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UCID aponta regionalização como “trunfo” para acordos ou alianças

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A UCID conta usar a regionalização como “trunfo” para viabilizar um governo sem maioria, através de alianças pós-eleitorais ou acordos de incidência parlamentar. O aviso é feito por António Monteiro, o presidente do partido, que acredita que este ano a UCID vai romper com a bipolarização política em Cabo Verde.

António Monteiro aponta regionalização como "trunfo" nestas eleições legislativas.
António Monteiro aponta regionalização como "trunfo" nestas eleições legislativas. © https://ucid.cv/partido/presidente/
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Cabo Verde tem eleições legislativas a 18 de Abril. Na corrida eleitoral estão seis partidos - MpD, PAICV, UCID, PTS, PSD e PP – para eleger 72 deputados em 13 círculos eleitorais: dez no país e três na diáspora. MpD, PAICV e UCID concorrem em todos os círculos eleitorais; PP em seis círculos (Santiago Sul, Santiago Norte, Boa Vista, África, América, Europa e o resto do mundo); PTS em seis círculos (Santiago Sul, Santiago Norte, São Vicente, África, América, Europa e o resto do mundo) e PSD em quatro círculos (Santiago Norte, Santiago Sul, África e América).

António Monteiro, Presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), acredita que este ano o seu partido vai romper com a bipolarização política em Cabo Verde. O líder da UCID avisa que a regionalização é a condição para viabilizar um governo sem maioria, através de alianças pós-eleitorais ou acordos de incidência parlamentar. Engenheiro electromecânico, de 59 anos, António Monteiro é deputado na Assembleia Nacional pelo círculo eleitoral de São Vicente desde 2006.

 

RFI: “O que defendem relativamente à regionalização?”

António Monteiro, Presidente da UCID: “A UCID defende a regionalização desde os primórdios, desde a altura em que o partido foi criado na Holanda em 1978. Em 2016, o MpD utilizou esta bandeira de campanha e esta bandeira deu muitos votos ao MpD, mas a verdade é que nem o MpD nem o PAICV estão interessados numa regionalização.

Durante o debate que tivemos no Parlamento, quando vimos que o governo ia colocar a votação ou ia retirar a proposta, nós insistimos para que não o fizesse para termos a oportunidade de voltar a colocar a proposta, mas o governo do MpD assim não o entendeu e resolveu retirar a proposta e retirou na altura a probabilidade de termos o país regionalizado.

Mas a UCID insiste. Será um dos trunfos que nós vamos ter agora depois do dia 18 de Abril para estarmos com possibilidades de viabilizar este ou aquele governo e criarmos as condições para que os partidos todos se sentem à mesa e, portanto, consigamos encontrar a melhor forma de regionalização que o país precisa, apesar de nós, a UCID, defendermos a regionalização política, o que implicaria uma reforma profunda do Estado de Cabo Verde.”

RFI: “Já está a falar na possibilidade de alianças. Está a considerar essa possibilidade?”

António Monteiro: “Esta possibilidade está em cima da mesa. A questão aqui é ou haver acordos de incidência parlamentar ou mesmo haver a possibilidade de alianças e a UCID entrar para o governo caso tenhamos o número de deputados suficientes que rompa com a maioria absoluta e os dados que nós temos neste momento apontam nesse sentido.”

RFI: “E nesse caso a aliança seria com quem?”

António Monteiro: “A aliança será com quem ganhar as eleições. Aqui nós temos que respeitar a vontade do povo. Ou aliança de uma forma directa ou aliança através do acordo parlamentar, a não ser que quem ganhar as eleições não esteja disponível para conversar connosco. ”

RFI: “A bipolarização política continua. O que é que a UCID tem feito contra isso e porque é que o partido não consegue quebrar esta barreira?”

António Monteiro: “A UCID tem batalhado contra a bipolarização pelo menos desde 2001, altura em que nós fizemos uma aliança em que tínhamos três partidos - a UCID, o PTS de Onésimo Silveira e o PCD do doutor Eurico Monteiro – para na altura rompermos com a bipolarização. Não foi possível. A UCID não desistiu. A UCID continua a lutar e acreditamos que desta vez, no dia 18 de Abril, teremos condições mais do que suficientes para rompermos, não pelo facto da insistência da UCID, mas acima de tudo porque a população cabo-verdiana acabou por entender que com o sistema que nós temos fortemente bipolarizado, ora PAICV ora MpD, o país não tem estado a ganhar.”

RFI: “A economia cabo-verdiana sofreu imenso com a pandemia. Que propostas é que tem para a retoma económica?”

António Monteiro: “Nós temos que diversificar a economia cabo-verdiana de forma acentuada porque aquilo que nós temos tido até hoje é uma aposta no turismo de sol e praia e a Covid-19 veio demonstrar-nos que esta aposta não é a melhor. Temos que investir mais no sector da economia primária, nomeadamente na agricultura e nas pescas. Paralelamente, diversificar a própria indústria do turismo. Nós temos tido uma aposta mais no sol e na praia, mas precisamos de ter uma aposta também nos outros sectores do turismo: turismo de negócios, turismo de eventos, turismo ambiental, para citar somente estes três.”

RFI: “Em Cabo Verde muita gente vive do campo que viveu três anos de saca severa. Como é que se pode empoderar o sector e as pessoas que vivem do campo?”

