa cabeça. Então aí é preciso ir para o abrigo. 

Quando termina o treino, mergulha-se novamente nesta rotina dos ataques aéreos, do estado moral e psicológico dos atletas e treinadores que trabalham nestas condições. 

É difícil, mas ainda assim, temos que trabalhar e, aconteça o que acontecer, tentar implementar os nossos planos e alcançar os objectivos que foram estabelecidos.

O Comité Olímpico Internacional autorizou os atletas russos e bielorrussos a participarem nos Jogos sob bandeiras neutras. Esta decisão provocou a ira de muitos ucranianos. Alguns disseram que deveriam boicotar os Jogos Olímpicos. Porque é que é contra o boicote?

Devemos usar a plataforma para promover o discurso pró-ucraniano e dizer a verdade sobre o que está a acontecer no nosso país. Para não desviar a atenção da Ucrânia. Caso contrário, se nos afastarmos, retiramo-nos e permitimos que um pequeno número de atletas, supostamente neutros, esteja presente e diga que não entendem de todo por que estão sujeitos a tais sanções e que o seu desejo é simplesmente praticar desporto e serem bem-sucedidos. 

Em geral, o desporto deve estar fora da política... Acho que devemos estar nos JO para os interpelar e explicar-lhes em que contexto estamos, como estamos a treinar. É por isso que penso que devemos ir.

Porque é que a Ucrânia não foi capaz de formar uma coligação de países aliados dispostos a boicotar a participação de atletas russos e bielorrussos nos próximos Jogos Olímpicos?

Escolhemos uma estratégia semelhante no início, mas percebemos que não era eficaz. Infelizmente, muitas pessoas apoiaram-nos verbalmente e expressaram solidariedade, porém na prática, nenhum desses países solidários connosco ao nível do Comité Internacional anunciou a possibilidade de seus atletas boicotarem em solidariedade com a Ucrânia.

Não ouvi nenhuma declaração desse tipo por parte do órgão representativo desses países. E o facto de não ter havido uma declaração oficial era apenas o reflexo dos seus próprios sentimentos e simpatia por nós. Portanto, a Ucrânia afastou-se da prática de participar em competições internacionais em que participavam atletas russos e bielorrussos.

Durante quase seis meses, não participamos nessas competições. Após a actualização das recomendações da comissão, anunciada em Abril do ano passado, os atletas ucranianos não competiram até Julho e não participaram em competições onde estiveram presentes russos. 

Isso é completamente negativo, porque, em primeiro lugar, durante o ano pré-olímpico, as competições permitem que os atletas ucranianos se preparem. Em segundo lugar, isso não mostra nenhuma eficácia. 

Por outras palavras, não fomos capazes de reunir em torno de nós países que nos apoiassem nesta política.

Também houve momentos de incompreensão do decreto do Ministério da Juventude e do Desporto, que diz respeito apenas aos atletas das equipas nacionais regulares da Ucrânia. Os atletas profissionais não são abrangidos. Eles podem participar ou não em certos torneios, mediante a sua vontade. Vemos que os atletas profissionais participam em torneios e, na verdade, todos os apoiam, mesmo quando perdem. De qualquer forma, o desporto deve continuar a viver.

Jean Beleniuk, atleta ucraniano.
Jean Beleniuk, atleta ucraniano. © Sviat Vietrov
Escreveu nas redes sociais que sentia ter "provado tudo a todos há muito tempo" e que o seu desejo de continuar a competir não era tão forte como costumava ser. O que o motivou a participar nos próximos Jogos Olímpicos?

Sabe, acontece que participei nos campeonatos do mundo no ano passado, onde obtive uma licença olímpica. Que situação me motiva a treinar? Temos que representar dignamente o nosso país nestas competições. Nesta situação actual a Ucrânia precisa de vitórias, incluindo diplomáticas e em várias frentes.

O desporto deve ser utilizado como uma plataforma para vitórias diplomáticas. Para promover a agenda pró-ucraniana, os atletas devem dar entrevistas. Muitos atletas falam fluentemente inglês e estarão envolvidos numa série de acções de comunicação na aldeia olímpica e nas competições anteriores aos Jogos Olímpicos. Deve ser feito um uso inteligente disso em prol do nosso país.

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