Convidado: "desvalorização do euro é fruto da fragilidade da economia europeia"

O mundo vive um momento de grande tensão geopolítica e a Europa tornou-se na primeira vítima dos efeitos colaterais derivados do conflito da Ucrânia. Num contexto económico em que o velho continente ainda não tinha recuperado dos efeitos devastadores da pandemia, acompanhada por uma onda inflacionista ,esta degradação económica pulverizou as esperanças de uma recuperação a curto e médio prazo.

A Imprensa desta sexta-feira, 13 destaca as medidas do Banco Central Europeu e as reivindicações salariais frente à alta da inflação no mundo. AP - Michael Probst

Actualmente, a crise energética, e a ameaça de uma eventual recessão económica, somadas às políticas monetárias do Banco Central Europeu colocaram o euro em má postura.

Recentemente, o valor da moeda única europeia caiu para o seu valor mais baixo face ao dólar desde a sua implementação em 2002, acendendo o alerta laranja para o futuro económico da Zona Euro.

José Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em Portugal, explicou à RFI que este fenómeno é fruto de uma certa fragilidade da economia europeia.

"As circunstâncias que hoje rodeiam a economia, quer a economia mundial, quer a economia europeia, estão muito incertas, muito imprevisíveis. Há uma grande instabilidade, como sabemos, e, portanto, não é muito plausível estarmos a prever que esta tendência de desvalorização vai acentuar, se vai recuperar. Em todo o caso, há uma coisa que parece certa, esta relação com o dólar, que há tantos anos não era tão baixa, há bons anos que um valor desta natureza tinha registado, é fruto de algumas coisas que provavelmente, estas sim, vão persistir. Em primeiro lugar, há uma grande fragilidade e uma grande vulnerabilidade da economia europeia. A economia europeia, por razões que são estruturais, mas também por razões que agora vieram ao de cima, com todas as questões associadas à guerra, às questões energéticas, às cadeias de abastecimento e o país revelou se muito frágil, muito vulnerável. E esta desvalorização é o resultado disso e, portanto, o que está em causa é nós sabermos se podemos imaginar que a um prazo razoavelmente curto, a economia europeia consegue se reorganizar no sentido de tornar mais robusta ou não.

A questão energética é muito importante, mas há outras questões que vieram ao de cima com a guerra, que mostram que as economias europeias encaram realmente dificuldades grandes. Uma delas é a dependência da economia europeia relativamente à economia mundial, para pôr isto em termos gerais. E, portanto, essa é a questão que eu creio que também está em cima da mesa. Para além das razões de conjuntura da guerra, as pressões inflacionistas, uma questão de energia que são questões que podíamos dizer que são mais de conjuntura. Há outras questões que são estruturais, que agora se tornaram também mais claras e que estão com certeza associadas a este fenómeno."

Ouça aqui a entrevista na íntegra.

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José Reis, Desvalorização do euro - 27/08/2022