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Obras de Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol a quatro mãos na Fundação Louis Vuitton

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Até Agosto, a Fundação Louis Vuitton em Paris expõem dezenas de obras feitas em conjunto por Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol, contando não só a parceria artísitca entre estes dois vultos da arte contemporânea, mas também a sua amizade e como este encontro influencia a arte e os artistas em todo o Mundo até hoje.

Basquiat e Warhol cooperaram durante cerca de três anos.
Basquiat e Warhol cooperaram durante cerca de três anos. © Catarina Falcao
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Há 35 anos desaparecia o artista norte-americano Jean-Michel Basquiat. Durante os seus 27 anos de vida teve uma produção fulgurante deixando mais de 2.000 quadros e desenhos, assim como escritos e também uma grande influência nos estilos urbanos como o grafiti, mas também a música dos anos 80, especialmente no rap, tendo chegado mesmo a integrar diversos grupos e a produzir discos de artistas nos quais acreditava.

Na sua curta vida, Jean-Michel Basquiat, que tinha origens haitianas e porto-riquenhas, procurou um regresso à sua ancestralidade, apresentando na sua representação da arte moderna, uma reinterpretação da arte africana, como máscaras cerimoniais e silhuetas inspiradas na arte tradicional, dando, pela primeira vez na história da arte ocidental, um lugar de destaque às figuras negras.

Ainda em vida, Jean-Michel Basquiat atingiu o estrelato e a admiração do mundo da arte, e, nesta trajectória, um dos momentos mais importantes para o artista foi a parceria com um dos seus ídolos, Andy Warhol. Com 30 anos de diferença, Warhol e Basquiat travaram uma amizade que os marcaria profundamente a nível pessoal e uma colaboração artística intensa que durou entre 1982 e 1985 tendo produzido 160 quadros a quatro mãos.

 

A Torre Eifflel inspirou Andy Warhol e Basquiat.
A Torre Eifflel inspirou Andy Warhol e Basquiat. © Catarina Falcao

 

Para lembrar este período áureo da arte contemporânea e assinalar os 35 anos da morte de Jean-Michel Basquiat, que morreu de uma overdose de drogas em 1987, a Fundação Louis Vuitton, em Paris, organiza até final de Agosto, uma retrospetiva com as principais obras elaboradas por Basquiat e Andy Warhol.

Os dois artistas vão trocar entre si hábitos e formatos, com Andy Warhol a voltar a pintar e Basquiat a descobrir-se através dos grandes formatos comos explicou Olivier Michelon, comissário da exposição BASQUIAT versus WARHOL, À QUATRE MAINS, em entrevista à RFI.

"Não sei se a influência no estilo se possa ver na forma como criavam, mas sobretudo na maneira como pensavam e esta influência vê-se nos quadros. Temos elementos que podiam ser pintados por Warhol ou por Basquiat e vice-versa. É verdade que Andy Warhol volta a pintar e isso é um pedido de Basquiat. Já Basquiat vai utilizar serigrafias, algo que é muito característico de Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat vai utilizar muito esta técnica. Depois temos também o formato das telas e como Andy Warhol é já um artista conceituado, tem muitos assistentes e trabalha sobre grandes telas, algo que Basquiat vai passar também a fazer", disse Olivier Michelon.

A energia contagiante vai levar os dois artistas numa primeira fase a ocuparem um antigo atelier de Andy Warhol onde conseguem levar a cabo pinturas de grande formato. Algumas eram começadas por Andy Warhol com logos de produtos de higiene Arm & Hamer, ou da General Electrics, e com Basquiat a desenhar por cima figuras africanas, palavras com impacto social, desconstruindo os ícones da arte pop que inspiravam Warhol.

"Há cerca de 30 anos de diferença entre os dois artistas. Andy Warhol manteve-se sempre muito aberto a tudo o que se passava à sua volta e vê na cena jovem de Nova Iorque nos anos 80 um regresso à efervescência dos anos 60, com uma liberdade na pintura, algo que ele talvez tivesse perdido de vista. Há realmente uma energia renovada com Basquiat", indicou o comissário.

Esta colaboração vai reflectir também o momento que se vivia nos Estados Unidos. De um lado um ambiente cultural em ebulição, com o aparecimento de novos artistas como Keith Haring e de fenómenos com Madonna, que teve uma relação com Basquiat… Do outro lado, o racismo, que nem os movimentos dos direitos civis dos anos 60 e 70 conseguiram apagar e que tornavam difícil para Jean-Michel Basquiat conseguir apanhar um mítico táxi amarelo em Manhattan à noite.

 

Os estilos dos dois pintores misturam-se sem se confundir em muitas das telas apresentadas em Paris.
Os estilos dos dois pintores misturam-se sem se confundir em muitas das telas apresentadas em Paris. © Catarina Falcao

 

Com muitos críticos de arte a questionarem a influência que Warhol tinha sob Basquiat, este decidiu afastar-se e os dois artistas deixaram de ser próximos. Andy Warhol morreria em 1987, deixando Basquiat destruído. Assolado novamente pelas drogas e uma vida de excessos, Basquiat viria a morrer em 1988.

Mais de 30 anos depois, esta cumplicidade tem atraído milhares de pessoas à Fundação Louis Vuitton.

"É uma exposição que está a ter muito sucesso. Já tínhamos organizado uma exposição sobre Jean-Michel Basquiat em 2018 que também tinha sido muito apreciada pelo nosso público. Os nossos visitantes querem saber mais sobre este artista e nós fazemos um género de zoom na sua colaboração com Andy Warhol. O próprio Andy Warhol é uma referência para muita gente, histórico e isso permite-nos juntar dois públicos. A exposição funciona muito bem porque conta uma história, um diálogo entre dois artistas em que cada um tem a sua própria história e o seu desenvolvimento, o que dá origem a algo muito vivo. É como estivéssemos a assistir a uma conversa entre os dois porque eles falam através dos seus quadros e nós fazemos parte disso", anunciou Olivier Michelon

Se a sombra de Andy Warhol parecia pesada em 1985. Jean-Michel Basquiat tornou-se, entretanto, um dos artistas mais caros do Mundo com a sua obra Untitled, de 1982, a ter obtido um o valor de 110,5 milhões de dólares, num leilão conduzido pela Sotheby’s New York, em Nova Iorque.

Já o impacto de Jean-Michel Basquiat na arte, especialmente na arte africana contemporânea, não tem preço, tendo influenciado todas as gerações que se lhe seguiram.

"O que é evidente na influência de Jean-Michel Basquiat é que ele como afro-americano, com as suas raízes haitianas e porto-riquenhas, tem uma pintura de mistura, uma pintura crioula, e a sua relação com África passa pela dispersão da cultura africana, a maneira como ela se transformou e também a musica. Hoje, Basquiat, é uma voz e uma referência para todos os artistas que nasceram a partir dos anos 80 e cresceram com uma cultura mestiça, quer sejam africanos ou não", concluiu Olivier Michelon.

Obrigada por ter acompanhado este magazine Artes, até para a semana.

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