“Perdas e danos” podem ditar prolongamento da COP 27
Em Sharm el Sheikh, no Egipto, hoje é o último dia previsto da conferência das Nações Unidas sobre o clima, todavia as difíceis negociações em curso podem ditar o prolongamento da COP 27. Em causa o dossier das “perdas e danos”.
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“Perdas e danos” é um dos dossiers mais controversos desta Cimeira do Clima, que tem esta sexta-feira como data prevista de encerramento. Trata-se da compensação financeira dos países ricos aos danos e perdas provocados pelas alterações climáticas nos países mais pobres.
Esta manhã a agência das Nações Unidas para o Clima publicou um projecto de resolução no quadro da COP 27, todavia o documento não apresenta soluções sobre a questão das “perdas e danos”. O texto baseia-se em duas versões do rascunho anteriormente divulgadas e apresenta uma alínea que diz que as delegações continuam à procura de um consenso sobre a questão.
Este ano fica marcado pela multiplicação de catástrofes ligadas às alterações climáticas: inundações, secas ou violentos incêndios.
Face às catástrofes cada vez mais recorrentes e mais violentas, os países do Sul, muito expostos aos impactos, mas pouco responsáveis pelas emissões de gases com efeito de estufa que provoca o aquecimento global do planeta, exigem um acordo de princípio, rubricado em Sharm el Sheikh sobre a criação de um fundo dedicado exclusivamente às “perdas e danos”.
Os países do Norte, por seu lado, aceitaram a integração deste ponto na agenda oficial da COP, mas pedem um período suplementar para discussões antes de qualquer decisão.
Ontem à noite, a União Europeia fez uma "última proposta" que consiste na criação de fundos especiais destinados a cobrir as perdas e danos nos países mais vulneráveis, financiados por uma “base alargada de doadores” das economias emergentes com fortes emissões, como a China.
Uma proposta que parece ter sido acolhida como “uma boa notícia”, mesmo se continuam a existir algumas divisões.
Já na manhã desta sexta-feira, Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia lembrou que se trata de uma “proposta final”, acrescentando que “em qualquer negociação se uma parte cede e a outra não se mexe, ao fim de algum tempo a negociação termina.”
As negociações acontecem num ambiente de grande desconfiança. Em 2009, os países ricos comprometeram-se a financiar à altura de 100 mil milhões de dólares por ano os financiamentos destinados aos países em desenvolvimento para a adaptação às alterações climáticas e redução das emissões. Compromisso que não foi honrado.
Ontem ao fim do dia, de regresso da cimeira do G20 em Bali, Indonésia, o secretário-geral da ONU, António Guterres pediu às partes para ultrapassarem as suas diferenças e pararem de “apontar o dedo “mutuamente. Guterres sublinhou que “a forma mais eficaz de restabelecer a confiança é de encontrar um acordo ambicioso e credível sobre as perdas e danos e o apoio financeiro aos países em desenvolvimento.”
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