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Louvre descobre “Idade de Ouro do Renascimento português”

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O Museu do Louvre apresenta, de 10 de Junho a 10 de Outubro, “A Idade de Ouro do Renascimento português”, com obras de Nuno Gonçalves, Jorge Afonso, Cristóvão de Figueiredo, Gregório Lopes, Mestre da Lourinhã e Frei Carlos. A exposição quer fazer renascer o interesse pela arte portuguesa dos séculos XV e XVI, até agora pouco conhecida em França.

Charlotte Chastel-Rousseau e Joaquim Oliveira Caetano, comissários da exposição “A Idade de Ouro do Renascimento português”  no Museu do Louvre.
Charlotte Chastel-Rousseau e Joaquim Oliveira Caetano, comissários da exposição “A Idade de Ouro do Renascimento português” no Museu do Louvre. © Carina Branco/RFI
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Chama-se "L´Age d´Or de la Renaissance Portugaise" ("A Idade de Ouro do Renascimento Português"), tem como palco o museu mais visitado do mundo, o Louvre, e é apresentada como a exposição que faz renascer o interesse pela arte portuguesa dos séculos XV e XVI, até agora pouco conhecida em França. Esta é, também, a primeira exposição de pintura portuguesa no Louvre. A mostra reúne 15 pinturas religiosas de Nuno Gonçalves, Jorge Afonso, Cristóvão de Figueiredo, Gregório Lopes, Mestre da Lourinhã e Frei Carlos.

"L´Age d´Or de la Renaissance Portugaise" nasceu de uma colaboração entre o Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa e o departamento de pinturas do Museu do Louvre. Na apresentação da exposição, esta terça-feira, que contou com a visita do primeiro-ministro português António Costa, os comissários falaram sobre a importância da colaboração entre ambos os museus. A conservadora da ala de Pinturas do Louvre, Charlotte Chastel-Rousseau, falou sobre a dificuldade em se adquirir pinturas renascentistas portuguesas, mas não excluiu a possibilidade de se abrir no Louvre, mais tarde, uma sala de pintura portuguesa.

Por sua vez, o director do Museu Nacional de Arte Antiga, Joaquim Oliveira Caetano, confirmou que “há uma vontade dos dois museus que é de colaborar”. O comissário português desta exposição indicou que a promoção da pintura renascentista portuguesa tem vindo a ser uma das apostas do seu museu “desde a grande exposição dos Primitivos Portugueses, em 2010”, acrescentando que se tem notado “um grande interesse e algumas histórias da arte mais recentes têm vindo a colocar cada vez mais pintura portuguesa dentro da história da pintura europeia”.

“É uma área que falta completamente ao Louvre e foi mais ou menos pacífico desde o início que era esta época que íamos apresentar”, resumiu Joaquim Oliveira Caetano.

12:10

Renascimento português no Louvre - Convidado de 8 de Junho de 2022

Na sala de apresentação dos novos projectos do departamento de pinturas do Louvre, na Ala Richelieu, a exposição começa com a pintura a óleo e têmpera sobre madeira “São Vicente Atado à Coluna” (1470), de Nuno Gonçalves, pintor régio de D. Afonso V e conhecido autor dos “Painéis de São Vicente”. Talvez seja esta a mais antiga representação de um nu na pintura portuguesa, a notar já uma sensibilidade aos valores renascentistas e marcada pela contenção narrativa da composição, com um espaço deliberadamente despojado a concentrar o olhar na isolada personagem do mártir.

Esta obra é o mote para descobrir, a seguir, pinturas que vão constituir uma “idade áurea” na pintura portuguesa, na primeira metade do século XVI, graças à acção dos reis D. Manuel (1495-1521) e D. João III (1521-1557) que se rodearam de pintores na corte. As oficinas de Lisboa, reunidas em torno do pintor régio de D.Manuel, Jorge Afonso, inspiram-se nas invenções dos pintores flamengos e adoptam uma nova forma de pintar. Algo descrito, logo à entrada, como uma “notável síntese de invenções dos Renascimentos flamengo e italiano e da cultura portuguesa”. Entre as características desta “época de ouro”, está a combinação de “paisagens azuladas imbuídas de poesia, tecidos e acessórios preciosos, detalhes de arquitecturas requintadas com um sentido de observação e de narração apurado e por vezes irónico”.

