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Vida em França

Os primeiros doze meses de Macron “são desastrosos”

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Emmanuel Macron foi reeleito há um ano para o cargo de Presidente da República da França, doze meses marcados pela contestada reforma do sistema de pensões. Em entrevista à RFI, o professor de história e geografia, Christophe Araújo, reconhece que o balanço do mandato de Emmanuel Macron é “desastroso”, admitindo que o chefe de Estado terá dificuldade em voltar a reatar as relações com o povo francês. 

Emmanuel Macron, chefe de Estado francês, foi reeleito há 12 meses.
Emmanuel Macron, chefe de Estado francês, foi reeleito há 12 meses. AP - Daniel Cole
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Que balanço faz do primeiro ano do mandato do Presidente Emmanuel Macron?

A situação de Emmanuel Macron é, a meu ver, muito complicada. Eu vejo que muitas personalidades que o apoiaram no seu primeiro mandato estão, cada vez mais, a afastar-se. Acusam-no de se estar a afastar das pessoas. Consideram que ele não consegue ver que houve uma quebra [de confiança] com a lei da reforma do sistema de pensões e não sei se ele vai conseguir reatar [as relações] com o povo. O balanço destes doze meses é desastroso.

A reforma do sistema de pensões é uma reforma que mancha os primeiros 12 meses de Emmanuel Macron no cargo de chefe de Estado?

A reeleição de Emmanuel Macron tem de ser enquadrada no sistema eleitoral francês. Ou seja, há uma primeira volta onde são escolhidos dois candidatos e depois há uma segunda volta. Nesta configuração, a mesma de 2017, [Emmanuel Macron] defrontou a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, fazendo com que muitas pessoas votassem, na segunda volta, contra Marine Le Pen e não a favor do programa de Macron.

Eleito - a situação de Macron estava complicada, ele não tem maioria absoluta - decidiu ir para a frente com a reforma do sistema das pensões, obrigando os franceses a trabalharem mais dois anos [de 62 para 64 anos]. Esta medida não foi bem aceite pela sociedade francesa.

Na minha opinião, esta reforma será bastante marcante no segundo mandato e não sei como é que ele vai conseguir avançar em outros assuntos que fazem parte do seu programa eleitoral. Vejo-o numa situação muito complicada.

Em termos sociais, Emmanuel Macron prometeu reformas no sistema da educação, da saúde e avançar no projecto de lei sobre o fim de vida. Que avanços foram feitos nestes sectores?

Este primeiro ano ficou um pouco parado, ainda estávamos no pós-pandemia e a tentar resolver os problemas criados pelo Covid-19. Agora, que avançou com a reforma [do sistema das pensões], ele quer implementar uma dinâmica mais de esquerda, com o projecto de lei do fim de vida, a eutanásia. Quer tentar fazer esquecer esta reforma do sistema das pensões, dando a sensação que está a ter em conta a contestação social, a problemática da inflacção e a diminuição do poder de compra.

Reformas que se dirigem a profissões que já têm muitos problemas em encontrar forças novas. Eu sou professor e vejo muito bem que há cada vez menos pessoas a querer seguir a carreira de docente. O salário não é assim tão atractivo e apesar de estarem a tentar aumentar os salários, querem que trabalhemos mais. Uma reforma que não é bem-recebida no núcleo dos professores.

Nos últimos seis anos, foram criados 1, 7 milhões de postos de trabalho em França. A estabilização da taxa de desemprego pode ser vista como um dos pontos positivos ou tratam-se de empregos precários?

Esta é a questão que temos de ver. O que é que significa esta diminuição da taxa de desemprego? Pode ser uma forma de alterar a contagem do número de pessoas que estão no Fundo de Desemprego ou empregos que foram criados, mas que são muitas vezes precários.

No sector da educação, há muitos pessoas que são contratadas de forma precária, contratos de um ou dois anos e que são renováveis. Todavia, não são empregos que não trazem estabilidade económica, nem financeira.

Nas questões ambientais, Emmanuel Macron prometeu dar prioridade à transição energética, tornar a França no país que lidera a energia nuclear, o mercado das baterias, o hidrogénio, as energias renováveis. Um ano depois, onde é que está a França?

Será que o nuclear é uma energia renovável ou não? Com este tipo de energia criam-se resíduos que são bastante perigosos para a saúde. A França tem um sistema baseado na energia nuclear, colocando o país à frente da Alemanha, que ainda recorre ao carvão para o sistema energético. Todavia, não acredito que Emmanuel Macron vai conseguir convencer as pessoas de que é o Presidente da transição energética.

O que é que foi feito nas áreas da justiça e segurança, duas áreas “urgentes” para Emmanuel Macron?

Em França, existe um problema de violência policial, como foi visto durante as manifestações. O Governo francês recusa-se a admitir este problema de violência policial para com as pessoas dos subúrbios, que são maltratadas. É urgente avençar com uma reforma para dar uma melhor imagem da polícia.

Nos próximos quatro anos, quais é que devem ser as prioridades para Emmanuel Macron?

A transição energética deve ser uma preocupação. Depois temos a actualização dos salários que não foi feita em vários sectores. O poder de compra que tem vindo a diminuir, por causa da inflacção, deveria ser outra preocupação. Fortalecer o serviço público, ou seja, hospitais, escolas e a justiça. Mas não sei como é que ele vai fazer isso, uma vez que grande parte da sua política é de baixar os impostos. Porém, se não há impostos, não há dinheiro para financiar a função pública.

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