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Mali

Mali: Junta militar acusa ONU de “narrativa fictícia”

A Junta militar no poder no Mali acusa o recente relatório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas, que dá conta de pelo menos 500 execuções em Moura, de ser "tendencioso e baseado numa narrativa fictícia". De acordo com Bamaco, "nenhum civil perdeu a vida durante a operação militar”. O Mali vai "abrir uma investigação" por "espionagem, ataque à segurança externa do Estado" e "conspiração militar".

A Junta militar no poder no Mali acusa o recente relatório das Nações Unidas de ser "tendencioso e baseado numa narrativa fictícia".
A Junta militar no poder no Mali acusa o recente relatório das Nações Unidas de ser "tendencioso e baseado numa narrativa fictícia". © MICHELE CATTANI/AFP
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“Um relatório tendencioso, baseado numa narrativa fictícia”, é assim que a Junta militar no poder no Mali começa por caracterizar o recente relatório da ONU que acusa exército maliano e combatentes "estrangeiros” de ter executado, pelo menos, 500 pessoas numa operação antijihadista em Moura, em Março de 2022.

De acordo com o porta-voz do governo maliano, coronel Abdoulaye Maïga, a justiça local abriu um processo de investigação ao sucedido em Moura e "nenhum civil perdeu a vida durante a operação militar”, entre os mortos, acrescenta o coronel "apenas se encontravam combatentes terroristas”.

Segundo o relatório divulgado, na sexta-feira, pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas, os acontecimentos em Moura (centro do país), alvo de versões contraditórias desde há um ano, são os piores do género num país já familiarizado com atrocidades cometidas por jihadistas e outros grupos armados desde 2012. 

O Alto-comissário "tem motivos para acreditar" que, pelo menos, 500 pessoas, incluindo cerca de 20 mulheres e sete crianças, foram "executadas pelas Forças Armadas do Mali e militares estrangeiros" entre 27 e 31 de Março de 2022 nesta localidade, pode ler-se no texto. 

Este relatório baseia-se numa investigação da Divisão de Direitos Humanos da missão Capacetes Azuis implantada no Mali desde 2013 (Minusma), 157 entrevistas individuais e 11 entrevistas em grupo, entrevistas às vítimas, testemunhos, fontes médico-legais e imagens de satélite. Os autores do documento não obtiveram autorização das autoridades de transição para se deslocarem ao local.

A junta militar no poder no Mali, diz ter tomado conhecimento "com espanto" da investigação que utilizou satélites sobre Moura para obter imagens "sem autorização e sem o conhecimento das autoridades" locais. 

Bamaco acrescentou que vai "abrir imediatamente uma investigação" por "espionagem, ataque à segurança externa do Estado", bem como "conspiração militar".

Acrescentar, ainda, que o relatório avança que há fortes indícios que confirmam a "violação e outras formas de violência sexual" de 58 mulheres e raparigas.

Os peritos da ONU começam por relatar a chegada de cinco helicópteros militares num dia de mercado, atirando indiscriminadamente sobre a população. Depois falam em quatro dias de execuções sumárias de habitantes, nas suas próprias casas, simplesmente por usarem barba comprida e calças largas. As pessoas executadas foram atiradas para valas comuns, cavadas por elas próprias.

Os actos agora relatados podem constituir crimes de guerra e, "dependendo das circunstâncias", crimes contra a humanidade, segundo Volker Türk, alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

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