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Guiné Equatorial

3 dias de luto nacional na Guiné Equatorial na sequência das explosões de Bata

O presidente da Guiné Equatorial decretou ontem oficialmente três dias de luto nacional, a partir de hoje, pelas vítimas das explosões no quartel militar de Nkuatama, em Bata, e mobilizou 15,2 milhões de Euros para responder à catástrofe que, segundo um último balanço, provocou 105 mortos e 615 feridos.

Imagem da televisão pública da Guiné Equatorial com algumas das vítimas das explosões ocorridas neste Domingo 7 de Março de 2021, em Bata.
Imagem da televisão pública da Guiné Equatorial com algumas das vítimas das explosões ocorridas neste Domingo 7 de Março de 2021, em Bata. AFP - -
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As autoridades da Guiné Equatorial declararam a cidade de Bata "zona de catástrofe" e foram actividades "medidas urgentes para proteger os sinistrados assim como solucionar os danos causados pelas explosões". Nesta óptica foi desbloqueado um fundo inicial de um pouco mais de 15 milhões de Euros para fazer face às necessidades financeiras de emergência, um fundo gerido pelo Comité Nacional de Emergências presidido pelo Ministério do Interior.

O executivo de Malabo reforçou igualmente no seu decreto um apelo à "solidariedade" por parte da comunidade internacional e dos parceiros de desenvolvimento, o governo tendo por outro lado assegurado "estar a redobrar esforços para apurar por completo os acontecimentos e as responsabilidades" neste acidente.

Enquanto isso, os habitantes da cidade sinistrada, tentam entreajudar-se, organizando uma solidariedade de fortuna, conforme disse à RFI uma habitante de Bata dando conta de um cenário de destruição e dor.

"Pessoalmente, só tenho danos materiais: as janelas do meu apartamento foram destruídas. Mas há muitos vizinhos que perderam todos os membros das suas famílias. Outros perderam as suas casas e estão a morar temporariamente em abrigos fora das suas residências. Alguns voltaram para as famílias, para a aldeia, para o interior do país", contou a moradora de Bata. "De momento, existe ajuda mútua informal, numa base voluntária. Por exemplo, esta manhã andei pela vizinhança a perguntar às pessoas como poderíamos ajudá-las. Que os sobreviventes tenham pelo menos o mínimo básico, um pouco de comida e medicamentos. Algumas empresas do país também participam um pouco nessa ajuda mútua. O problema é que faltam informações claras sobre se chega ou não ajuda externa, quando vai chegar, o que realmente está a acontecer", acrescentou.

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Testemunho de moradora de Bata

Continua a incógnita sobre as circunstâncias exactas do sucedido.

Logo no Domingo, o Presidente Obiang acusou os responsáveis do campo militar de Bata de ter armazenado explosivos demasiado perto de zonas de habitações. Contudo, a Human Rights Watch apelou o executivo a autorizar peritos internacionais a efectuar uma investigação independente sobre a origem das explosões e preconizou que os doadores e grupos de apoio "deveriam enviar ajuda directamente para as pessoas sinistradas em vez de enviá-la para o Governo", perante os "elevados níveis de corrupção".

Ao dar conta do que se conseguiu apurar até ao momento sobre as circunstâncias das explosões de Domingo, Manuel Frederico Pinheiro, embaixador de Portugal em Malabo, refere que "quer a versão oficial, quer a versão de testemunhos de todos aqueles que assistiram aponta para causas acidentais".

Questionado sobre o apelo à solidariedade lançado pelo presidente equato-guineense, o embaixador Manuel Frederico Pinheiro, dá conta do empenho da comunidade internacional e nomeadamente da União Europeia no terreno, no sentido de ajudar as autoridades locais a dar uma resposta a esta situação.

"Desde o primeiro momento que encetamos esforços no sentido de tentar corresponder com rapidez e com o máximo de eficiência possível ao apelo lançado pelas autoridades da Guiné Equatorial. A embaixada de Portugal em Malabo desempenha neste momento as funções de presidência local da União Europeia e essa foi desde logo uma das vertentes em que nos empenhamos. Em tempo muito curto foi possível obter a activação do mecanismo Europeu de protecção civil que é o mecanismo da União Europeia que permite apoiar esforços dos Estados-membros da União Europeia que têm em vista fornecer apoio em situações deste tipo de emergência. Foi activada com grande rapidez e já está em acção nomeadamente no quadro de varias cargas de medicamentos e de outros materiais de apoio humanitário provenientes de Espanha e, em breve, provenientes de outros países da União Europeia. A nível de Portugal, está-se a considerar, naturalmente no quadro das relações bilaterais, acorrer a determinadas necessidades que serão assinaladas especificamente pelas autoridades da Guiné Equatorial em domínios que tenham a ver com o conforto a dar às populações civis afectadas e eventualmente também noutras áreas específicas como a questão da saúde e dos tratamentos", informou o diplomata português.

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Manuel Frederico Pinheiro, embaixador de Portugal na Guiné Equatorial

A Espanha, ex-potência colonial, anunciou o envio esta quarta-feira de um avião com ajuda humanitária, os Estados Unidos tendo anunciado por sua vez a deslocação de peritos ao terreno para ajudar "o governo a avaliar os danos e esforços de reconstrução".

De referir que apesar das suas grandes reservas de hidrocarbonetos, cuja exploração representa 90% das receitas deste país, a Guiné Equatorial tem conhecido dificuldades económicas devido à queda do preço do petróleo desde 2014. Este país tem sido igualmente apontado por organizações de defesa dos Direitos Humanos pelos seus atropelos à liberdade assim como os seus altos graus de corrupção.

 

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