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Hóquei em Patins

André Centeno: «A Selecção Angolana de hóquei em patins está em processo de renovação»

O torneio de hóquei em patins masculino de Montreux, na Suíça, terminou neste fim-de-semana com o triunfo da Argentina, o quarto na prova, derrotando na final Portugal por 5-2, enquanto Angola ficou no sexto lugar.

André Centeno capitão de Angola.
André Centeno capitão de Angola. © Cortesia Worldskate
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O mais prestigiado torneio internacional de hóquei em patins decorreu em Montreux em território suíço com a participação de oito equipas, inclusive as seis melhores do mundo - Angola, Portugal, Argentina, França, Itália e Espanha, bem como as duas equipas da casa, a Suíça e o clube de Montreux.

A Argentina venceu o torneio pela quarta vez, derrotando a Selecção Portuguesa na final por 5-2. Os portugueses, que triunfaram vinte e uma vezes na prova, arrecadaram a medalha de prata.

A França ficou no terceiro lugar, derrotando, nas grandes penalidades, por 2-1 a Itália após o empate a cinco golos no fim do tempo regulamentar e do prolongamento.

A Espanha acabou por terminar na quinta posição, vencendo por 5-4 a Selecção Angolana, isto enquanto a Suíça ficou no 7° lugar e Montreux no oitavo e último.

Em cinco jogos, Angola triunfou duas vezes por 3-2 frente aos suíços e por 5-2 perante o Montreux, tendo sofrido três derrotas: 3-7 frente aos argentinos, 3-5 perante os italianos e 4-5 com os espanhóis.

André Centeno (esquerda), capitão de Angola.
André Centeno (esquerda), capitão de Angola. © Cortesia Coupe des Nations de Rink Hockey

Em entrevista exclusiva à RFI, André Centeno, capitão de Angola de 38 anos, analisou a participação da Selecção Angolana, que está em processo de renovação, e abordou o futuro desta equipa que tem pela frente o próximo Mundial.

De referir que o Mundial de hóquei em patins decorre de 16 a 22 de Setembro de 2024 em Novara, na Itália, contando com a presença de três países lusófonos: Angola e Portugal na primeira divisão, e o Brasil na segunda divisão, sendo que Moçambique, como não participou no ultimo CAN, está fora da prova.

RFI: O que representa este sexto lugar para Angola ?

André Centeno: Este lugar é o reflexo do trabalho que temos vindo a realizar ao longo dos anos. Apesar de ter sido um sexto lugar, é um sexto lugar com um sabor doce, digamos assim, na medida em que nós defrontámos equipas de alto nível. Portanto, no primeiro jogo, defrontámos a Argentina, em que estivemos empatados no intervalo, e na segunda parte, com uma quebra física, eles conseguiram dilatar o resultado. No segundo jogo, frente à Itália, potência europeia, também perdemos por cinco a três, tendo também disputado o jogo até ao último minuto. Depois, obviamente que conseguimos cumprir, digamos assim, frente ao Montreux e frente à Suíça, conseguimos mostrar o nosso valor e ganhar esses dois jogos. Frente à Espanha, uma equipa que dispensa apresentações, conseguimos também dar uma excelente réplica, inclusivamente e na minha modesta opinião, apesar do grande volume ofensivo da equipa espanhola, julgo que podíamos ter terminado o jogo com um resultado diferente. Mas lá está, é o sexto lugar que nos traz bons indicadores, bons indicadores para o futuro, para o Mundial que aí vem. Por isso mesmo, vamos agora descansar e começar a preparar essa prova, cada atleta nos seus clubes, mas já com o Mundial, digamos assim, na mente dos atletas.

RFI: Nesse jogo frente à Espanha, sai-se com sabor amargo ou nem tanto?

