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Ucrânia

Jovens ucranianos querem reconstruir o país mas pedem ajuda em saúde mental

Ao fim de mais de 500 dias de guerra, de que precisam os jovens ucranianos? Os estudos efectuados na Ucrânia mostram que eles estão disponíveis para contribuir para a reconstrução, mas estão preocupados com a sua saúde mental e a dos outros.

Vlada, jovem estudante ucraniana, em Kiev, no dia 20 de Julho de 2023.
Vlada, jovem estudante ucraniana, em Kiev, no dia 20 de Julho de 2023. © José Pedro Frazão
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A guerra transformou os jovens ucranianos em soldados ou em voluntários. Um relatório do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas apontava recentemente para um aumento de 30% do voluntariado. Quatro em cada dez jovens estavam envolvidos nestas actividades em 2022. No último Outono, realizaram-se fóruns de juventude na zona de Kiev para perceber o que podiam fazer em contexto de guerra.

“Não podemos ajudar ninguém se estamos sempre em 'modo tragédia'. Não temos uma política clássica de juventude, mas somos uma potência de voluntariado. Todos os centros de juventude na Ucrânia ficaram a trabalhar com ajuda humanitária", afirma Liubomyr Dzhanov, 28 anos, que esteve presente nesses fóruns na qualidade de presidente do Conselho da Juventude de Bucha. 

Vindo de um dos locais mais simbólicos da tragédia que se abateu sobre a Ucrânia, este jovem professor de Engenharia Civil pôs mãos à obra assim que conseguiu voltar à cidade que deixou durante 20 dias durante a ocupação russa. Os planos para a construção de infra-estruturas para jovens, aprovados exactamente a 24 de Fevereiro de 2022 na Câmara de Bucha, ficaram congelados e as verbas orçamentadas foram direccionadas para a reconstrução.

Liubomyr Dzhanov, presidente do Conselho da Juventude de Bucha, no dia 20 de Julho de 2023.
Liubomyr Dzhanov, presidente do Conselho da Juventude de Bucha, no dia 20 de Julho de 2023. © José Pedro Frazão
O fantasma da mobilização

Também no Outono de 2022, Volodymir Zelensky promoveu uma audição de jovens, algo inédito nas presidências ucranianas.

“É bom existirem os conselhos de juventude em diversas organizações. Alguns têm impacto significativo nalgumas instituições. Por vezes há alguma manipulação dos jovens pelo poder, mas é verdade que os jovens são escutados pelo poder”, adianta Liubomyr Dzhanov à RFI.

Os rapazes mantêm algum medo da mobilização para a guerra, apesar de muitos se terem oferecido para a frente de batalha.“A minha mobilização pode acontecer amanhã. Toda a gente tem medo da morte, é normal. Mas a guerra significa morte. E estamos numa situação em que há gente que vai ter de morrer", diz Liubomyr

Jovens dispostos a reconstruir o país

Os estudos existentes mostram que os jovens querem fazer parte do futuro do país, da reconstrução, introduzindo pensamento inovador. A guerra parece ter potenciado os jovens na sua vontade de resistir e de perseguir os seus sonhos.

Nos adolescentes o principal receio é mesmo o de perder a sua vida ou dos seus mais próximos, mas 93% dos inquiridos mostraram confiança em si próprios.

Uma amostra de 200 jovens ucranianos, num estudo recente da organização 'Plan International', defendeu o regresso ao ensino presencial e a reforma do sistema educativo ucraniano.

As jovens mulheres disseram esperar que a reconstrução implique mudanças na distribuição de tarefas entre géneros. Mas há uma fatia de jovens que teme que a guerra venha ainda agravar os estereótipos de género.

Durante a pandemia o desemprego jovem subiu de 15 para 19%, sendo esta a última estatística oficial conhecida. O Banco Central Ucraniano acredita que o desemprego vai descer este ano de 21% para 18,3%, mais optimista do que o Fundo Monetário Internacional que aponta para 20.9%.

Os empregadores queixam-se da inactividade dos jovens lembrando que a guerra levou 30% da força de trabalho, incluindo mais de 3 milhões de mulheres em idade activa. O Instituto ucraniano do futuro aponta para que apenas 9 milhões dos 28,5 milhões de ucranianos em idade activa na Ucrânia estão a trabalhar neste momento.

Preocupados com a saúde mental

Opinião muito consensual entre os jovens é a de que a reconstrução da Ucrânia de ser acompanhada por apoio psicossocial e estruturas de saúde mental.

“Precisamos de apoio psicológico. É muito difícil especialmente neste tempo digital quando vemos a vida tranquila e pacífica de jovens noutros países. É um desafio para a nossa mente. Como é possível? Será que eu sou pior do que aqueles jovens? Porque é que eles merecem uma vida pacífica e eu não?”, confessa Vlada, 21 anos, estudante de português em Kiev.

A Organização Mundial de Saúde estima que 9,6 milhões de pessoas na Ucrânia poderão ter problemas de saúde mental devido à guerra. Este quadro deverá também afectar a produtividade económica num país em guerra.

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