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"O ataque iraniano contra Israel em termos militares é um falhanço grande" - Ivo Sobral

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O Irão lançou neste sábado à noite um ataque com cerca de 300 drones e mísseis contra Israel, conforme ameaçava fazer há dias, na sequência do ataque atribuído ao Estado Hebreu contra o seu consulado em Damasco que custou a vida de 16 pessoas. Teerão afirma ter atingido o seu objectivo e diz considerar o assunto "encerrado" mas ameaça responder com mais força em caso de contra-ataque. Israel que, por sua vez, diz ter conseguido repelir o ataque, refere encarar a possibilidade de ripostar.

Explosões de engenhos iranianos no céu de Jerusalém, na noite de 13 para 14 de Abril de 2024.
Explosões de engenhos iranianos no céu de Jerusalém, na noite de 13 para 14 de Abril de 2024. © AFP
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A tensão subiu um novo patamar neste domingo na sequência do ataque iraniano que visou alvos militares em Israel mas não causou vítimas. Segundo o exército israelita, 99% dos cerca de 300 engenhos lançados ontem à noite foram abatidos com o apoio dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da Jordânia. Uma base aérea no sul de Israel foi afectada, o que não a impediu de funcionar, e uma criança de sete anos foi gravemente ferida por estilhaços Nenhum outro dano grave foi relatado.

Teerão que pela primeira vez lançou ontem à noite um ataque a partir do seu território contra Israel, prometeu uma resposta de grande envergadura no caso de o Estado Hebreu optar por contra-atacar. "O caso pode ser considerado encerrado", disse a missão iraniana na ONU três horas depois do início da operação "Promessa Verdadeira", dizendo contudo que "se o regime israelita cometer um novo erro, a resposta do Irão será consideravelmente mais severa".

Hoje, perante esta situação, foram convocadas reuniões urgentes do Conselho de Segurança da ONU e também dos países do G7. Em Israel, a situação continua a ser de alerta. Uma grande preocupação é também manifestada pelo mundo fora, nomeadamente pelos Estados Unidos, cujo Presidente tornou a assegurar a Israel o seu apoio "inabalável", mas a Casa Branca também disse que os Estados Unidos não desejam nenhuma "nova escalada" na região ou "guerra" com o Irão.

Ao condenar o que qualificou de "grave escalada", o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou estar "profundamente alarmado com o perigo muito real de uma escalada devastadora em toda a região" e exortou "todas as partes a darem provas da maior contenção no intuito de evitar qualquer acção que possa conduzir a confrontos militares importantes em várias frentes no Médio Oriente".

"Contenção", foi também o sentido do apelo de vários países, nomeadamente do Qatar, da Arábia Saudita, do Egipto que têm tido um papel de mediação na região. Este é também o teor da mensagem de Moscovo e de Pequim que também dizem recear eventuais "escaladas".

Ao condenar "firmemente" um ataque "inaceitável", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, considerou que ele "constitui uma escalada sem precedentes e uma grave ameaça à segurança regional". No mesmo sentido, ao tecer advertências sobre uma possível desestabilização da região, o Presidente francês que em várias ocasiões garantiu o seu apoio a Israel, tornou a expressar a sua "solidariedade com o povo israelita e o apego da França à segurança de Israel, dos seus parceiros e à estabilidade regional", não deixando contudo de também apelar à "contenção".

Ivo Sobral, coordenador de mestrado de Relações Internacionais na Universidade de Abu Dhabi, considera que o ataque do Irão "foi um falhanço grande em temros militares" e diz que não está no interesse de Israel responder. Contudo, não descarta totalmente um agravamento do conflito no Médio Oriente.

RFI: O que se pode dizer do ataque lançado ontem à noite pelo Irão contra Israel?

Ivo Sobral: Foi uma expectável resposta da República Islâmica do Irão, que não tinha outra opção senão fazer este ataque. O Irão estava numa situação de fraqueza política porque era obrigado a responder a Israel após o ataque que Israel fez na Síria, onde assassinou dois generais particularmente importantes da força do Irão. O ataque que aconteceu neste momento foi um ataque que era expectável. Existia quase uma manobra de encenação bastante previsível, com bastantes avisos, em particular aqui em todo o Médio Oriente. Em termos de suspensão do espaço aéreo em muitos países, no Iraque, na Síria, foi uma resposta esperada. No entanto, obviamente, existem muitas outras situações. Esta é a primeira vez em termos históricos, que o Irão ataca directamente Israel. Temos que recordar que normalmente existia sempre uma possibilidade de o Irão sempre negar qualquer ataque a Israel. Isso acontecia quando existiam ataques feitos do Iémen, do Líbano ou da própria Síria e do Iraque. Neste momento, foi um ataque directo do Irão a Israel. Em termos históricos, é extremamente marcante e vai dar o tom para as próximas semanas e anos no Médio Oriente.

RFI: Relativamente a este ataque, tem havido uma espécie de guerra da comunicação. Por um lado, Israel diz que conseguiu repelir todos os engenhos, enquanto o Irão diz que esta operação foi bem-sucedida e até promete enviar mais drones e mísseis no caso de Israel decidir ripostar.

