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Vida em França

'Exílios. Testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)'-capítulo 2

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Na semana passada, foi apresentada em Paris a versão francesa do livro 'Exílios. Testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)' publicada aqui pela 'Chandeigne', uma obra colectiva editada em 2016 em Portugal que se baseia nos testemunhos de homens e mulheres que nos anos 60 e começo da década de 70 deixaram o país rumo a França, Suécia, Argélia e outros lugares para não ter de se submeter mais à ditadura salazarista e combater em guerras nas quais não se reconheciam.

Capa da versão francesa do livro 'Exílios. Testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)'.
Capa da versão francesa do livro 'Exílios. Testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)'. © Editions Chandeigne
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Este livro que aquando da sua publicação em Portugal foi objecto de algum debate por evocar o tabu em torno daqueles a quem se chamou de "desertores", tem prefácio de Victor Pereira, historiador ligado ao Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Da conversa que mantivemos com o investigador tiramos dois capítulos.

No segundo capítulo desta entrevista, abordamos com o investigador a fase em que se encontra Portugal em termos de reflexão sobre o seu passado colonial e a forma como o público luso encarou o livro de testemunhos de 'insubmissos' aquando do lançamento da sua versão original há seis anos.

"Houve debate porque não havia unanimidade. O Estado Novo considerava que os 'desertores' e os 'refractários' eram traidores. Eram pessoas que não combatiam e que não defendiam 'a pátria'.(...) O facto de tanto o Estado Novo e o aparelho de propaganda que era enorme terem considerado que a deserção era uma traição, como o principal partido de oposição -o Partido Comunista Português- ter como estratégia a participação dos militantes dentro das tropas, quando combatia e denunciava o colonialismo, fez com que a deserção e o movimento de refractários nunca fossem bem vistos mesmo depois do 25 de Abril", refere o historiador.

Ao evocar, por outro lado, a forma como a França encara o seu passado colonial e nomeadamente a sua presença na Argélia que ainda há poucas semanas assinalou os 60 anos da sua independência, Victor Pereira considera que "a guerra da Argélia é um assunto muito polémico e é difícil. A sociedade francesa, no seu conjunto, conhece algumas divisões à volta deste tema. (...) Viu-se que o próprio Emmanuel Macron teve várias dificuldades com isto, porque durante a campanha de 2017, ele disse que a colonização na Argélia foi um Crime contra a Humanidade e foi logo criticado".

Neste aspecto, ao notar que "em França, a História é muito popular no sentido em que há muitos programas de História na televisão, na rádio, e vê-se muitos livros de História nas livrarias", o estudioso não deixa de observar igualmente que "há um uso -e sempre foi- muito político da História tanto à esquerda como na extrema-direita" em França.

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