Papa Francisco: "A Europa corre o risco de morrer"
O Papa está a receber esta noite Vaticano os dirigentes europeus, na véspera da celebração na capital da Itália dos 60 anos do Tratado de Roma. O sumo pontífice que, por várias vezes, exortou os líderes do velho continente a uma maior generosidade no acolhimento da vaga de migrantes que tem chegado à Europa declarou aos 27 que a Europa "corre o risco de morrer se ela não resgatar os ideais dos pais fundadores da União Europeia como "a solidariedade".
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"Quem perde o sentido do seu caminho, quem sentir a falta deste olhar para a frente, começa por sofrer um retrocesso e a seguir corre o risco de morrer" declarou o Papa Francisco ao acrescentar que "a Europa reencontra a esperança na solidariedade que é também o mais eficaz antídoto contra os populismos modernos". Ao apelar os 27 ao diálogo com as centenas milhares de migrantes que têm estado a chegar à Europa, o sumo pontífice considerou que "não nos podemos contentar de gerir a grave crise migratória destes últimos anos como se fosse apenas um problema numérico, económico ou de segurança".
A questão migratória tem estado no centro de todos os debates e de todas as divisões no seio da União Europeia nos últimos anos, tendo sido considerado aliás um dos factores para a vitória do Brexit no Reino Unido. No mesmo sentido, outros países como a Hungria ou a Polónia têm-se pautado por políticas muito restritivas neste sector, como lembra Marcos Farias Ferreira, docente de relações internacionais na Universidade de Lisboa.
Marcos Farias Ferreira, docente de relações internacionais na Universidade de Lisboa, entrevistado por Miguel Martins
As advertências do Papa Francisco aos 27 foram pronunciadas num momento em que a União Europeia se prepara a comemorar os 60 anos do tratado que instituiu a Comunidade Económica Europeia entre os 6 países fundadores daquilo que viria a ser a União Europeia, a França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. A 25 de Março de 1957, a Europa tinha ainda muito presentes as memórias da segunda guerra mundial, a ideia de reforçar os laços entre os países da Europa e evitar deste modo novos conflitos tendo estado na base da criação do mercado comum.
Passados 60 anos, a União Europeia está a atravessar a pior crise da sua História, com a perspectiva do Brexit a ser lançado dentro de alguns dias a 29 de Março, a dificuldade de dar uma resposta concertada à crise migratória, bem como a outras crises como os conflitos no Médio Oriente ou ainda à crise financeira cujos efeitos ainda se fazem sentir em certos países do sul da Europa como Portugal ou a Grécia. Neste sentido, tem-se invocado muito uma "crise de valores" e chegou a haver também intensos debates sobre as raízes cristãs dos valores que alegadamente teriam estado na base da construção Europeia. Ao admitir esta eventualidade, o professor Marcos Farias Ferreira não associa totalmente o bloco europeu a este aspecto religioso.
Marcos Farias Ferreira, docente de relações internacionais na Universidade de Lisboa, entrevistado por Miguel Martins
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