Feira da agricultura arranca em Paris com ânimos exaltados
Paris – Abriu neste sábado ao público a emblemática Feira internacional da agricultura de Paris. Numa altura em que o contexto é de muita crispação entre os camponeses e o governo, com sectores de agricultores ainda reticentes quanto às medidas que o Estado anunciou em prol do mundo rural. O presidente francês, Emmanuel Macron, compareceu na abertura do certame.A abertura ao público acabou por ser adiada uma hora e meia.
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Muitos sectores agrícolas continuam a contestar as medidas anunciadas pelo governo para a área e é, pois, sob forte tensão que arranca a Feira da agricultura de Paris, evento que decorre até 3 de Março.
O presidente Emmanuel Macron avistou-se à porta fechada com criadores de gado.
Pascal de Lima é economista chefe do organismo CGI Business consulting. Ele atribui as razões desta crise à concorrência desleal que sofrem os camponeses e também aos efeitos da Política agrícola comum.
"Esta crise vem, claramente, do facto que os agricultores franceses estão a enfrentar uma concorrência internacional, uma concorrência na Europa também, com o seus parceiros europeus. Particularmente no domínio dos produtos da carne, dos produtos de cereais. Essa concorrência é muito estranha porque a França tem uma vantagem comparativa. Tem uma capacidade de exportação muito forte. E não aproveita essa capacidade de exportação muito forte. É a primeira potência agrícola europeia ! E a França importa certos produtos agrícolas e exporta os seus próprios produtos. E isso é uma pena para os franceses não poderem aproveitar dessa qualidade dos seus produtos."
"O problema da Política agrícola comum é que cria, também, muita desigualdade do sector agrícola francês. São as grandes propriedades agrícolas que beneficiam mais e não são, realmente, 80% dos agricultores. E, portanto, mesmo, dentro do sector agrícola, existem desigualdades importantes."
Pascal de Lima comenta, também, a margem do governo para entrar na disputa relativa às margens de lucro entre, de um lado, os produtores, e, do outro, os hipermercardos e o circuito de distribuição.
"O problema é, realmente, a indústria agro-alimentar, primeiro, com uma margem económica [de lucro] de uma média de 30% e as marcas da grande distribuição cujas margens são à volta de 1 ou 2%. Não sei quem é que está a falhar no sistema ! Eu acho que são mais as grandes indústrias agro-alimentares. O governo, o seu papel, é de criar mais transparências: mais transparências nos custos de produções e transparências nos preços finais para os consumidores. O governo não pode ir além disso: impor as transparências dos custos de transparências e das margens dos produtos finais e impor também certas regulamentações em relação a certas promoções. Para que não haja promoções sempre e respeitar, também, os rendimentos dos agricultores."
Este economista chefe do organismo CGI Business consulting comenta o facto de o Estado ter decidido voltar atrás quanto à proibição de alguns pesticidas, como exigido pelos ambientalistas, numa medida visando agradar ao sector agrícola.
"Estamos numa transformação agrícola e ecológica e no sector agrícola, como nos demais também. Além disso acho que o sector agrícola também teve um certo atraso no desenvolvimento das novas tecnologias. Nas novas tecnologias duradouras para desenvolver a produção. É preciso, também, salientar esse ponto. O governo pode ter, em relação à ecologia certos pontos negativos, em relação às pessoas que defendem a ecologia ! Mas isso também é do domínio europeu e existem também dificuldades em se entender a nível europeu sobre os pesticidas, por exemplo. Estamos também frente a um problema europeu."
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