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A morte de D.Sebastião "não é nada misteriosa", constata livro de historiador português

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Ao longo de cinco séculos, muitos mitos e rumores envolveram a morte do jovem rei D.Sebastião na batalha de Alcácer Quibir em 1578, mas no seu livro “Le roi Sebastien de Venise, histoire d'une rumeur”, André Belo defende que esta morte não é misteriosa e que um dos mais persistentes rumores sobre a fuga do rei português para Itália não passou disso mesmo.

O livro "Le roi Sébastien de Venise, histoire d'une rumeur" foi lançado em Maio pelas edições Chandeigne.
O livro "Le roi Sébastien de Venise, histoire d'une rumeur" foi lançado em Maio pelas edições Chandeigne. © Edições Chandeigne
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André Belo, historiador e professor na Universidade de Rennes, que lançou em França, em Maio, a adaptação do livro “Le roi Sebastien de Venise, histoire d'une rumeur” sobre a morte de D.Sebastião e o movimento criado à volta da possibilidade do retorno deste rei de 24 anos, desmentiu desde logo em entrevista à RFI qualquer ambiguidade sobre o destino do monarca luso.

"A morte do rei não é nada misteriosa. Quando lemos os relatos, e há vários, que podemos cruzar, já que assim como so jornalistas cruzam informação, os historiadores também cruzam entre si informação e verificamos que há várias testemunhas oculares que falam sobre o reconhecimento do cadáver do rei no dia a seguir à batalha de Alcácer Quibir. Esta espécie de mistério que estaria na base de um rumor plausível porque nunca se teria encontrado o corpo do rei é falso", indicou o historiador.

O livro de André Belo fala sobre este movimento de suspeição criado à volta da morte do rei, que conheceu várias vagas até chegar até aos nossos dias. Um dos episódios mais marcantes nesta história com quase cinco séculos é o aparecimento, em 1598, de um homem em Veneza que disse ser D.Sebastião. O historiador português passou por Portugal, França, Espanha e Itália onde cruzou os documentos de época necessários para chegar à conclusão que este episódio, já na época, e apesar de apoiado por uma parte da elite portuguesa, nunca foi credível.

"O que mais me surpreendeu em relação a este homem que declarava ser D.Sebastião, foi que na literatura secundária havia muita gente que escrevia que havia dúvidas, havia mistério, havia quem dissesse que ele era muito parecido com o D.Sebastião, que o próprio rei de França teria hesitado, ou seja, que a reinvindicação tinha crédito, mas não me parece nada que isso tenha acontecido", declarou o investigador.

Com a morte do rei D.Sebastião a abrir uma guerra na sucessão do trono português que levou ao poder a dinastia filipina que fez com que Portugal estivesse sob o controlo castelhano durante cerca de 80 anos, as dúvidas plantadas à volta da morte do monarca alimentaram uma série de informações falsas que chegaram até aos dias de hoje, fazendo pensar nas notícias falsas que correm hoje nas redes sociais.

"Por um lado, podemos dizer que não há nada novo sob o Sol e desde que há informação, há rumores, notícias não confirmadas e isso sempre existiu e sempre existirá. O que temos hoje em dia é devido à proliferação de notícias na internet uma maior consciência do que outras gerações. Por outro lado, é sempre importante pensar que a forma como os rumores se espalham e os valores associados a esses rumores são sempre diferentes", concluiu o autor.

O livro foi publicado em Portugal em 2021 com título "Morte e Ficção do Rei Dom Sebastião", editado pela Tinta da China. Em França, o livro foi editado em Maio deste ano com o título “Le roi Sebastien de Venise, histoire d'une rumeur”, pelas edições Chandeigne.

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