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Vida em França

O poder de compra em discussão em França

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A França debate-se neste momento com um aumento rápido e exponencial do custo de vida, designadamente com a subida do preço do combustível e da alimentação. Face ao contexto actual de conflito, os cidadãos pedem mais acções do governo para protegê-los da deterioração da qualidade de vida.

O Senado francês começa a analisar um novo pacote de medidas para mitigar o aumento do custo de vida.
O Senado francês começa a analisar um novo pacote de medidas para mitigar o aumento do custo de vida. AFP - CHRISTOPHE ARCHAMBAULT
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Esta quinta-feira, 28 de Julho, o Senado francês começa a analisar um novo pacote de medidas para mitigar o aumento do custo de vida, nomeadamente o aumento em 4% do valor das ajudas sociais para as camadas mais desfavorecidas. Os reformados, porém, não beneficiarão de uma valorização suplementar das suas reformas, aprovada dias atrás.

Carlos Vinhas Pereira, presidente da Câmara do Comércio e Indústria Franco-Portuguesa e professor de gestão financeira na Universidade Paris Dauphine, evocou com a RFI este cenário, estimando que a subida da inflação teve consequências directas na perda do poder de compra por parte dos franceses e dos europeus.

De acordo com o professor este aumento da inflação não se deve exclusivamente ao conflito na Ucrânia, mas de uma combinação de factores anteriores que foram agudizados por esta crise.

"A [crise da] Ucrânia participou, mas já tínhamos sinais de aumento da inflação antes desta crise na Ucrânia. Deve-se sobretudo à necessidade dos bancos centrais de aumentar as taxas de juros, para poder lutar contra esta inflação.”

“O facto de aumentar automaticamente salários e nalguns casos, as mercadorias, faz com que estejamos num círculo vicioso, que quanto mais se aumentam [salários, etc.] para poder compensar a inflação, mais aumentamos a inflação”.

“O aumento também está ligado a uma procura muito mais importante do que a oferta em certos domínios, que fez que automaticamente os preços aumentem.”

Por outro lado, no dia 14 de Julho, o presidente francês sugeriu que os franceses começassem a poupar na electricidade e preparou os seus concidadãos a um período invernal delicado, numa altura em que a Rússia tem estado a condicionar cada vez mais o acesso ao seu gás.

É neste contexto que cidades como Nantes e Saint-Nazaire, no noroeste do país, têm estado a cortar a electricidade pública à noite para economizar energia.

Não seria a primeira vez que este fenómeno acontece no país. Durante o choque petrolífero de 1974 os franceses foram obrigados a escolher onde é que “queriam poupar”. Com a aposta na energia nuclear e a redução do preço da electricidade, esta realidade foi sendo “esquecida”, aponta Carlos Vinhas Pereira.

“Hoje em dia, muitos anos depois, os franceses vão ser obrigados a adoptar medidas que vão permitir entre todos de poupar energia, que vai ser necessário sobretudo com esta crise do gás e do petróleo russo que pode se manifestar a partir de Setembro."

“Com a particularidade da França e as centrais nucleares, com o preço da electricidade bastante barata relativamente ao custo real, houve esta tendência de não fazer muito caso. Mas hoje em dia as coisas são diferentes, temos de nos adaptar.”

Questionado sobre as perspectivas económicas da França, o professor respondeu que tudo depende da crise ucraniana.

“Eu direi que se esta crise se resolve antes do final do ano podemos ter mais esperanças para 2023 com uma retoma bastante importante. Por que quando uma guerra acaba há sempre uma retoma e razões para crescer. Se for uma guerra mais demorada, que vai implicar mais bloqueios e um aumento [do preço] dos recursos naturais, isto pode ter consequências importantes sobre a nossa maneira viver e sobretudo o nível de vida em toda a Europa.”

A análise no Senado do pacote legislativo sobre o poder de compra deve terminar no próximo fim-de-semana. De acordo com as previsões do governo o texto deveria ser definitivamente adoptado até 7 de Agosto.

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