RDC: O papel da ONU na crise do Kasai
A RFI divulga hoje a terceira vertente da investigação sobre a instabilidade político-militar no Kasai. Em causa o papel da ONU na crise da violência que tem ensombrado esta região do sul da República democrática do Congo.
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A situação no Grande Kasai degenerou em menos de 10 mois. Após a faísca de Agosto de 2016, assistimos a uma crise de grandes proporções.
Pelo menos quarenta e duas valas comuns e muitas investigações ainda por levar a cabo. Mais de um milhão de deslocados e dezenas de milhar de refugiados em Angola.
A missão da ONU no antigo Zaire é a mais cara do mundo : mais de mil milhões de orçamento anul, quase 20 000 homens e 18 anos de presença. Como é que reagiu a ONU ?
Quando o chefe Jean-Prince Mpandi é abatido a 12 de Agosto de 2016, ninguém lhe dá muita importância tanto mais que ninguém nessa na altura no Grande Kasai.
Na altura a comunidade internacional tem duas prioridades : as negociações visando um diálogo inter-congolês e a organização de eleições. Kamuina Nsapu não é na altura senão um chefe tradicional do qual nunca ninguém ouviu falar.
No dia seguinte à sua morte a 13 de Agosto ocorre o massacre de Rwangoma no leste do Congo Kinshasa. Nesse bairro, a dois ou três quilómetros da residência do chefe de Estado registam-se 51 mortos. Joseph Kabila acaba de deixar a cidade após ter prometido a paz em Beni.
Este massacre assemelha-se a uma mensagem que lhe seria enviada. A situação degrada-se em todo o lado. A RDC tem nove fronteiras, demasiadas riquezas e todos os problemas que isso implica.
Após as crises ruandesa, burundesa e centro-africana, a crise sul-sudanesa acaba por ter eco no Congo dito democrático. Consequência : dezenas de milhar de refugiados e consequentes combatentes. Riek Machar e os seus homens chegam ao leste da RDC. A ONU tem que estar em todas as frentes.
Mas é preciso esperar ainda por Dezembro de 2016 para que uma centena da capacetes azuis sejam mobilizados para Kananga no Kasai-Central.
Desde a primeira mensagem de alerta em Novembro desse ano a missão da ONU não insistiu na questão das valas comuns nem nos abusos atribuídos ao exército.
No Grande Kasai o que transparece nos relatórios da ONU é uma utilização desproporcionada da força perante uma revolta popular, onde constam maioritariamente menores.
Quando, a 29 de Março de 2017, a Monusco anuncia, após o governo de Kinshsa, a descoberta dos corpos dos seus dois peritos e a sua identificação o tom dos comunicados aí muda.
A 24 de Abril de 2017, o ministre da Comunicação da RDC, Lambert Mendé, e o porta-voz da polícia, o coronel Mwanamputu, difundem o video da execução dos peritos e acusam as milícias Kamuina Nsapu de serem responsáveis pelo crime.
As milícias teriam aliciado os peritos prometendo-lhes que poderiam ver as valas comuns. Nada no video o indica. Mas o gouverno de Kinshasa faz questão em ser o primeiro a comunicar sobre o desaparecimento dos peritos e a descoberta dos seus corpos.
O executivo da RDC conclui rapidamente a sua investigação, demasiado depressa, confirma a ONU e o julgament já começou. Para o poder de Kinshasa, nem pensar numa investigação internacional independente nem sobre as valas comuns nem sobre a morte de Michael J Sharp e Zaida Catalan.
Confira aqui o documento da RFI (em francês) sobre a ONU e a crise do Kasai.
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