Youtuber crítica em relação ao poder no Ruanda foi condenada a 15 anos de prisão

A justiça ruandesa condenou ontem uma youtuber muito crítica em relação ao poder de Paul Kagame a 15 anos de prisão e 2000 Dólares de multa por "incitação à violência". De acordo com a ONG Human Rights Watch, têm-se multiplicado as perseguições contra as vozes dissonantes no Ruanda. 

A youtuber Yvonne Idamange foi detida no passado mês de Fevereiro. Martin Bureau AFP/Archivos

Yvonne Idamange, Youtuber de 42 anos e mãe de quatro filhos, foi reconhecida culpada de seis crimes, incluindo incitação à violência, insurreição, propagação de rumores e agressão, a activista tendo sido condenada a 15 anos de detenção e ao pagamento de uma multa de 2 mil Dólares, com a acusação a reclamar 30 anos de prisão e uma multa de 6 mil Dólares.

A Youtuber que se apresenta como uma sobrevivente do genocídio durante o qual morreram mais de 800.000 pessoas, foi condenada por ter acusado no seu canal "Idamange" o presidente ruandês e o seu governo de terem instaurado uma ditadura e de instrumentalizar a memória do genocídio de 1994 sem prestar apoio suficiente aos sobreviventes.

Yvonne Idamange, seguida por mais de 18.900 assinantes e cujos vídeos são vistos em média 100 mil vezes, foi igualmente acusada de agredir e causar ferimentos a um agente das forças da ordem aquando da sua detenção no passado mês de Fevereiro, a youtuber tendo entretanto boicotado as audiências alegando que o tribunal estava a ser parcial por não autorizar a difusão do seu julgamento online.

Expressando-se sobre este processo, a Human Rights Watch considerou que "o seu objectivo era intimidar qualquer pessoa pretendendo expressar opiniões críticas ou controversas". Segundo dados divulgados no passado mês de Março por esta ONG de defesa dos Direitos Humanos, pelo menos oito pessoas que comentaram online assuntos públicos foram ameaçadas, presas ou processadas em 2020 no Ruanda.