Burkina Faso confirma que pediu retirada de tropas francesas
O porta-voz do governo do Burkina Faso confirmou, esta segunda-feira, que as autoridades de Ouagadougou pediram a retirada das tropas francesas do território no prazo de um mês. Este domingo, o Presidente francês disse aguardar “esclarecimentos” do Presidente de transição do país.
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Em entrevista à Rádio-Televisão do Burkina (RTB), o porta-voz do executivo interino, Jean-Emmanuel Ouedraogo, confirmou, esta segunda-feira, que as autoridades de Ouagadougou pediram a retirada das tropas francesas do território no prazo de um mês. “Do que nos desvinculamos é do acordo que permite às forças francesas de estarem no Burkina Faso. Não se trata do fim das relações diplomáticas entre o Burkina Faso e a França”, declarou.
O responsável acrescentou que o país deve defender-se a ele próprio e que quer que a França continue a apoiar, mas apenas com equipamento.
A agência France Presse tinha adiantado, horas antes, ter tido acesso a um correio do ministério dos Negócios Estrangeiros do Burkina Faso, datado de 18 de Janeiro, no qual Ouagadougou "desvincula-se e sai do acordo de 17 de Dezembro de 2018 relativo ao estatuto das forças armadas francesas que intervêm” no país.
Interrogado sobre o tema, o Presidente francês disse esperar pelas declarações e esclarecimentos do Presidente de transição e alertou para que não haja “manipulação” do que chamou “amigos russos”. Em causa, a vontade de Ouagadougou de reforçar as parcerias com Moscovo, algo sublinhado, na semana passada, pelo chefe de governo Apollinaire Kyélem de Tembela, depois de um encontro com o embaixador russo e um mês depois da sua visita a Moscovo.
“Aguardo que o Presidente de transição [Ibrahim] Traoré se exprima porque parece que as mensagens estão envoltas em uma grande confusão e ele está fora da capital. Devemos ser prudentes e ficar atentos ao que é uma especialidade de alguns na região – e que pode ter algo a ver com o que estamos a viver na Ucrânia, ou seja, que os nossos amigos russos não façam manipulações. Aguardamos esclarecimentos do Presidente Traoré sobre o assunto”, declarou Emmanuel Macron, este domingo.
No verão passado, no Mali vizinho, a junta no poder também pediu à França para retirar a sua força do país após nove anos de luta contra o terrorismo. Na altura, várias fontes relataram que a pedido de Bamaco, o grupo paramilitar russo Wagner começou a entrar no país no final de 2021, algo que a junta militar desmente.
Tal como aconteceu no Mali, a presença militar de França, antiga potência colonial, tem vindo a ser contestada desde o golpe militar de Setembro. Na última sexta-feira, houve mais uma manifestação para exigir a retirada das forças francesas e no início de Janeiro a junta militar pediu a saída do Embaixador de França, Luc Hallade, que tinha denunciado a degradação da segurança no país.
Desde 2015, o Burkina Faso, sobretudo no norte, tem sido alvo de ataques de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao autoproclamado Estado Islâmico e que fizeram milhares de mortos e, pelo menos, dois milhões de deslocados.
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