André Centeno: Sabemos a capacidade da Espanha. Temos a humildade suficiente para perceber quem é a equipa que está do outro lado, quem é que nós somos e quais são as nossas armas. Obviamente que delineámos uma estratégia para contrariar a estratégia espanhola e assim o conseguimos fazer até um minuto e meio do fim. Vencíamos por 4-3 e inclusivamente vimos um golo ser anulado pelos árbitros, que poderia ter dilatado a nossa vantagem e que podia ter mudado o rumo do jogo. Depois a Espanha com a qualidade que tem, e também já com algum cansaço da nossa parte, conseguiu empatar e depois no final até conseguiu dar a volta ao resultado. Obviamente que acaba por ser um resultado amargo pela forma como se desenrolaram os minutos finais, porque estávamos na frente do marcador, mas efectivamente, como eu disse anteriormente, traz-nos bons indicadores para o futuro.

RFI: Angola, mesmo em reconstrução, tem que mostrar um bom hóquei em patins?

André Centeno: Sim, sem dúvidas. Obviamente que a fase das renovações, das reconstruções, que são importantes e fazem parte dos ciclos naturais do desporto, trazem a entrada de novos valores, substituindo os mais antigos. Mas obviamente que depois existe também um nome, um país a dignificar e, portanto, devem ser feitos de forma gradual, sempre no sentido de poder manter ou, aliás, melhorar os resultados actuais e perspectivar um bom futuro. Portanto, lá está, da nossa parte, estamos a passar por esse período, por esse processo, faz parte e conseguimos, efectivamente, apesar das baixas expectativas que haviam do nosso entorno, dar uma excelente réplica. E a estratégia tem que ser mesmo esta.

RFI: Em relação a esta reconstrução, muitas vezes fala se que é complicado encontrar jovens atletas no hóquei em patins para uma renovação, sobretudo para certas seleções em que, por exemplo, o hóquei em patins em Angola não tem aquele profissionalismo que possa ter em outros países e não tem aquela valorização para certos atletas continuarem nessa modalidade e irem para o profissionalismo. Então como é que podemos ver esta renovação? Há valores que são similares aqueles que passaram já pela selecção angolana ou são valores diferentes?

André Centeno: É uma tarefa árdua. Estão identificados diversos elementos que podem efectivamente integrar no futuro as escolhas do seleccionador. E isso é um trabalho que a Federação está a realizar. Em Angola, o nível do hóquei não tem sido fácil de manter, mas efectivamente existem outros valores que também estão já a desenvolver o seu trabalho, e também é uma aposta da Federação nesse sentido para desenvolver o trabalho na Europa, para poder então chegar a estas provas com capacidade, conhecimento, para poderem cumprir com as obrigações. Mas lá está, é um processo que tem que ser planeado, tem que ser estruturado, e está a ser feito. Leva o seu tempo, mas acredito que vai resultar e que vai ter os seus frutos muito em breve.

RFI: O futuro desta selecção também passa justamente pela evolução do hóquei em patins em Angola? Criar novas expectativas, criar condições para os atletas apostarem também nesta modalidade?

André Centeno: Sem dúvida, o hóquei em patins é uma modalidade que carece efectivamente de atletas. Quantos mais atletas existissem em termos mundiais seria melhor para o desenvolvimento da própria modalidade. Em Angola propriamente dito, houve uma quebra de atletas, até pelo desinvestimento que houve em termos do privado e dos clubes de menor dimensão, que, pronto, lá está, a economia também sofre grandes oscilações e daí o ter havido menor investimento de determinados clubes, o que fez inclusivamente com que alguns clubes se extinguissem, diminuindo então o número de atletas. Eu acredito que, e essa é a minha convicção, o futuro da modalidade em Angola provavelmente passa pela formação de uma aposta forte dos clubes na formação para que se consigam desenvolver atletas num projecto de cinco ou dez anos, para que, efectivamente, se consiga desenvolver a modalidade e continue a crescer, incentivando os próprios atletas e os próprios jovens a praticar esta modalidade que, como sabemos, é uma modalidade de difícil captação pelos custos que existem inerentes à própria prática da modalidade. Portanto, se falarmos de um desporto como o futsal, como o futebol, em que os cursos de iniciação são mais fáceis. A própria aprendizagem do hóquei exige algumas especificidades. Mas, portanto, lá está, isto exige um trabalho que deve ser feito na base da formação e esta é a minha convicção, e acredito que a Federação está sensibilizada para este ponto e acredito que o caminho será mesmo por aí

RFI: Como é que se tem sentido e como é que foi a nível pessoal este torneio para o André?

