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Paris impaciente por acolher os Jogos Olímpicos

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Paris assinalou, simbolicamente, nesta quarta-feira, 17 de Abril,  os 100 dias antes do início dos Jogos Olímpicos de verão.Os parisienses dividem-se entre ansiedade, em relação a um dos maiores acontecimentos planetários, e receios quanto às ameaças sobre a segurança, em plenas crises na Ucrânia ou no Médio Oriente, ou quanto à capacidade de resposta da rede de transportes.

Contagem decrescente para os Jogos Olímpicos de Paris que arrancam a 26 de Julho de 2024.
Contagem decrescente para os Jogos Olímpicos de Paris que arrancam a 26 de Julho de 2024. © AP - Michel Euler
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Motivos mais do que suficientes para fazermos um ponto de situação com Hermano Sanches Ruivo, vereador do décimo quarto bairro de Paris. 

"Estou muito positivo na espera, porque, primeiro, há dez anos que estamos a trabalhar sobre esse dossier. Depois houve a vitória, as instalações e as primeiras decisões !  A especificidade dos Jogos Olímpicos tem muito a ver, por exemplo, com o facto de já estarem construído 90% das estruturas. Portanto, a pressão sobre as obras, sobre o que era para ser construído de novo e de uma certa forma menor, e todas estão acabadas ou em fase de estar acabadas."

Daí a Ministra dos Desportos dizer que de facto, estes jogos, se calhar, vão significar mais receitas para a França do que as despesas que a França teve de fazer, precisamente para algumas infraestruturas !

"É sempre difícil fazer essa contabilização porque de facto estão gastos 8 biliões, perto de 9 biliões € para os Jogos Olímpicos. Estamos à espera de 15 milhões de pessoas através dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Sabemos que uma parte da despesa também tem a ver com o investimento a longo prazo. Essa aldeia olímpica que fica depois dos jogos é um investimento."

A Arena de Porte de la Chapelle é um investimento também. Portanto, a despesa por si próprio, tendo em conta o número de coisas que estão a ser agora instaladas apenas para os Jogos Olímpicos, é muito menor do que era antigamente. O saldo não pode ser, se não positivo;;. De resto, não é tanto uma questão financeira que nos preocupa. É mais, de uma certa forma, o facto de acolher o mundo inteiro, de se correr bem o peso, a pressão sobre a questão da segurança, porque se não o resto já sabemos.

E quem está dentro do assunto... E eu acho que até devíamos falar disso mais de uma certa forma. Sabemos que os Jogos Olímpicos é muito para os que vêm assistir aos Jogos Olímpicos e não precisamente para aqueles que acolhem os Jogos Olímpicos. É aqui o sentimento da população. É claramente de ver algumas das vantagens de começar já a antecipar muitos inconvenientes. Alguns vão realmente mudar as datas das férias para "não estar na altura, em Paris".

Quanto à segurança, falava da segurança. Refere se ao facto de que Emmanuel Macron tinha dito que achava que a Rússia necessariamente tentaria fazer alguma coisa para marcar estes Jogos Olímpicos ?É a isso que se refere ?

"Infelizmente, todos podem, Todos os que têm interesse em que as coisas correm mal podem utilizar esse palco dos Jogos Olímpicos em Paris, como de resto já o utilizaram noutras alturas, outras competições ou outros eventos desta importância. A Rússia é um dos países que está na lista. Para nós, sofrer os ataques através da segurança é uma coisa. Agora, imaginar esses "lobos solitários" que poderiam utilizar um palco de alegria, mundialização positiva, aquela ideia de se mostrar ao mundo inteiro quanto a família é diversa e rica. Esses preocupam-nos claramente mais.

Porque, lá está, estamos num mundo onde a noção de imagem, a noção de rede social, é de tal maneira importante que qualquer um, inclusive aqueles que procuram 15 minutos de fama, podem vir a utilizar. Portanto, é um dos principais desafios, mais do que a própria organização ou a construção ou essa cerimónia de abertura que se será de facto divulgada é muito, muito, muito, muito perto da data."

