O secretário executivo cessante da CPLP, Francisco Ribeiro Telles, considera que o acordo sobre a mobilidade “é uma porta que se abre” na organização, mas admite que a sua operacionalização vai ser “um desafio”. O embaixador sublinha que a CPLP vai, ainda, ganhar uma “nova dimensão económica e empresarial”. Quanto à promessa, por cumprir, de abolição da pena de morte na Guiné Equatorial, “os progressos” vão ser avaliados, mas uma presidência rotativa de Malabo não vai ser para já.
Luanda acolhe, a 17 de Julho, a XIII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Os trabalhos preparatórios decorrem ao longo desta semana, com a reunião dos pontos focais da cooperação, encontros do comité de concertação permanente, a reunião do Conselho de Ministros e eventos em torno da segurança alimentar e da cooperação económica e empresarial.
Em entrevista à RFI, sobre o balanço do seu mandato, Francisco Ribeiro Telles afirmou que o seu trabalho “está muito ligado ao balanço da presidência cabo-verdiana por ter coincidido no tempo e no espaço” e que é um balanço que “está na agenda da própria cimeira” que vai aprovar, nomeadamente, a proposta sobre a mobilidade dos cidadãos lusófonos.
“É um balanço que está na agenda da própria cimeira. Ao fim de contas, é o acordo sobre a mobilidade que é uma porta que se abre para facilitar a circulação dos cidadãos dos Estados-membros no espaço da CPLP, visa uma maior circulação, uma maior liberdade de movimentos de determinadas categorias de cidadãos numa primeira fase no espaço da CPLP”, afirmou.
O diplomata português admitiu, no entanto, que a operacionalização do acordo “vai ser um desafio” para a próxima presidência angolana da CPLP porque é “uma organização que tem descontinuidade geográfica e que está presente nos quatro continentes”.
“É um acordo gradual e flexível, não é de uma implementação imediata. Também é de uma CPLP a várias velocidades. Há países que se sentem confortáveis em avançar já, há países – por via até do seu ordenamento jurídico – que têm maiores resistências, mas isso não impede que três ou quatro países se possam juntar e acordar uma maior liberdade de circulação, mas é de facto um grande desafio”, afirmou.
O embaixador salientou, ainda, que na próxima presidência rotativa da CPLP, que vai ser assegurada por Angola, a organização vai ganhar uma “nova dimensão económica e empresarial”.
“Vai-se discutir, pela primeira vez, de uma forma consistente, uma nova dimensão da CPLP que é a dimensão económica e empresarial, o próprio programa de Angola vai nesse sentido, também é uma novidade a CPLP vir chamar a si essa nova dimensão”, explicou.
Convidado Francisco Ribeiro Telles,CPLP
Por outro lado, Francisco Ribeiro Telles destacou que, depois desta cimeira de Luanda e com a aprovação de novos países observadores associados, a CPLP deverá passar a ter mais de 30 países observadores no total.
Questionado sobre a Guiné-Equatorial e o não cumprimento da abolição da pena de morte - uma das condições para a adesão à CPLP - o secretário executivo disse que há um plano de apoio à integração da CPLP e que, no final de 2022 se poderá ter uma avaliação sobre “os progressos”. “Até lá”, o diplomata não crê “que existam condições” para equacionar uma liderança equato-guineense da organização.
Sobre a ajuda a Moçambique, perante os ataques em Cabo Delgado, o diplomata sublinhou que o secretariado executivo fez “o que foi pedido por Moçambique”, ou seja, “sensibilizar as organizações internacionais e regionais para a situação em Cabo Delgado”. Sobre uma ajuda directa da CPLP no terreno, Francisco Ribeiro Telles explicou que a CPLP não tem “condições operacionais para, de repente, enviar um destacamento para Cabo Delgado e poder intervir neste ou naquele campo”.
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