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Israel e Marrocos voltam a estabelecer laços diplomáticos.

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Os ministros do negócios estrangeiros de de Marrocos e de Israel assinam, em Rabat , vários acordos a nível político, da aviação e da cultura.Para Rui Neumann, jornalista especialista em assuntos israelo-árabes, o passo dado pelos dois países é sobretudo simbólico devido à importância do continente africano para Israel, da sua vizinhança muçulmana e do peso da comunidade judaica em Marrocos.

Ministros dos Negócios Estrangeiros de Marrocos e de Israel em Rabat.
Ministros dos Negócios Estrangeiros de Marrocos e de Israel em Rabat. FADEL SENNA AFP
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Em entrevista à RFI, Rui Neumann, especialista em assuntos israelo-árabes, diz que "Israel teve sempre grandes relações com Marrocos, e isso foi muito fomentado pelo facto de, em Marrocos, existir uma grande comunidade israelita de origem marroquina, e, por outro lado, de a comunidade judaica em Marrocos ser muito influente localmente. 

Eu até recordo que muitos conselheiros mais próximos de Hassan II, pai do actual rei marroquino, Mohammed VI, pertenciam à comunidade judaica. Ou seja, as relações com Israel existiam por via directa através, digamos, de canais que tinham (por base) os conselheiros do Rei Hassan II. Alguns foram reconduzidos pelo actual monarca, Mohammed VI, através de França.

Houve sempre aqui uma sincronia discreta, porque Marrocos também não se queria envolver muito abertamente nas relações com Israel devido, digamos, a um certo consenso no Magrebe anti-israelita. Mas a abertura de outros países árabes, na região do Médio Oriente, que reactivaram relações diplomáticas, e não só, com Israel, também foi um impulso para Marrocos.

Aqui (estão em causa) acordos de cooperação económica e comercial que são muito importantes para Marrocos e também para Israel.

Por outro lado, Israel tem cada vez mais interesse em estabelecer parcerias, diplomáticas, directas e de reconhecimento (mútuo) com países do sul do Mediterrâneo.

-Entretanto, o caso do software Pegasus pode mostrar esta proximidade entre ambos os países?

O caso Pegasus é um caso particular que entra no eixo das empresas do ramo da segurança israelita. Israel é um país sem recursos naturais, e, tal como dizia um antigo ministro dos negócios estrangeiros israelita, David Levy, o único recurso natural que Israel tem são as cabeças. Por essa razão, Israel se transformou naquilo a que chama 'Start up Nation'.

Existe um conjunto de empresas israelitas, principalmente na área das tecnologias e 'software', que se tem desenvolvido e espalhado pelo mundo inteiro. Israel já trabalha com muitos países árabes no campo das tecnologias da segurança e nas tecnologias da informação, e mesmo da pirataria, 'Hackers'.

- Marrocos aqui é mais um?

Marrocos é simplesmente mais um. Há casos até que se tornam quase anedóticos. Alguns clientes, (contratam) sem saberem (que são) empresas israelitas. Um dos clientes foi o Irão. O Irão chegou a comprar tecnologia em Israel sem saber que era israelita.

-Voltando à questão da embaixada, em termos de conflito israelo-árabe, este passo pode ter aqui também um significado polémico?

Podemos usar genericamente a expressão 'conflito israel-árabe', mas na realidade existe um conflito entre Israel e alguns países árabes. Não há um consenso mesmo na Liga Árabe de qualificar Israel como um estado inimigo. Isso aconteceu no passado de facto. No momento, já não há essa unanimidade no mundo árabe. Mas é um avanço. Não quer dizer que Marrocos vá recuar no seu apoio ao povo palestiniano e à independência da Palestina. Não acredito que isso vá acontecer. O que pode acontecer é que Marrocos reveja a sua posição relativamente a algumas organizações, a alguns movimentos, tais como o Hamas ou o Hezbollah, que combatem Israel.

(...) Não irá alterar todo o mapa do conflito do Médio Oriente. São passos que Israel quer dar porque não pode continuar a viver isoladamente em termos geográficos, sem pensar num projecto de futuro, a nível económico, de cooperação, com toda a sua vizinhança, sendo esta sua vizinhança países árabes.

- É uma construção pedra a pedra ?

É gota a gota.

- É muito típico neles?

É um projecto israelita já muito antigo, de ir ocupando cada vez mais esse espaço diplomático.

Começaram primeiro com o 'Acordo de Camp David' , com Egipto. O egipto até teve na altura graves problemas, o assassinato do Anwar Al Sadat. Segui-se a Jordânia e depois outros países. E, neste momento entrou numa velocidade de cruzeiro. Acabou por reconhecer alguns países árabe, que é a melhor forma de pacificar o Médio Oriente, se a gente pode definir assim. É uma região complexa para se acreditar na pacificação total desta região. Mas uma das formas de pacificação passa pelo reconhecimento oficial do outro. 

Aqui já se dá um primeiro passo para a abertura das relações diplomáticas e comerciais. É todo um pacote que este passo implica. Para Israel é muito importante porque sai duma situação de isolamento na região.

- O Norte de África é fundamental ?

É fundamental porque há muita população israelita originária do Magrebe, que mantem ainda laços e relações com o próprio Magrebe. O que não existe é a oficialização desse relacionamento. Há sempre uma diplomacia aberta e uma diplomacia encoberta, sendo África uma das prioridades israelitas. Israel tem uma grande tradição em África. É pouco conhecida existe ao nível da cooperação com vários países africanos, sejam maioritariamente muçulmanos, ou não.

- Como por exemplo ?

A República Democrática do Congo, o próprio Senegal. Estou a falar de dois países onde Israel está muitíssimo presente, o Congo Brazaville também. Há vários países com quem Israel sempre teve uma grande cooperação. O Gabão também está muito presente, porque Israel não tem recursos naturais. Tem de os ir buscar externamente.

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