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Cimeira CEDEAO, dirigentes de uma África Ocidental destabilizada por golpes militares

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Decorre esta quinta-feira em Accra, no Gana, uma cimeira extraordinária dos chefes de Estado da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). As bandeiras dos quinze países membros da sub-região estão presentes na sala de reuniões, mas três cadeiras estão vazias: as do Mali, Guiné e Burkina Faso. Três países foram suspensos da organização, em consequência de golpes de Estados militares.

O presidente da Comissão da CEDEAO, Jean-Claude Kassi Brou (D), depois de uma conferência de imprensa durante a visita de uma delegação da instituição sub-regional a Ougagadougou após o golpe no Burkina Faso, 31 de Janeiro de 2022.
O presidente da Comissão da CEDEAO, Jean-Claude Kassi Brou (D), depois de uma conferência de imprensa durante a visita de uma delegação da instituição sub-regional a Ougagadougou após o golpe no Burkina Faso, 31 de Janeiro de 2022. AFP - JOHN WESSELS
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A África Ocidental foi desestabilizada por quatro golpes em 18 meses, dois no Mali, um na Guiné e o mais recente, há menos de 10 dias, no Burkina Faso. Neste encontro "está em jogo a actual situação política na sub-região que está tensa e aponta para o retrocesso democrático nos últimos 18 meses. A CEDEAO está a viver uma situação de gestão muito difícil dos seus Estados membros", descreve o analista guineense Rui Jorge Semedo.

"A CEDEAO não tem assumido uma postura de combater algumas anomalias que têm acontecido nos últimos tempos. No caso da Guiné-Conacri, o antigo Presidente Alpha Condé acabou por alterar a Constituição da República, em benefício próprio. No Mali e no Burkina Faso a situação é diferente, tem que ver com a gestão da questão do terrorismo. Na Guiné-Bissau, a intervenção da CEDEAO na resolução da crise pós eleitoral não foi eficaz", completa o analista.

"Se a CEDEAO não conseguir ter uma postura efectiva na resolução de conflitos estará na iminência do fim da própria organização. A CEDEAO perdeu a credibilidade e precisa de adoptar uma estratégia e negociar a transição destes países", concluiu.

O Burkina Faso deverá ocupar um lugar importante na cimeira, após a visita a Ouagadougou de duas delegações - chefes de gabinete e depois ministros da região - que se encontraram com o novo homem forte do Burkina Faso, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba.

A Ministra dos Negócios Estrangeiros do Gana, Shirley Ayorkor Botchwey, esteve na segunda-feira em Ouagadougou, considerou a junta do Burkina Faso "muito aberta às sugestões e propostas" pela CEDEAO.

Os membros da delegação avistaram-se com o presidente deposto Roch Marc Christian Kaboré, em prisão domiciliar e que, segundo eles, está "muito bem". A CEDEAO exigiu a sua libertação.

Na semana passada, na única declaração pública desde que assumiu o poder, Paul-Henri Sandaogo Damiba assegurou que o país, atormentado por ataques jihadistas desde 2015, precisava "mais do que nunca" de parceiros internacionais.

Além de Burkina Faso, a situação no vizinho Mali, também atormentado pela violência jihadista, vai ser discutida na cimeira de Accra.

A CEDEAO sancionou fortemente em Janeiro a junta do coronel Assimi Goïta, na liderança do país depois de um primeiro golpe em Agosto de 2020 e presidente “de transição” depois de um segundo golpe, em Maio de 2021.

Tensões entre Mali e Europa

As sanções; o encerramento de fronteiras da CEDEAO, o embargo às transacções comerciais e financeiras para castigar o projecto militar em continuar a governar durante vários anos, afastando o compromisso de organizar eleições em Fevereiro, que levaria civis à frente do país.

Nos últimos dias, a tensão aumentou entre a junta maliana e os países parceiros europeus das forças especiais Takuba, que luta contra grupos jihadistas, com a França na liderança. Para a Alemanha, o compromisso militar europeu deve ser reavaliado depois da expulsão do embaixador francês em Bamako.

Desde as insurgências independentistas jihadistas em 2012, o Mali está nas mãos de acções de grupos afiliados à Al-Qaeda e ao auto-proclamado Estado Islâmico.

A questão da Guiné, também suspensa das autoridades da CEDEAO, também deverá ser discutida em Accra. O coronel Mamady Doumbouya, no poder desde um golpe em Setembro, é alvo de sanções. Ele prometeu devolver o poder aos civis, mas recusa apontar um prazo de transição.

Por fim, um quarto país da África Ocidental na agenda desta cimeira: a Guiné-Bissau, alvo na terça-feira de um golpe abortado que fez 11 mortes e feridos graves, segundo o Presidente Umaro Sissoco Embaló.

"É importante levar este acontecimento à reunião da CEDEAO, mas ainda há muita coisa por esclarecer. Ainda não sei se isto foi uma tentativa de golpe de Estado ou não. Pelas comunicações oficiais do governo, parece-me que tem mais que ver com um ataque terrorista do que um golpe de Estado. Estão a falar de uma coisa relacionada com narcotraficantes ou com financiamento externo. Não houve ligações com estruturas de oposição interna. Passados três dias, não sabemos quem liderou esta acção", descreve Rui Jorge Semedo.

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