A ironia lê-se, por exemplo, na pintura “Inferno”, de um mestre desconhecido, do século XVI, um caldeirão de figuras a representar os “pecados capitais”, entre nus - incluindo um dos primeiros grandes nus femininos na pintura lusa - demónios e figuras grotescas e satíricas.

De notar que esta “época de ouro” é, também, marcada pela estada em Portugal do mestre Jan Van Eyck, entre 1428 e 1429, e pelos conhecimentos importados no tempo da expansão portuguesa. Os reis D.Manuel (1495-1521) e D. João III (1521-1557) convidam pintores para a corte, como o pintor originário da Flandres, Francisco Henriques – representado na exposição com “A última ceia” - ou o Mestre da Lourinhã - representado pela pintura "S.Tiago e Hermógenes" - que levaram para Portugal uma técnica refinada de pintura a óleo, um novo interesse pelas paisagens e pelos efeitos decorativos dos tecidos e dos materiais preciosos.

O pintor Jorge Afonso, representado pela obra A "Adoração dos Pastores"(1515), vai desempenhar um papel agregador ao formar um grupo de artistas que assimilam o novo estilo e executam a grande maioria dos retábulos encomendados pelo rei para as igrejas e os mosteiros. A escola luso-flamenga fica também marcada pelo interesse pelos detalhes naturalistas e pela representação de figuras e objectos do quotidiano.

A exposição acontece no âmbito da Temporada Cruzada França-Portugal que, ao longo deste ano, tem vindo a destacar a arte portuguesa em França e a arte francesa em Portugal. Por outro lado, o evento insere-se na senda do Festival de História da Arte que decorreu este fim-de-semana em Fontainebleau e que teve Portugal como país convidado.

De notar, ainda, que os jardins do Museu do Louvre acolheram uma escultura monumental do artista contemporâneo português Pedro Cabrita Reis, intitulada “As Três Graças”, de 14 de Fevereiro até esta terça-feira, 7 de Junho.

A inauguração da exposição foi feita pelo primeiro-ministro português, António Costa, que esta tarde vai inaugurar, também, uma mostra sobre o coleccionador Calouste Gulbenkian, no Musée de La Marine, e a exposição colectiva “Le reste est ombre” [“O resto é sombra”], no Centro Pompidou, do realizador Pedro Costa, do escultor Rui Chafes e do fotógrafo Paulo Nozolino.

António Costa disse que se trata de um percurso da história da arte portuguesa nos principais museus franceses no âmbito da Temporada Cruzada Portugal-França.

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António Costa sobre Temporada França-Portugal

Pedro Costa, Rui Chafes e Paulo Nozolino em destaque no Pompidou

A mostra “Le reste est ombre” [“O resto é sombra”], no Pompidou, vai estar aberta ao público de 8 de Junho a 22 de Agosto e apresenta-se como um diálogo entre cinema, escultura e fotografia de três artistas contemporâneos portugueses que têm colaborado ao longo da sua carreira e cujo universo explora as sombras e as penumbras da natureza e do rasto dos indivíduos.

A mostra é descrita, pelo Pompidou, como “um percurso mental e imersivo” onde os espectadores “deambulam num espaço voluntariamente labiríntico e mergulhados na obscuridade para experienciarem uma obra colectiva complexa no cruzamento das interrogações estéticas e políticas destes três artistas engajados, ao longo dos anos, numa colaboração fecunda”.

Esta é uma semana preenchida na agenda artística portuguesa em França, no âmbito da temporada, com uma exposição de obras de Maria Helena Vieira da Silva no Museu Cantini, em Marselha, e dez artistas portugueses na Villa Tamaris Centre d’Art, em La Seyne sur Mer.

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