EUA tornam a colocar Cuba entre os países que apoiam o terrorismo
A nove dias da tomada de posse do Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, a administração do Presidente cessante, Donald Trump, anunciou na noite de ontem ter voltado a colocar Cuba na lista negra dos países que apoiam o terrorismo, lista da qual a ilha caribenha tinha sido retirada em 2015 pela administração Obama. Com esta decisão, Trump poderia dificultar o restabelecimento de relações serenas entre os Estados Unidos e Cuba desejada pelo futuro Presidente Biden.
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Ao acusar Cuba de “ter repetidamente apoiado o terrorismo no hemisfério ocidental”, o chefe da diplomacia americana Mike Pompeo anunciou que “com esta medida, volta-se a responsabilizar o governo de Cuba e envia-se uma mensagem clara: o regime de Castro deve acabar com seu apoio ao terrorismo internacional e a subversão da justiça americana”.
“Falcão” da administração americana e um dos últimos fiéis colaboradores de Donald Trump, Pompeo acusa o regime cubano de ter nomeadamente "alimentado, albergado e cuidado durante anos de assassinos, artífices e piratas enquanto muitos cubanos precisavam de comida, abrigo e medicamentos básicos".
Para justificar esta decisão, Mike Pompeo referiu-se à recusa de Havana em extraditar dez membros do Exército de Libertação Nacional (ELN) para a Colômbia após o atentado de Janeiro de 2019, reivindicado pelo grupo, contra a escola de cadetes de Bogotá, que causou a morte de 22 pessoas.
“Cuba também dá as boas-vindas a vários americanos em fuga da justiça, procurados ou acusados de violência política”, indicou ainda o comunicado de Mike Pompeo referindo-se à recusa de Cuba de também entregar fugitivos americanos a quem concedeu asilo, nomeadamente um militante negro condenado pela morte de um militar nos anos 70.
Reagindo a este anúncio, o seu homólogo cubano, Bruno Rodríguez denunciou o que qualificou de “oportunismo politico” por parte da administração Trump. “Condenamos a designação cínica e hipócrita de Cuba como Estado patrocinador do terrorismo anunciada pelos Estados Unidos da América. O oportunismo político desta acção é reconhecido por todos os que estão realmente preocupados com o flagelo do terrorismo e as suas vítimas”, escreveu no Twitter o ministro cubano dos Negócios Estrangeiros.
Com esta decisão da administração Trump, Cuba volta a integrar o grupo de países como o Irão, a Coreia do Norte e a Síria acusados de apadrinhar o terrorismo internacional, lista negra da qual a ilha tinha sido removida em 2015 pelo Presidente Obama que foi em 2016 o primeiro chefe de Estado americano a efectuar uma visita a Cuba desde a revolução castrista em 1959.
Na altura, este primeiro passo dos Estados Unidos tinha suscitado a esperança numa melhoria das relações entre este país e Cuba.
Contudo, durante os quatro anos do seu mandato, o sucessor de Obama voltou atrás na flexibilização do embargo imposto a Cuba desde 1962 e tornou a impor restrições sobre transferências de dinheiro e viagens entre os dois países.
Vice-presidente aquando da reaproximação entre Washington e Havana, Joe Biden não escondeu durante a sua campanha eleitoral o desejo de actuar rapidamente para reverter esta situação.
Com o anúncio da administração cessante de tornar a colocar Cuba na lista negra dos países que apoiam o terrorismo, não só se desfaz um pouco mais o legado da presidência Obama, como também se complica a acção futura de Joe Biden.
Com efeito, para voltar atrás nesta decisão, a futura administração americana deverá encetar um longo e complexo processo legal, implicando a necessidade para o Departamento de Estado de demonstrar que Cuba não teve elos com acções terroristas nos últimos seis meses.
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