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Mali

Minusma retira-se do Mali em contexto de tensões no norte do país

A missão da ONU, Minusma, presente no Mali desde 2013 está actualmente a retirar-se do país, a pedido da junta militar que tomou o poder em 2020. A evacuação das bases militares do norte do pais, recuperadas pelo exército governamental, acontece num contexto de crescente ameaça terrorista e faz temer possíveis conflitos com os rebeldes tuaregues. 

Veículo da Minusma nas ruas de Tombuctu, no dia 9 de Dezembro de 2021.
Veículo da Minusma nas ruas de Tombuctu, no dia 9 de Dezembro de 2021. © Florent Vergnes / AFP
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Duas bases militares na região de Tombuctu, no norte do Mali, foram evacuadas a 17 de Agosto pelos militares da ONU e transferidas oficialmente aos militares do Mali. A decisão da retirada foi aprovada em Junho, no Conselho de Segurança da ONU, a pedido da junta militar no poder. 

A devolução formal [das bases] ao Estado do Mali simboliza o fim da presença da Minusma nas áreas em questão e das responsabilidades que lhe cabiam até agora”, explicou em comunicado a missão das Nações Unidas, tendo justificado esta retirada com “a deterioração da segurança" na região.

Um primeiro campo já tinha sido evacuado e o plano de retirada total terminará a 31 de Dezembro de 2023, com cerca de 13.300 soldados e polícias de uma dezena de nacionalidades a deixarem 13 bases militares deste país do Sahel. Até ao final do mês, a Minusma espera ainda deixar a base de Ménaka, no nordeste do Mali, numa operação que vai assinalar o fim da primeira fase de retirada. 

Tensões entre militares, grupos terroristas e antiga rebelião Tuaregue 

Esta zona do Mali conta com uma forte presença de grupos extremistas e o nível de insegurança é considerado elevado. Para além destas ameaças, outra problemática prende-se com as tensões entre o exército e a rebelião tuaregue que controla várias áreas nessa região.

A 13 de Agosto, a Minusma decidiu antecipar, por razões de segurança, a retirada da base de Ber, no norte. Nessa mesma retirada antecipada, quatro capacetes azuis da ONU ficaram feridos num ataque reivindicado pelo Grupo de Apoio para o Islão e os Muçulmanos (GSIM), ligado à Al-Qaeda.  

O exército maliano afirmou ter recuperado a base de Ber "depois de vários incidentes" com os grupos "terroristas" e apesar das ambições locais da Coordenação de Movimentos de Azawad (CMA), a antiga rebelião tuaregue. 

Na rede social X (antigamente Twitter), um responsável tuaregue da CMA, Attaye Ag Mohamed, escreveu que a Minusma deveria "simplesmente partir (de Ber) e não ceder" o campo militar a uma outra entidade. Num comunicado transmitido à agência France-Presse, Attaye Mohamed escreveu ainda que o exército maliano "pretende, custe o que custar, ocupar as bases da Minusma, incluindo aquelas situadas nas zonas sob o controlo da CMA". A antiga rebelião Tuaregue controla várias áreas no norte do país.  

A CMA critica os militares por terem criado uma nova Constituição, aprovada em Junho, que segundo eles compromete o acordo de paz de Argel de 2015. Nas últimas semanas, aos Tuaregues da CMA afirmam que a área de Ber foi palco de tensões envolvendo as suas forças contra o exército maliano juntamente com os seus aliados do grupo paramilitar russo Wagner.

Sucessão de presenças estrangeiras 

Já em 2022, depois de 9 anos de presença no Mali, a antiga operação francesa Barkhane deixou o país, também a pedido da junta militar que invocou a ineficácia desta força na luta contra o terrorismo. Esta retirada aconteceu num contexto tenso, com a França e os Estados Unidos a criticarem o recurso da junta militar ao grupo russo de segurança Wagner.

Segundo dados divulgados num relatório publicado no dia 2 de Agosto de 2023 pela ACLED, uma organização que monitoriza dados sobre conflitos armados, actualmente o país contabiliza 1.600 efectivos da Wagner que foram chegando desde o ano passado. Ainda de acordo com a mesma organização, em 2022, o Estado Islâmico matou 688 civis, ou seja, oito vezes mais do que a média destes últimos quatro anos. 

Ainda segundo a ACLED, desde a chegada dos primeiros elementos da Wagner no início de 2022, mais de 3.000 civis foram mortos e as actividades jihadistas intensificaram-se. 

A ACLED refere em particular que das 294 ofensivas efectuadas desde a sua chegada pelos mercenários da Wagner em conjunto com as forças governamentais no Mali, 152 atingiram populações civis matando 950 pessoas, sendo que praticamente metade das baixas se deram durante o ataque de Moura em Março de 2022

Refira-se também que o grupo Wagner tem sido posto em causa pela ONU em múltiplos casos de abusos, apesar de o objectivo declarado da sua presença no país ser, de acordo com a junta militar, o de lutar contra o terrorismo. Um apoio que, segundo os exércitos norte-americano e francês é facturado 10 milhões de Dólares mensais.

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