Tunísia dez anos depois, o desencanto de uma revolução na imprensa francesa
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Ouvir - 04:19
A Tunísia é um dos temas mais badalados hoje na imprensa francesa.Obviamente com a efeméride hoje assinalada dos dez anos após a imolação de um vendedor ambulante que esteve na origem da revolução de jasmim e das chamadas primaveras árabes.E o tom é de algum pessimismo acerca do momento actual daquele país do norte de África.
O diário de esquerda "Libération" sobre o que aconteceu em Sidi Bouzid refere em título, citando populares no terreno, que "o que fez Mohamed Bouazizi poderá voltar a acontecer".
O jornal fala em desilusão massiva.
Também o vespertino independente "Le Monde" fala em "gosto amargo das primaveras árabes".
Este órgão de informação alega que a esperança nascida das sublevações populares se revelou rapidamente uma decepção.
Muitas vezes por não haver elites capazes de assumir as rédeas para encarnar uma nova era.
O jornal diz que em Sidi Bouzid o marasmo e o desencorajamento apagaram a chama revolucionária.
O presidente da ong International Crisis Group afirma ao diário que a esperança se transformou em tragédia.
Segundo Robert Malley o mais surpreendente é o facto de que, após todos estes massacres, a população esteja ainda pronta em voltar a sair à rua. Tal seria a prova da intensidade da rejeição destes governos e a coragem dos que a eles se opõem.
Este tema merece manchete no católico "La Croix" com o título "Tunísia: uma revolução inacabada".
Os tunisinos saboreiam as novas liberdades, mas sofrem com uma crise económica profunda, pode ler-se.
As revindicações de trabalho e de dignidade ficaram por satisfazer, escreve o jornal.
Em todo o lado a Tunísia ferve de fúria, com todo o tipo de bloqueios, de estradas, de fábricas, concentrações e greves que mergulham a economia para os abismos.
Habitantes de regiões esquecidas, técnicos superiores no desemprego, jornalistas, magistrados, pessoal de saúde... no país assistir-se-ia a um desfile permanente de manifestantes pedindo emprego, condições dignas de trabalho, o fim da corrupção ou acesso à água, ao gás ou à saúde.
Também o comunista "L'Humanité" optou por pegar neste assunto descrevendo a humilhação e a injustiça sofridas pelo vendedor em causa.
O diário interessa-se pela família de Mohamed Bouazizi, a sua mãe fala num "filho muito bom, orgulhoso embora fosse tão pobre", citamos.
Mudando de tema o conservador "Le Figaro" denuncia uma guerra de falsas informações franco-russas na República centro-africana.
Uma guerra de influência entre russos e franceses quando a RCA vai às urnas no próximo dia 27.
Ainda sobre África, mas agora no "Le Monde" o chefe de Estado maior general das forças armadas francesas, o general Lecointre, quer limitar o nível do compromisso das forças francesas enquanto a ameaça jihadista persiste.
A França e o Mali divergem quanto à ideia de se negociar com forças islamitas, uma opção que Bamaco aceitaria, mas que Paris descarta.
Ainda neste jornal destaque para uma decisão da justiça britânica alegando que a morte de uma menina de 9 anos em 2013 poder-se-ia também ficar a dever devido à poluição do ar.
Em causa o facto de esta criança com uma insuficiência respiratória aguda, com uma forma severa de asma, ter estado exposta a níveis de poluição elevados devido ao tráfico rodoviário.
Terminamos com o desportivo "L'Equipe" cuja manchete se prende com a liderança do Lille do campeonato francês de futebol de primeira divisão.
Um clube cuja venda é iminente, o proprietário está em negociações com um fundo de investimento.
Gérald Lopez, o empresário hispano-luxemburguês, deverá ceder a presidência a Olivier Létang, antigo patrão do Rennes.
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