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Sudão

Sudão: confrontos sangrentos entre militares e paramilitares na capital

Confrontos sangrentos eclodiram neste sábado em Cartum, capital do Sudão, entre o exército regular (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF). Este acontecimento ocorre num momento delicado, marcado por fortes tensões entre as facções militares a respeito da proposta de transição para um governo civil. Há relatos de mortes de ambos os lados.

Confrontos sangrentos eclodiram neste sábado em Cartum, capital do Sudão, entre o exército regular (SAF) e as Forças de Apoio Rápito (RSF).
Confrontos sangrentos eclodiram neste sábado em Cartum, capital do Sudão, entre o exército regular (SAF) e as Forças de Apoio Rápito (RSF). AFP - -
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Desde a manhã de sábado os sudaneses foram surpresos durante o fogo cruzado. Cartoum, a capital sudanesa, voltou a ser o teatro de confrontos entre o exército regular liderado pelo General al-Burhan e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares de Mohammed Hamdan Dagalo, conhecido como "Hemedti".

“Hemedti” é o chefe do Conselho Soberano do Sudão, uma junta cívico-militar criada para guiar os destinos do Sudão por um período de 38 meses desde 20 de Agosto de 2019, meses após o golpe de Estado que removeu o então presidente Omar al-Bashir. Do outro lado, o General al-Burhan, que liderou o golpe de estado contra o anterior mandatário ao lado do General Dagalo, conta com a lealdade do exército regular. Os dois generais presidem o país conjuntamente para evitar conflitos de maior monta entre as diversas facções dentro das forças armadas.

Em causa estariam discórdias em torno da proposta de transição para um governo civil, que vem cristalizando a aparente aliança entre facções. Incapazes de se reconciliar, os dois líderes preferiram o confronto físico.

De acordo com vários relatos, também eclodiram confrontos no norte do país, em Meroe, numa base militar. Foi em torno desta base militar que os paramilitares se posicionaram na manhã de quinta-feira, aumentando as tensões entre os dois exércitos rivais. Uma declaração divulgada pela tarde de quinta-feira acusava o exército regular de atacar as suas bases em Cartum. O exército regular respondeu às acusações, com um porta-voz dizendo que a RSF tinha tentado assumir o comando geral das forças armadas.

No entanto ambos os lados reclamam ter tomado o controlo de locais estratégicos. A RSF anunciou mais cedo que tinham tomado o controlo do palácio presidencial e do aeroporto internacional de Cartum. Entretanto, Meroe foi retomada pelo exército regular horas depois.

Enquanto ambas as forças acusam o outro lado de ter começado os atritos, este confronto está a ser acompanhado por uma escalada retórica, que segundo diversos especialistas, pode ser o prelúdio de uma guerra civil caso nenhuma das partes cesse as hostilidades e reconheça a autoridade de uma das facções.

De acordo com Rashid Abdi, um dos principais analistas da região, os paramilitares conseguiram assumir o controlo de boa parte de Cartum, controlando o palácio presidencial, o aeroporto internacional, e a base aérea de Jabal Awliyaa. Hemedti falou à Al-Jazeera e afirmou que o general Burhan desencadou este conflito, e como consequência, será detido.

Desde um ponto de vista internacional, o exército regular sudanês é apoiado pelo Egipto, pela Turquia, e algumas forças ocidentais. Quanto às forças paramilitares, o General Hemedti mantém laços com a Rússia, a Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos — devido ao envio de combatentes ao Iémen. O posicionamento da China permanece desconhecido até ao momento. 

Além dos disparos, pôde-se observar o uso de meios aéreos por ambos os lados. Outros relatos indicam que as Forças de Apoio Rápido (RSF) caputaram soldados egípcios dentro da base aérea de Meroe.

Reacção internacional: países pedem término das hostilidades

Os comentários por parte de actores internacionais não demoraram em chegar. O enviado especial das Nações Unidas, Volker Perthes, e os embaixadores russo e norte-americano apelaram ao exército e paramilitares cessem imediatamente as hostilidades.

Uma ascensão gradual por parte das forças paramilitares

Estima-se que nos dias de hoje a RSF conte com cerca de 100,000 soldados nas suas fileiras.

O grupo paramilitar começou a ganhar um poder considerável por volta dos anos 2000, quando prestou serviço ao presidente Omar al-Bashir para acabar com as rebeliões na região de Darfur, a sul do país. Com o passar do tempo, o general Hemdedti ganhou a confiança das principais lideranças do país e desenvolveu as forças paramilitares ampliando o número de bases e controlando zonas estratégicas para o comércio.

Depois de uma lei de 2017 que reconhecia a RSF como uma força legítima, o exército regular começou a desconfiar das pretensões dos paramilitares. Em 2019, o grupo participou ao lado das forças armadas do golpe que removeria o então presidente Omar al-Bashir, no poder há mais de 30 anos.

De acordo com dados preliminares, este conflito causou cerca de 2,5 milhões de pessoas deslocadas, e deixou cerca de 300,000 mortos. Este acontecimento levou o Tribunal Penal Internacional a denunciar o regime por crimes contra a humanidade e genocídio na região de Darfur.

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