Mas que, a priori, manter-se-á no rio Sena. Portanto, essa é a grande aposta de fazer um espectáculo ímpar fora do estádio, se de facto a segurança o permitir. Agora há também a questão da pegada carbono... Que deve tentar ser bastante reduzida em relação a edições anteriores ! A ideia seria mesmo dividir por dois a pegada carbono dos jogos anteriores: isto é exequível?

"A resposta vai ser não, não é exequível. Mas porque temos sempre essa vontade de ver num plano muito largo essa realidade. Se eu explicar que em termos de construção, em termos de material que vai ser distribuído, estamos a fazer muito, muito, muito melhor do que os Jogos Olímpicos precedentes, a resposta devia ser positiva e dizer sim, estamos realmente a conseguir dividir por dois, por três, por quatro, por cinco essa factura.

Agora não é verdade. Porquê? Por causa dos transportes ! Porque basicamente o próprio conceito dos Jogos Olímpicos, essa ideia que o mundo inteiro vem até um sítio, faz com que os transportes, os aviões. Eles trazem todas as delegações que trazem todo o público, tudo o que é necessário aqui dentro do próprio espaço. Tudo isso, de uma certa forma, apaga as vantagens e o aspecto positivo que ganhamos através das obras.

A Aldeia Olímpica é madeira e fica para depois. Portanto, tudo isso ajuda. Agora os transportes, esses claramente são a problemática ! A única solução seria organizar Jogos Olímpicos em vários países do mundo, para que cada um organize a sua parte, que o público não tenha que mexer tanto e assim a noção e a factura dos transportes seria claramente mais diminuta. Por exemplo, facturas sobre a questão das refeições está muito, muito, muito abaixo dos precedentes Jogos Olímpicos, porque..."

Querem ser muito vegetarianos !

"Frutarias perto de Paris, porque há muito mais, por exemplo, almoços, jantares vegetarianos e, portanto, a factura da carne é maior do que quando se trata de um almoço vegetariano. Portanto é esse desequilíbrio dentro do equilíbrio, que faz com que o resultado final para quem quer ser transparente e infelizmente, ainda não é suficientemente positivo."

Está-se a falar muito no desmantelamento de vários campos de sem abrigo, como foi o caso já em Vitry-Sur-Seine nesta quarta-feira, no que é suposto ser a maior zona de ocupação clandestina nos arredores sul de Paris. Que olhar é que tem a cerca destas situações, é necessário de facto intervir para dar outro rosto de Paris para os Jogos Olímpicos ?

"Eu acho que é importante, sempre arriscado, mas é importante acabar com essa hipocrisia. Porque não é tanto a questão de agora os Jogos Olímpicos obrigar-nos a uma solução a curto prazo. É que a solução continua a não ser trabalhada. O problema dos refugiados, os problemas dos sem abrigos, a política de alojamento em termos nacionais, a grande pressão europeia mundial em termos de migrações por causa das guerras. Por causa já dos problemas climáticos, fazem com que as nossas sociedades estejam sempre a receber pessoas.

Portanto, que agora, numa altura em que há Jogos Olímpicos e, por uma questão de imagem, mas também por uma questão de segurança, por X razões, ou seja, não é apenas uma ! Que tenha que haver essas mudanças... são tristes porque elas acontecem também o resto do ano. Têm que ser aceleradas ? Nem por isso.

Agora, o que é verdade é que nós continuamos com o mesmo problema e sem uma solução a não ser temporária e, portanto, agora estamos a resolver um problema, deixando para mais tarde, se calhar a solução muito mais consequente. Portanto, eu acho que é hipócrita tentar fazer a ligação ou não deixar de fazer, mas a verdade é que o problema principal sobre a questão do alojamento ou sobre a questão dos abrigos continua sem ser resolvida."

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