França cancela presença em cerimônia para lembrar genocídio em Ruanda

O governo francês decidiu cancelar a participação na cerimônia dos 20 anos do genocídio em Ruanda, após as acusações do presidente Paul Kagame de que a França participou do massacre. O anúncio oficial foi feito neste sábado (5), pelo ministério das Relações Exteriores, em Paris.

Treinamento de milícias hutus, em julho de 1994, em Butare, Ruanda. AFP / HOCINE ZAOURAR

O presidente ruandês acusou novamente a França de ter participado do genocídio que matou 800 mil pessoas da etnia tutsi por extremistas hutus, em apenas três meses, em 1994. Uma entrevista com o depoimento será publicada domingo na revista Jeune Afrique (Jovem África), na véspera das cerimônias em ocasião do aniversário de 20 anos dos massacres, que acontece em Kigali.

Ao falar sobre a questão das responsabilidades, o presidente ruandês denunciou "o papel direto de Bélgica e França na preparação política do genocídio" e "a participação desta última em sua execução". Kagame acusou os soldados franceses da operação militar humanitária Turquesa, mobilizados em junho de 1994 no sul do país, de terem sido não só "cúmplices", como também "atores" dos massacres.

A reação do governo francês não tardou. A presidência francesa indicou à AFP que essas declarações "não contribuem com o apaziguamento" e cancelou a participação do país nas cerimônias que marcam o 20º aniversário do massacre, em Kigali.

Essas acusações já tinham sido formuladas pelo governo de Kigali em agosto de 2008, durante a divulgação do relatório da comissão de investigação ruandesa sobre o suposto papel da França no genocídio. Um relatório evocou o caso do povoado de Bisesero (oeste), para onde cerca de 50.000 tutsis fugiram, acusando o exército francês "de ter atrasado deliberadamente o resgate de cerca de 2.000 sobreviventes para que os assassinos tivessem tempo de matá-los".