Eleições em Israel "são um referendo à figura de Netanyahu" – Henrique Cymerman
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Os israelitas foram chamados às urnas nesta terça-feira para eleger um novo parlamento, a quinta vez em pouco mais de três anos e meio. O cenário de incerteza monopoliza as expectativas de cada partido, que deverão lutar até ao último voto tendo em vista a formação de um novo governo.
Benjamin Netanyahu, ex-chefe de governo e líder do bloco conservador Likud tenta chegar ao poder pela terceira vez, após ter dirigido o país de 1996 a 1999 e depois de 2009 a 2021. “Bibi”, que também enfrenta um processo judicial por alegada corrupção, terá pela frente o líder centrista Yair Lapid, que por sua vez espera manter a sua posição na chefia de Israel.
Em entrevista à RFI o professor e jornalista em Israel, Henrique Cymerman, começa por explicar o que o que está em causa nestas eleições é sobretudo um referendo à figura de Benjamin Netanyahu.
"Acho que o que está em causa nestas quintas eleições em três anos e meio e quem sabe se não haverá sextas é a figura de Benjamin Netanyahu. Israel vive um paradoxo enorme hoje em dia que é que por um lado tem um dos maiores crescimentos económicos mundiais, entre sete e oito por cento, e ao mesmo tempo tem uma debilidade política enorme devido ao sistema eleitoral proporcional que se mantém desde a criação do Estado e que não permite ou dificulta enormemente a formação de coligações. é como um vidro partido que se vai partindo cada vez mais. Então o que está em jogo aqui eleições uma vez mais, talvez pela última vez, são uma espécie de referendo sobre a figura de Benjamin Netanyahu, o homem o conservador que governou Israel durante quinze anos e que agora é líder da oposição e ainda por cima está a ser julgado por corrupção. Então é uma espécie de referendo entre o bloco pro-Bibi e o bloco anti-Bibi que actualmente governou Israel no último ano e que está presidido por um homem bastante mais jovem, centrista e mais pragmático Yair Lapid."
O professor também explicou que a estabilidade da política em Israel dependerá da eleição de hoje e que o "empate crónico" entre os dois favoritos os levará a lutar até ao último voto.
“Tudo depende do que acontecer hoje porque se ninguém conseguir 61 deputados dos 120 e mesmo assim é uma coligação débil a que se formaria como resultado disso. Vamos ver novas eleições no mês de Abril do ano que vem. Ou seja, vamos ver se Yair Lapid, o centrista um ex-jornalista, continuando como primeiro-ministro até lá e haveria novas eleições.
Se Netanyahu consegue formar governo ou consegue ter 61, e está perto disso. Os dois no fundo estão perto disso porque há um empate crónico quase ’60 a 60’, mas se Netanyahu conseguisse surpreender e eu penso que existe uma possibilidade que isso aconteça, ele aí poderia tentar formar governo e paralelamente ao julgamento dele, que me parece que é uma das suas primeiras prioridades, mas é um governo que seria bastante problemático na medida em que seria uma coligação com a extrema-direita que hoje em dia se transforma nesta, nova situação política, no terceiro partido provavelmente de Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, um partido ultranacionalista que seria parte da coligação de Netanyahu conjuntamente com os ultraortodoxos.
Ou seja, Netanyahu seria a esquerda dessa coligação. é a única que realmente está à volta dele e que lhe poderia apoiar, mas claro tudo vai ser decidido hoje, eu acho por umas dezenas de milhares de votos, e penso que os resultados não se vão conhecer até dentro de 24 a 48 horas porque cada voto aqui vai contar.”
Questionado sobre o eventual impacto geopolítico desta eleição, Henrique Cymerman falou a respeito dos acordos de Abraão e da Palestina, e disse que neste momento os países árabes e os Estados Unidos estão a seguir atentamente os desdobramentos destas eleições.
Ouça aqui a entrevista com o professor Henrique Cymerman na íntegra.
Henrique Cymerman comenta as eleições em Israel, 01/11/2022
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