António Monteiro: “Hoje, nós temos tecnologias extremamente avançadas que podem ajudar-nos – e de que maneira – a ultrapassar todas estas questões. No que toca à pecuária, no Parlamento cabo-verdiano a UCID várias e várias vezes apresentou propostas para que o governo fizesse investimentos ou criasse condições para disponibilizar linhas de crédito para que os criadores de gado pudessem adquirir equipamentos para produção de forragem hidropónica que é uma vantagem tremenda onde poderíamos perfeitamente ultrapassar a questão da falta das chuvas neste campo da pecuária.

Relativamente aos nossos agricultores, Cabo Verde tem um potencial de energias renováveis extraordinário, quer a nível solar quer a nível eólico. Isto para nós não falarmos das condições geotérmicas que, por exemplo, a ilha do Fogo tem.  Aproveitando estas energias renováveis, e com o avanço tecnológico no sector da dessalinização da água do mar em que nós podemos ter dessalinizadores a produzir com uma tonelada de água 2,5Kw de energia, é muito provável que sendo este o caminho garantiríamos a água aos agricultores e não ficariam na dependência das chuvas. Cabo Verde importa quase 90% daquilo que consome, é um disparate enorme e isso tem que ser debelado.”

RFI: “E em relação à economia marítima e às pescas, falou em condições para os armadores. Que tipo de condições?”

António Monteiro: “Cabo Verde regrediu imensamente no sector das pescas. Eu lembro-me que quando era criança nós tínhamos em São Vicente navios de pesca, nomeadamente o Murdeira, Salamansa, o Pedra Badejo, que saíam de São Vicente para irem pescar em Angola, em Moçambique, nas costas da Guiné-Bissau, atuneiros que traziam muito, muito, muito. Quarenta e seis anos depois da nossa independência, nós não temos na nossa frota absolutamente um único navio que seja capaz de sair das ilhas de Cabo Verde para fazer pescas longínquas.

É preciso voltarmos àquilo que era Cabo Verde em termos de pescas outrora, darmos as condições para os nossos armadores terem linhas de crédito para adquirirem navios com capacidade e tecnologia suficiente para executar as pescas e, portanto, aumentarmos a captura e debelarmos um pouco a importação de peixe para as indústrias de conservas que acaba por nos criar grandes problemas com a União Europeia por causa da derrogação que nós temos que todos os anos solicitar à União Europeia para exportação da conserva das nossas indústrias pesqueiras e conserveiras aqui em Cabo Verde.”

RFI:  “Agora em relação aos transportes. A privatização da TACV avançou e a UCID era contra. Agora a companhia está em perigo com a pandemia. O que fazer para salvar a companhia e que propostas para o sector aéreo doméstico e internacional?”

António Monteiro: “A nível dos transportes aéreos domésticos, nós temos que obrigar a companhia actual a cumprir os contratos. Se o contrato que Cabo Verde fez com a companhia foi mal feito, nós temos que rever e se não houver essa abertura pura e simplesmente o governo de Cabo Verde, o próximo governo, deve retomar essa responsabilidade, chamar a si essa responsabilidade, e colocar dois ou três aparelhos em regime de leasing para podermos servir as ilhas, mas aparelhos que tenham características boas para todos os aeroportos de Cabo Verde.

A nível internacional nós defendemos, sim, que precisamos de um hub aéreo no Sal mas ter um hub aéreo no Sal não significa dizer que temos que ter a nossa companhia a voar com vários destinos ao mesmo tempo, com um número de aviões que a nossa economia não comporta. Aqui, o que nós temos que fazer é: primeiro retomar as rotas étnicas para todas as ilhas; segundo, dimensionar a Cabo Verde Airlines de modo a cumprir só com as rotas rentáveis. Mas há um outro aspecto aqui com a Cabo Verde Airlines: nós temos vários trabalhadores, com muitos anos de experiência que devem ser chamados para contribuírem na melhoria da gestão da empresa porque infelizmente a empresa anteriormente tinha sido gerida por comissários políticos que acabaram por criar grandes dificuldades à própria empresa.”

RFI: “O sistema de saúde foi colocado à prova com a pandemia. Que investimentos principais para a saúde face à crise sanitária?”

António Monteiro: “Nós temos que construir, desde logo, dois hospitais regionais: um na Cidade da Praia, tendo em conta que o Agostinho Neto está extremamente lotado, e um hospital em São Vicente considerando que o hospital de São Vicente iniciou a sua construção em 1969 quando São Vicente tinha menos de 30.000 habitantes. Criar condições para que os nossos médicos tenham as especializações que o país necessita para diminuirmos um pouco a evacuação dos nossos doentes para Portugal. Criar condições em termos de equipamentos de diagnóstico de última geração e criar também uma carreira médica que dê satisfação aos médicos, aos técnicos de saúde e aos enfermeiros.”

  RFI: “Que retrato é que faz da segurança em Cabo Verde e o  que é que precisa de ser feito?”

António Monteiro: “Criar condições para mais empregos para que os jovens estejam ocupados. Criar condições para que os nossos tribunais funcionem de forma mais célere. Respondermos em tempo útil às queixas que os cidadãos fazem para que o sentimento de impunidade não continue a cavalgar as ilhas e dar oportunidade aos jovens de se sentirem impunes e alguns aproveitarem desta situação para irem cometendo alguns crimes aqui e acolá que, muitas vezes, deixa os cidadãos cabo-verdianos extremamente aflitos e com algum receio de saírem à rua.”

As últimas eleições legislativas em Cabo Verde ocorreram a 20 de Março de 2016, com o MpD a vencer com maioria absoluta, ao eleger 40 deputados, o PAICV 29 deputados e a UCID três deputados. 

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