Acesso ao principal conteúdo
Sudão

Sudão: acordo para o regresso dos civis ao poder

Os Estados Unidos e respectivos aliados congratularam-se hoje com a assinatura de um primeiro acordo visando por fim à crise política sudanesa. 

Manifestantes em Cartum a 25 de Outubro protestando contra o golpe de Estado que um ano antes trouxera para o poder no Sudão o general Al-Burhan.
Manifestantes em Cartum a 25 de Outubro protestando contra o golpe de Estado que um ano antes trouxera para o poder no Sudão o general Al-Burhan. REUTERS - MOHAMED NURELDIN ABDALLAH
Publicidade

Para além dos Estados Unidos, a Noruega, o Reino Unido, os Emirados Árabes unidos e a Arábia Saudita vincaram o que qualificaram como sendo "um primeiro passo essencial rumo ao estabelecimento de um governo dirigido por civis e a definição de disposições constitucionais para guiar o Sudão num período de transição com vista a eleições".

Este protocolo foi assinado pelo general Abdel Fattah al Burhane, autor do golpe de Estado de 25 de Outubro de 2021, o comandante paramilitar Mohamed Hamdan Daglo e vários grupos civis, nomeadamente as Forças para a liberdade e mudança que tinham sido afastadas pelo golpe de Estado.

Aquele golpe de Estado tinha feito descambar a transição em curso desde o derrube do presidente Omar al Bashir em 2019.

No entanto o anúncio deste protocolo tem vindo a ser contestado nas ruas de Cartum, a capital, falando numa traição dos grupos civis signatários.

Daniela Nascimento é especialista do Sudão no Centro de Estudos Sociais da Universidade portuguesa de Coimbra. A seu ver é ainda cedo para se ter noção de que ele venha a ser cumprido.

"Creio que ainda é cedo para fazer uma análise antecipatória daquilo que poderá ser o sucesso deste acordo. Numa perspectiva um bocadinho mais céptica este poderá bem vir a ser mais um acordo, juntamente com todos os outros que, já de alguma maneira, foram sendo anunciados ao longo destes anos de turbulência política e de instabilidade política no Sudão.

Porque parece haver, de facto, muita resistência por parte dos militares em decidir mesmo abandonar o poder !

 Sim, resistências de vários tipos. Há resistências internas, eventualmente umas mais visíveis do que outras, de ambos os lados dos principais actores envolvidos neste processo negocial.

Mas há também resistência do ponto de vista de outros actores que têm estado também envolvidos no processo e que já, visivelmente, directamente vieram contestar este acordo nomeadamente algumas facções islamitas ou outros grupos que também vieram já de alguma maneira demonstrar-se contra este acordo que consideram que ele efectivamente não é suficientemente inclusivo."

01:07

Daniela Nascimento, acordo para o Sudão: será desta ?

A investigadora realça as incertezas que pairam ainda sobre um desfecho para a crise sudanesa.

"As críticas alegam que o acordo não dá garantias que, efetivamente, dos grandes movimentos políticos que estarão envolvidos no processo que este acordo de alguma maneira inicia não é? Portanto o acordo o acordo em si não é o fim do processo; é o início de uma tentativa de iniciar um processo de transição

Política, rumo à estabilidade e à transição também rumo àquilo que é a passagem do poder para os actores civis. E, portanto, de alguma maneira, iniciar um processo de transição política para que uma nova constituição seja redigida. Para que efetivamente haja um conjunto de estruturas, de pilares estruturais que sustentem esse processo de transição rumo, idealmente, a um Sudão mais democrático, menos militarizado não é? Portanto em que o governo não esteja nas mãos dos militares, porque efectivamente esse histórico já existe e, obviamente, não tem garantido a estabilidade política, nem a paz que parte significativa da população do Sudão espera."

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.