Guerra na Ucrânia: ponte da Crimeia atacada, acordo de cereais suspenso
Pelo menos duas pessoas morreram e uma criança ficou ferida na sequência de um ataque à Ponte de Kerch, na Crimeia, na madrugada de segunda-feira. Este acontecimento coincide com o término do acordo de cereais entre os dois países.
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O ataque ocorreu primeiramente da noite de domingo para a segunda por volta das 03h04 e depois às 03h20 do horário local, quando duas explosões atingiram a ponte de Kerch, que liga a Federação Russa à Península da Crimeia.
Durante a noite, Serguei Aksinov, governador da Crimeia infirmou que o “tráfego na Ponte da Crimeia foi interrompido” devido a uma “emergência perto do pilar 145 do lado do Território de Krasnodar”. O dirigente instalado por Moscovo acrescentou que “as forças da ordem e todos os serviços responsáveis estão a trabalhar”. “Falei com o Ministro dos Transportes da Federação Russa, Vitaly Savelyev, e estão a ser tomadas medidas para restabelecer a situação. Estamos em contacto com os nossos colegas da região de Krasnoda”, disse.
Estima-se que um casal morreu e a filha ficou gravemente ferida, informou a agência estatal russa TASS, citando as autoridades locais, acrescentando que “foi criado um centro de coordenação num ministério da Crimeia e os investigadores estão a caminho do local”.
Segundo o Ministério da Saúde da Rússia, “o diagnóstico preliminar é de uma lesão crânio-encefálica fechada, um estado de gravidade moderada”.
Num comunicado publicado esta manhã o governo russo afirma que “mais detalhes sobre os danos na ponte serão disponibilizados em breve”. Esta afirmação foi feita na sequência de uma reunião da comissão governamental de resposta a crises, que também avançou que “recursos adicionais foram canalizados para os esforços de restauração”.
Embora o ataque tenha interrompido o tráfego na ponte, o serviço ferroviário e marítimo estão a ser gradualmente estabelecido, enquanto os serviços de transportes, como autocarros, já estariam a funcionar normalmente. Rotas secundárias para os camionistas foram abertas.
Em reacção a estes acontecimentos, a diplomacia russa responsabilizou a Ucrânia pelo ataque à ponte de Kerch. Numa mensagem publicada no Telegram, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, diz que o “regime de Kiev é um regime terrorista sob a administração secreta de Washington e Londres”.
"O ataque de hoje à ponte da Crimeia foi levado a cabo pelo regime de Kiev. Este regime é terrorista por natureza e tem todas as características de um grupo internacional de crime organizado. As decisões são tomadas por funcionários governamentais e militares ucranianos com a participação directa de agentes dos serviços secretos americanos e britânicos e de figuras políticas. Os Estados Unidos e o Reino Unido dirigem [efectivamente] esta estrutura terrorista de tipo estatal", sublinhou.
A autoria ucraniana foi confirmada pela Agência France-Presse (AFP), que cita fontes de Kiev para confirmar que os ataques foram perpetrados pelos serviços especiais ucranianos e a Marinha de Guerra.
"O ataque de hoje contra a ponte da Crimeia é uma operação especial do SBU e da Marinha", indicou a mesma fonte dos Serviços Ucranianos de Segurança (SBU), que não quis ser identificada.
De acordo com agências de notícias ucranianas, como a Ukrinform, teriam sido utilizados “drones marítimos” no ataque à ponte, que se deslocaram à superfície da água e danificaram a estrutura.
Um inquérito para apurar a situação foi aberto pelas autoridades, que qualificam este ataque como sendo um “ato terrorista”. Vladimir Dzhabarov, primeiro vice-presidente do Comité do Conselho da Federação para os Assuntos Internacionais, chegou a afirmar que a Ucrânia deveria ser privada do acesso ao Mar Negro devido ao ataque à ponte, e pediu que Odessa e Nikolaev voltem a ser regiões russas.
Acordo de cereais entre os países terminou e permanecerá suspenso
Os acordos de cereiais do Mar Negro foram efectivamente suspensos na segunda-feira, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, aos jornalistas. O representante estima que a parte do acordo relativa à Rússia não foi cumprida.
"Os acordos do Mar Negro já não estão em vigor. O prazo, como o Presidente russo disse anteriormente, é 17 de julho. Infelizmente, a parte do acordo do Mar Negro que diz respeito à Rússia ainda não foi cumprida. Por conseguinte, foi rescindido", afirmou.
"Assim que a parte russa [do acordo] for cumprida, o lado russo voltará imediatamente à implementação deste acordo", acrescentou Peskov. De acordo com o mesmo, a suspensão do acordo não está relacionada ao ataque à ponte da Crimeia. "Não, estes acontecimentos não têm qualquer relação entre si. O Presidente russo Vladimir Putin declarou a posição [da Rússia relativamente ao acordo sobre os cereais] mesmo antes deste ataque terrorista".
Segundo Maria Zakharova, a Rússia notificou oficialmente a Turquia, a Ucrânia e o Secretariado da ONU de sua objeção à extensão do acordo.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, estima que Putin quer que o acordo de cereais continue. Ancara espera poder discutir sobre este acordo, incluindo a exportação de fertilizantes russos, com o seu homólogo russo durante um encontro que está marcado para Agosto.
Um acontecimento que intensifica a escalada retórica entre as duas capitais
Este ataque contribui para intensificar a escalada retórica entre as duas capitais, nomeadamente devido à conclusão da cimeira da NATO em Vílnius, na Lituânia, que terminou com a confirmação por parte de Washington, sobre o fornecimento de bombas de fragmentação a Kiev.
O uso destas bombas, que foi proibido em cerca de 120 países, está a gerar uma onda de reacções até mesmo por parte dos aliados de Washington, como o Reino Unido e o Canadá.
Em reacção a este acontecimento, o Presidente Russo, Vladimir Putin, afirmou no domingo que o seu exército tem “uma boa reserva” de bombas de fragmentação” e ameaçou usá-las na Ucrânia caso Kiev utilize este armamento fornecido pelos Estados Unidos.
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