André Centeno: Confesso que é uma excelente motivação vir jogar sempre pela selecção. Capitanear estes jovens e este grupo para mim é um orgulho e uma honra. Continuarei a fazê-lo sempre que me sentir principalmente motivado em termos anímicos, penso que é fundamental. Sinto-me motivado, sinto-me bem. Pessoalmente, tive muitos minutos dentro da pista, contribui sempre com o meu trabalho para a equipa. Naturalmente que o golo é sempre algo que é importante e que valorizo a nível pessoal, mas, efectivamente, o importante é o trabalho de equipa. Lá está, é importante também poder passar alguma mensagem aos mais jovens daquilo que é representar a selecção, porque efectivamente é algo que deveríamos estar todos conscientes do orgulho e do dever, do sentido de responsabilidade, que isto acarreta. E essa também é uma das minhas funções dentro e fora da pista, poder fazer perceber aos jovens aquilo que é necessário para se estar na elite, para se estar no topo e que todos os detalhes contam. Para mim, em termos pessoais, sinto que tenho trabalhado nesse sentido e tenho conseguido passar esses valores aos mais jovens e por isso mesmo, sinto-me realizado nessa área.

RFI: André, uma palavra sobre o torneio de Montreux, o que é que representa no mundo do hóquei em patins este torneio?

André Centeno: O torneio de Montreux é um torneio já emblemático no mundo do hóquei, um torneio que é realizado em ano de Mundial, portanto, sempre de dois em dois anos. Efectivamente, houve aqui uma pequena paragem devido à pandemia. Voltou este ano para celebrar o centenário. É um torneio em que vêm as melhores selecções, aliás, como podemos ver pelo elenco apresentado este ano: temos Argentina, Portugal, França, Itália, Espanha, Angola, Suíça e depois, efectivamente, a equipa da casa, Montreux. Portanto, é um torneio que é uma antecâmara dos Campeonatos do Mundo, em que as selecções vêm sempre com as suas armadas para poder testar e afinar alguns aspectos já com vista ao campeonato do mundo. Portanto, é um torneio extremamente importante, de alto valor e que traz sempre aqui os melhores atletas mundiais da modalidade.

RFI: Em relação ao resultado final, houve aqui alguma surpresa ou é, no fundo, a evolução deste hóquei em patins? A Argentina venceu na final Portugal por 5 a 2. Quer dizer, primeiro lugar para a Argentina, segundo para Portugal, terceiro para a França, que venceu a Itália nas grandes penalidades, quarto lugar para a Itália, quinto lugar para a Espanha, sexto lugar para Angola. O que pensar desta classificação final?

André Centeno: Foi um torneio altamente disputado, com equipas, como eu disse, de elevado nível, com os melhores atletas mundiais. Efectivamente, a Argentina, na final demonstrou ser superior, neste momento, a Portugal. Mas Portugal tem jovens e tem valores de elevadíssima qualidade. Efectivamente, desta vez foi para a Argentina e acredito que no futuro possa virar para Portugal. Mas lá está, são sempre jogos disputados, a França também a dar cartas. Uma equipa que também já tem vindo, ao longo dos últimos anos, a demonstrar uma enorme qualidade, desta vez com um novo treinador. Um treinador também, que na minha opinião, foi uma excelente aquisição para a armada francesa. A Itália trouxe jovens atletas que poderão efectivamente integrar também o próximo Mundial e também demonstrou aqui ser ainda uma forte potência. A Espanha, uma equipa que também dispensa apresentações, uma equipa que também trouxe jogadores de elevada qualidade. E depois Angola, também estamos numa fase de renovação em que tudo fizemos para dignificar a selecção e portanto, cumprimos com o nosso objectivo, que era uma boa réplica frente às potências mundiais e efectivamente serviu de um excelente teste e uma antecâmara para o próximo Mundial que aí vem. Para nós é um torneio com os melhores atletas do mundo. É uma excelente organização e espero continuar a que se possa realizar no futuro próximo.

