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Reacções/Mali

Mali: "Esta Junta Militar prepara-se para fazer um acordo com os terroristas"

As tropas francesas, europeias e também canadianas vão retirar-se do Mali num prazo máximo de 6 meses, após um azedar de relações entre Paris e Bamaco. Em entrevista à RFI, Glória Silva, empresária radicada em Bamaco, capital maliana, diz não saber de que forma é que o exército maliano é capaz de garantir a segurança no território. 

Exército do Mali luta contra grupos jihadistas que agem no norte e centro do país.
Exército do Mali luta contra grupos jihadistas que agem no norte e centro do país. AFP/PHILIPPE DESMAZES
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"Não faço a menor ideia uma vez que eles não têm condições para garantir a segurança no território. Falta-lhes o apoio aéreo e homens. Não têm hipótese nenhuma, na minha modesta opinião", começou por referir a nossa entrevistada.

Glória Silva teme, pois, que o povo maliano passe a estar completamente desprotegido: "Aquilo que se ouve é essencialmente de Bamaco e, neste momento, mais de 25% dos jovens de 25 anos que falam sobre o norte, nem conhecem o norte, nem as dificuldades e também não têm noção do seu território, logo não vejo com bons olhos a saída da Barkane, da Takuba, nem dos canadianos porque efectivamente fica um exército militar maliano que não está coordenado", explicou a empresária.

Ouça agora o relato de Glória Silva:

 

00:51

Glória Silva comentário sobre exército maliano 18-02-2022

 

A empresária, salientou, contudo, que esta seria a única decisão possível por parte de França e da Europa.

"Nem os europeus, nem a França poderia fazer de outro modo. Neste momento, e é do conhecimento público, para se meter um drone no ar, esta Junta Militar cria um pré-aviso de 36 horas, ou seja, ninguém pode trabalhar no Mali neste momento, nem a nível privado, nem a nível militar com este tipo de Junta no poder", relatou-nos a portuguesa, que tem igualmente cidadania maliana.

Depois, Glória Silva fez a sua análise sobre a situação actual no Mali: "Esta Junta Militar está a fazer estas exigências todas porque o Iyad Ag Ghali, no norte, sempre disse que dava a paz ao Mali a partir do momento em que a França e a Europa saíssem e faltam as Nações Unidas, por isso, França e a Europa ele já conseguiu com esta junta".

"Neste momento, a Junta Militar tem um plano em marcha com o Iyad, que é um extremista e a guerra começou com esse extremista e toda a gente sabe que os extremistas, hoje dão-lhe tudo e amanhã tiram-lhe tudo e é isto que vai acontecer ao Mali", disse ainda.

Segundo a empresária, existe ainda muito desconhecimento da população maliana quanto aos dias difíceis que se avizinham: "Eles vão ter de ver isto no terreno, vão ter de ver que esta Junta Militar se prepara para fazer um acordo com os terroristas e o povo maliano só vai aperceber-se quando os terroristas chegarem a Bamaco porque no norte eles já estão, falta chegarem a Bamaco".

Ouça aqui parte da alocução:

 

01:16

Glória Silva comentário sobre o Mali 18-02-2022

 

Depois, a empresária falou sobre a reacção dos malianos à saída das tropas francesas e dos aliados do Mali. Por um lado, há quem manifeste muita preocupação, por outro há quem se mostre calmo após este desfecho.

"Se falo com amigos meus do norte, que estão no norte, e que vão continuar no norte, estes estão apreensivos, cheios de medo e dizem que dentro de pouco tempo, os jihadistas, Iyad Ag Ghali toma conta de todo o norte e chega a Bamaco", referiu.

Já quem está em Bamaco não tem "nenhuma noção do norte e acham que o coronel Assimi Goita vai defender o Mali".

"Hoje, em Bamaco, a maior parte da população residente está convencida de que o exército maliano os vai defender e que vão ser soberanos. É o que está na linguagem do dia-a-dia por todo Bamaco", rematou.

Ouça a restante alocução da nossa convidada:

00:45

Glória Silva sobre reacção malianos à saída das tropas francesas 18-02-2022

De salientar que França manteve tropas suas na antiga colónia da África ocidental ao longo de nove anos, numa primeira fase, em 2013, para evitar a ocupação por jihadistas da capital, Bamaco.

Segundo o chefe de Estado maior das forças armadas francesas, com esta retirada do Mali daqui a seis meses, manter-se-ão ainda na região entre 2.500 e 3.000 soldados gauleses.

De referir ainda que os dois golpes de Estado perpetrados no Mali, em 2020 e 2021, trouxeram para o poder em Bamaco uma junta militar que descarta organizar eleições nos próximos anos e tem capitalizado o sentimento anti-francês crescente que se tem instalado.

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