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Médio Oriente

Israel promete aumentar ajuda humanitária a Gaza depois de pressões americanas

Israel anunciou hoje que autoriza a entrega "temporária" de ajuda à Faixa de Gaza ameaçada de fome, através do porto de Ashdod, a 40 quilómetros a norte da Faixa de Gaza, e através do ponto de passagem de Erez, entre o território palestiniano e o sul de Israel. Esta decisão surge depois de o Presidente americano ter avisado ontem o primeiro-ministro israelita que poderia vir a condicionar a sua ajuda ao Estado Hebreu se não tomasse medidas "tangíveis" face à catástrofe humanitária em Gaza.

Ponto de passagem de Erez, a norte da Faixa de Gaza, a 5 de Janeiro de 2024.
Ponto de passagem de Erez, a norte da Faixa de Gaza, a 5 de Janeiro de 2024. REUTERS - AMIR COHEN
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O Gabinete do Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou esta manhã que iria "tomar medidas imediatas para aumentar a ajuda humanitária à população civil na Faixa de Gaza". No seu comunicado, o executivo israelita disse que "este aumento da ajuda vai contribuir para evitar uma crise humanitária e é necessário para garantir a continuação dos combates e alcançar os objectivos da guerra", sendo que através deste dispositivo "temporário", Israel também vai permitir "o aumento da ajuda vinda da Jordânia por Kerem Shalom", posto fronteiriço do sul de Israel.

Pressões americanas

Esta decisão foi anunciada depois de o Presidente americano Joe Biden ter mantido ontem uma conversa telefónica com o Chefe do governo israelita durante a qual, de forma inédita, evocou pela primeira vez a possibilidade de condicionar a ajuda do seu país a Israel, se não houvesse uma resposta "imediata" do Estado Hebreu relativamente à situação humanitária na Faixa de Gaza.

Em campanha para um segundo mandato, Joe Biden tem estado sob uma crescente pressão do seu próprio campo onde se têm multiplicado os apelos a quebrar o apoio incondicional a Israel, mas também da população americana, com sondagens a darem conta de um aumento da rejeição das acções de Netanyahu em Gaza, apesar de historicamente os Estados Unidos serem um aliado infalível de Israel.

Na sequência desse telefonema, a Casa Branca indicou que Joe Biden também qualificou de "inaceitáveis" tanto os ataques israelitas contra trabalhadores humanitários quanto a situação de Gaza na sua globalidade e, neste sentido, exortou Benjamin Netanyahu a "concluir sem demora um acordo" para um "cessar-fogo imediato", sendo que "a política dos Estados Unidos em relação a Gaza seria determinada pela avaliação que ele faria das decisões imediatas tomadas por Israel".

A reforçar esta ideia, o secretário de Estado americano Antony Blinken considerou hoje que a decisão israelita é um "desenvolvimento positivo", mas que "o verdadeiro teste são os resultados". Blinken disse que Washington quer nomeadamente, garantir que a ajuda humanitária chegue "efectivamente" aos que dela necessitam, ou seja, "quase 100%" da população de Gaza que se encontra em situação de penúria alimentar. Neste sentido, este responsável político informou que o seu país iria ficar atento ao "número de camiões que podem realmente entrar, numa base duradoura" e as modalidades da distribuição da ajuda "em todo o território de Gaza, inclusive no norte".

No mesmo sentido, ao emitir dúvidas sobre a eficácia de "medidas dispersas", o secretário-geral da ONU considerou que é préciso "uma mudança de paradigma". Ao apelar Israel a respeitar "real e rapidamente" as suas promessas, António Guterres não escondeu o seu cepticimo. "Veremos o que acontece", declarou perante a imprensa em Nova Iorque.

Reunião do Conselho de Segurança sobre a situação humanitária em Gaza

É neste contexto que o risco de fome em Gaza, assim como a situação dos trabalhadores humanitários naquele território, devem ser abordados hoje em reunião do Conselho de Segurança da ONU, poucos dias depois de 7 trabalhadores humanitários da ONG World Central Kitchen (WCK) terem morrido na segunda-feira num ataque que Israel alegou ter sido "não intencional". Um ataque sobre o qual a WCK pediu esta sexta-feira uma comissão de inquérito independente.

Na sequência do sucedido, esta ONG anunciou a suspensão das suas operações na região. A Open Arms, organização espanhola que trabalhava com a World Central Kitchen anunciou ontem também uma pausa das suas actividades. Igualmente nesta quinta-feira, outras organizações como a Médicos Sem Fronteiras (MSF), a Oxfam, os Médicos do Mundo e a Save the Children teceram alertas sobre a quase impossibilidade de trabalhar em Gaza. A MSF refere a este respeito que 200 trabalhadores humanitários foram mortos desde o começo do conflito em Gaza.

Por outro lado, a ONU considera que existe um "risco iminente de fome" na Faixa de Gaza, sendo que de acordo com a Oxfam, a população do norte do enclave sobrevive com "menos de 12% das necessidades calóricas diárias médias". Por sua vez, o Crescente Vermelho Palestiniano refere que "31 crianças da faixa de Gaza morreram de fome e desidratação".

Perante o bloqueio operado por Israel até agora, vários países optaram por distribuir ajuda de pára-quedas, nomeadamente os Estados Unidos que referem ter distribuído o equivalente de 50 mil refeições deste modo, mas isto não pode substituir o fornecimento de apoio por via terrestre, insiste a ONU.

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