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República democrática do Congo

Cessar fogo no Leste da RDC gera cepticismo junto da população

RDC – O cessar-fogo anunciado pela mediação angolana para o Leste da República democrática do Congo entrava em vigor ao meio-dia (11h TMG) desta terça, 7 de Março. Um protocolo obtido a 3 de Março pela mediação angolana junto dos rebeldes do M23, tidos como próximos do regime do vizinho Ruanda. No antigo Zaire a população parece pouco acreditar numa paz efectiva.

Deslocados no campo de Kigonzi (Leste da RDC) desde há 5 anos, alguns dentre eles sem esperança de voltar as suas casas.
Deslocados no campo de Kigonzi (Leste da RDC) desde há 5 anos, alguns dentre eles sem esperança de voltar as suas casas. © Coralie Pierret/RFI
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A 17 de Fevereiro Angola tinha sido mandatada pela União Africana, aquando da cimeira de Addis Abeba, para encetar negociações com os rebeldes do M23, activos de novo no Leste da República democrática do Congo.

Luanda teria acolhido neste sentido, na semana passada, chefes do movimento, tido como próximo do regime do vizinho Ruanda.

E isto até ao anúncio a 3 de Março por Angola da obtenção deste cessar-fogo.

Numa primeira fase a mediação era feita através dos esforços de Angola, do Quénia, mas também do Burundi.

Com a degradação da relação entre os chefes de Estado da RDC e do Ruanda as negociações foram dificultadas.

A 12 de Janeiro uma delegação do M23, liderada por Bertrand Bisimwa, tinha-se deslocado a Mombassa, no Quénia, sob os auspícios de Uhuru Kenyatta, o mediador da EAC (Comunidade dos Estados da África de Leste).

A rebelião tinha-se comprometido em prosseguir a sua retirada e em respeitar um cessar-fogo. A retirada de Rumangabo e de Kishishe não veio, porém, a ocorrer.

Agora com o cessar-fogo obtido por Angola o presidente francês, de passagem pelo antigo Zaire, no passado fim de semana, tinha declarado que sanções poderiam vir a ser accionadas em caso de desrespeito do cessar-fogo.

Momentos antes da sua entrada em vigor eram assinalados, porém, combates em Masisi e Rutshuru.

A agência AFP alega que combates opondo o exército de Kinshasa aos rebeldes do M23 estavam activos desde a manhã da segunda, 6 de Março, na província do Kivu Norte, com registo de mortos e feridos civis, de acordo com fontes hospitalares e humanitárias.

A população do antigo Congo belga reage com muita prudência e, mesmo, algum cepticismo, a este anúncio como nos relata a partir da RDC o Padre Marcelo de Oliveira.

"Acordos a República democrática do Congo assinou tantos, e cessar-fogo e acordos de paz, acordos de fim de revolta, de rebeliões... eu creio que a população olha para tudo isto com uma certa passividade e uma certa expectativa de ver se é um acordo que poderá durar."

Este clérigo, presente, na RDC, alega que os rebeldes do M23, tidos como próximos do regime do vizinho Ruanda, têm estado a aterrorizar a população, sem grande mobilização, no entanto, da comunidade internacional, nem da França cujo presidente esteve este fim de semana em Kinshasa.

"A grande convicção que o povo tem é que são ruandeses que ocupam a parte Leste do país. E continuam a roubar, continuam a massacrar, com a intenção de acabar com a população porque, no fundo, acaba por ser um extermínio da população local para, depois, permitir a ocupação."

02:28

Padre Marcelo de Oliveira, testemunho da RDC, 7/3/2023

Questionado sobre se a população acredita nas sanções francesas, em caso de desrespeito do cessar-fogo o religioso alega que não é o caso, reforçando o cepticismo no terreno e lembrando as manifestações contra a presença de Emmanuel Macron, presidente francês, na RDC, incluindo com bandeiras russas.

"Significa que a França preocupa-se com a Rússia [na sequência da invasão da Ucrânia], com todos os massacres que existem por parte da Rússia. Mas com toda a quantidade de mortos que existem na República democrática do Congo, dizer que vem com 34 milhões de dólares para ajudar na implantação da paz... poderá fazer alguma coisa, mas não creio... Creio que são muitos os interesses que estão por detrás de todos esses acordos e, mesmo desta visita [do presidente francês a 4 de Março a Kinshasa]."

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