RFI: Continua a surpreender esta selecção francesa?

André Centeno: A nível pessoal não me surpreende porque grande parte dos atletas actuam em Portugal, em grandes clubes. Portanto, eu tenho contacto e jogo com eles sempre. Portanto tenho acompanhado também a sua evolução e acho que é fruto do trabalho que tem vindo a ser realizado pela Federação Francesa. Apostar em jovens e efectivamente, ao longo dos anos, tem dado os seus frutos. Agora estão no seu expoente máximo e tem-se demonstrado através dos resultados e das exibições que a França tem tido. A França é uma selecção fortíssima que está a dar cartas e acredito que no futuro próximo continuará a dar cartas, porque são efectivamente jogadores de alto nível.

RFI: Este torneio é um pouco a preparação para o Mundial. O que é que se pode esperar desse Mundial em específico para Angola?

André Centeno: Acredito que vai ser um Mundial muito bem disputado. Em termos de grupo de Angola, vamo-nos preparar para fazer um bom mundial ao espelho daquilo que temos feito nos outros Mundiais, que é trabalhar, trabalhar, desta feita com a integração de novos valores, para que possamos dar uma boa imagem e tentar lutar por conseguir um melhor resultado do que aquilo que temos conseguido nos últimos Mundiais. Esse será sempre o nosso principal objectivo, jogo a jogo de forma humilde. Nós sabemos quais são as nossas capacidades, quais são as nossas forças e temos de delinear estratégias nesse sentido. Portanto, a Federação angolana está também neste momento a planear já essa prova, para que, atempadamente, possamos depois então preparar o Mundial que aí vem.

RFI: Antes do Mundial, há o fim também da temporada em Portugal, com o Sporting de Tomar. O que é que se pode desejar ao André para este final da temporada?

André Centeno: Temos feito uma excelente época. Aliás, neste momento, já alcançámos o melhor resultado de sempre em termos pontuais no campeonato nacional. Portanto, estamos bem classificados, estamos atrás do Benfica, vamos jogar no próximo domingo com o Benfica, portanto, um jogo de elevada importância. Faltam cinco jornadas para o término da fase regular e depois vem o play-off. Todos sabemos que no play-off é importante chegarmos, todos os atletas e todas as equipas, em boas condições para poder fazer face aquilo que aí vem: o chamado mata-mata. Nós queremos estar na nossa máxima força para podermos darmos uma boa réplica e conseguirmos dar uma alegria aos tomarenses que bem merecem, que nos têm acompanhado, que têm enchido também as bancadas do pavilhão e que têm sido uma excelente força. Nós só vamos trabalhar agora para este final de época para conseguirmos então alcançar esse objectivo que é chegar aos play-offs, na máxima força. Quem sabe até conseguir chegar à quarta posição, no campeonato, que nos daria o factor casa, que seria um elemento importante. Mas lá está, jogo a jogo. Nós, neste momento, faltam-nos cinco jornadas, vamos trabalhar, e no próximo domingo jogar contra o Benfica, e queremos ganhar esse jogo.

11:20

André Centeno, internacional angolano 01-04-2024

André Centeno, capitão da Selecção Angolana.
André Centeno, capitão da Selecção Angolana. © Cortesia Worldskate

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