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Pessimismo domina quanto à possibilidade de extensão de cessar-fogo em Gaza.

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O cessar-fogo em Gaza começou esta sexta-feira, com os primeiros reféns do Hamas a serem libertados a partir de hoje. No entanto, Israel já avisou que estas tréguas que deverão durar quatro dias, permitindo as habitantes da Faixa de Gaza receber ajuda humanitária, não significam o fim da guerra.

A destruição na faixa de Gaza após mais de um mês do conflito entre Israel e o Hamas.
A destruição na faixa de Gaza após mais de um mês do conflito entre Israel e o Hamas. REUTERS - IBRAHEEM ABU MUSTAFA
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Para Jorge Torres Pereira, antigo embaixador português, que esteve colocado na embaixada de Portugal em Tel Aviv e mais tarde foi representante da Portugal junto da Autoridade Palestiniana, seria positivo que este período de cessar-fogo significasse uma desaceleração no conflito.

"Aquilo que me parece interessante nesta pausa ou cessar-fogo é que pode ser visto de uma forma optimista por ser parecido com o que foi o padrão de intervenções anteriores das forças militares israelitas em Gaza em que o padrão é de um momento de actividade muito intensa e depois há o começo de uma pressão de terceiros, nomeadamente do grande aliado norte-americano no sentido de dizer que já são suficientes os danos colaterais e a operação fica-se por aí", declarou.

No entanto, em entrevista à RFI, este antigo diplomata diz estar pessimista quanto à paz na região a curto prazo devido à gravidade do ataque do Hamas e à determinação de Israel em acabar com esta organização terrorista.

"Se este cessar-fogo pudesse converter-se numa coisa prolongada e correspondesse um pouco ao que se tinha passado nas vezes anteriores seria muito positivo para se pensar no pós-intervenção activa em Gaza. Tudo indica, porém, que devido à gravidade de tudo que se passou no 7 de Outubro que a intenção israelita é de desmantelar a capacidade militar dos Izz ad-Din al-Qassam e, por isso, pessoalmente estou um pouco pessimista quanto à possibilidade de este cessar-fogo poder converter-se numa coisa mais permanente", afirmou.

Jorge Torres Pereira esteve na Palestina entre 2007 e 2010, numa altura em que eclodia uma nova guerra em Gaza, mas também num momento em que o Hamas era uma força política legítima, mas o seu não-alinhamento com as restantes forças que pediam a independência da Palestina a o recurso à violência, mudaram a face deste movimento.

"O Hamas começou por ser a expressão em Gaza da Irmandade Muçulmana que tinha feito questão de não fazer parte da OLP, que era a organização-chave da auto-determinação palestiniana definida até pelas Nações Unidas. O Hamas pôs-se à margem porque a OLP tinha uma génese secular, parecida com outros movimentos de liberação, perto do marxismo ideologicamente. O que acontece é que a evolução dos movimentos islâmicos radicaliza-se e começa a haver todos os maus exemplos que se conhecem com recurso à violência", analisou.

Os atentados de 7 de Outubro, mostram, segundo o diplomata de carreira, que apesar de se ter tentado melhorar as condições de vida da população, a solução da criação do estado da Palestina continua a ser o grande objetivo de quem vive tanto em Gaza como na Cisjordânia.

"A conclusão evidente do que aconteceu a 7 de Outubro é que havia uma ilusão de que o problema palestiniano podia ser ignorado e que a tranquilidade da população seria obtida por melhorias de condições de vida, ajudas económicas e, portanto, todas as menções aos palestinianos nos diferentes acordos de normalização entre Israel e os diferentes países árabes, conhecidos como Acordos de Abrãao, é verdade que havia umas letras pequeninas que falavam das questão do estatuto da Palestina, mas a ideia é que pela economia se iria garantir o status quo. Isso era um erro, porque é evidente que a aspiração palestiniana a um Estado é algo consolidado depois destas décadas de ocupação, de humilhações, de dificuldades de deslocarem-se na Cisjordânia, tudo isto consolida a ideia que só um Estado palestiniano vai dar resposta a esta aspiração", declarou.

Face ao período em que esteve na Palestina, a grande diferença e uma das possíveis causas para a actual situação, é o abandono da comunidade internacional e da solução da criação dos dois Estados, indicou o antigo diplomata.

"A comunidade internacional desinteressou-se, mesmo se a covid-19 não ajudou. Quando eu estava em Ramallah havia o Quarteto para o Médio Oriente, havia o Tony Blair, havia enviados dos Estados Unidos, Rússia, União Europeia, Nações Unidas e, de repente, desvaneceu-se como s eo problema tivesse deixado de se colocar. O problema não se desvaneceu e é preciso encaralo. É preciso haver empenho por parte de todos os actores que têm capacidade de influenciar as partes", concluiu.

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