Ivo Sobral: Sim, é normal a guerra de palavras entre dois governos essenciais do Médio Oriente. No caso do Irão, obviamente, este ataque era necessário para a sua reputação interna e externa, é importante e essencial que o sucesso desta operação seja exacerbado e exagerado para dentro do Irão. E, obviamente, externamente. Existem muitas forças no Irão, em particular a Guarda Islâmica que foi visada nos ataques israelitas e é uma força extremamente importante dentro do Irão que terá obviamente pressionado para o Irão responder a este ataque. Portanto, aqui o Irão tem que de facto aumentar ao máximo o alegado impacto destes ataques em termos militares e em termos de atacar directamente Israel. É normal que isto aconteça da parte de Israel. Israel também tem um problema grave que aconteceu em Outubro. O ataque do Hamas demonstrou que qualquer um pode ser atacado por um ataque surpresa. E isso é uma fraqueza para o Estado de Israel. Israel é baseado numa quase meritocracia militar, ou seja, os governos israelitas têm que sempre estar na dianteira da defesa de Israel e dos israelitas. Isso falhou em Outubro e agora não poderia acontecer. Israel preparou-se obviamente muito bem para este ataque. E uma coisa que aconteceu e nota-se claramente que houve igualmente uma ligação com os seus aliados regionais e internacionais, em particular os Estados Unidos, o Reino Unido e a própria Jordânia, que ajudaram a defender o território israelita destes ataques por mísseis de cruzeiro e drones iranianos.

RFI: Israel promete agora responder ao ataque do Irão. Os Estados Unidos opõem se a qualquer tipo de riposta israelita. O que é que é mais provável acontecer relativamente à decisão do governo de Netanyahu?

Ivo Sobral: O ataque iraniano em termos militares é um falhanço grande e um trunfo político para Israel. Israel conseguiu defender-se de uma maneira extremamente eficiente do ataque. Isso é um trunfo político para Israel. Ou seja, Israel tem a possibilidade de aguardar e planificar a resposta ao Irão por muitos mais dias. Não há nenhuma aceleração, nenhuma precipitação em termos de resposta, o que é bom para Israel. Portanto, este tempo irá dar espaço para planificar um possível contra-ataque. Este falhanço também da parte do ataque iraniano, é igualmente uma quase que uma espécie de encenação à volta deste ataque, o que significa que é uma espécie de 'warning shot', um aviso feito pelo Irão a Israel. Agora, tudo depende da interpretação dos factos pelo governo israelita. Neste momento, o governo israelita igualmente conseguiu com este ataque reforçar a sua visão internacional, que é a visão de que Israel está sob ataque. Inicialmente temos o ataque do Hamas e agora temos o ataque iraniano. Portanto, Israel é uma vítima no Médio Oriente e isto é outro trunfo político muito importante para Israel neste momento. Portanto, muda um pouco que estava a acontecer nos últimos meses e semanas relativamente à situação em Gaza relativamente a uma resposta israelita. Obviamente, eu penso que, em termos de percentagem, podemos dizer que há uma menor probabilidade de um contra-ataque israelita em relação a este ataque iraniano, mas nunca podemos completamente meter de parte deste contra-ataque porque é a primeira vez que directamente o Irão ataca a partir do seu território usando as bases iranianas o território de Israel. Tem aqui um precedente que continua a ser preocupante, que é que uma escalada deste género pode, obviamente, provocar uma outra escalada da parte de Israel. Agora, o que é que Israel terá a ganhar em relação a esta escalada? Absolutamente nada. Iria aumentar uma outra frente militar para atacar Israel. Israel já está sobre assédio no norte e no sul do país. No norte, com o Hezbollah que inclusive aumentou os seus ataques nestes últimos dois dias. No Sul, obviamente, com a operação em Gaza. Portanto, aumentar para uma terceira frente em relação ao Irão, neste caso, iria complicar bastante a matemática da defesa israelita. Eu não creio que seria do interesse estratégico global de Israel fazer um outro ataque onde iria visar directamente o território iraniano. Poderá acontecer, mas se acontecer, será obviamente cirúrgico. O Irão tentou atacar bases militares israelitas. São nove, oito, nove bases que foram visadas, apesar de não existir nenhum ataque que tenha penetrado com sucesso as defesas israelitas. Poderá se esperar um contra-ataque israelita, na pior das hipóteses, a estas mesmas bases iranianas que estão na maioria localizadas nas montanhas dos Zagros, que é na zona ocidental montanhosa do Irão, onde existem muitas bases de drones e de mísseis iranianos, mesmo junto à fronteira com o Iraque. Mas, repito, seria uma escalada que iria muito provavelmente abrir um precedente e que iria causar um grave conflito regional aqui no Médio Oriente.

RFI: Em termos de equilíbrios de forças. O Irão tem capacidade para fazer bem pior do que fez na noite passada?

Ivo Sobral: O Irão tem um projecto militar há volta de 10 a 15 anos, onde investiu, mas só em capacidades militares não-convencionais, ou seja, capacidades estratégicas como mísseis de longo alcance, vários tipos de drones, várias armas 'standard weapons', ou seja, armas que são para ser utilizadas à distância e mísseis também intercontinentais, mísseis balísticos. Portanto, tem um arsenal bastante grande deste tipo de tecnologias e depois possui também uma base industrial bastante forte. Tão forte que é o Irão que produz e produziu uma grandíssima quantidade de drones que a Rússia posteriormente utilizou para atacar a Ucrânia. Portanto, este tipo de defesas israelitas são tecnologicamente muito mais avançadas, obviamente, mas têm o defeito que todas as defesas antiaéreas de mísseis podem ter, que é a sua incapacidade logística para se defender de um ataque massivo constante, uma barragem de mísseis. Isto já foi provado quando o Hamas atacou Israel a partir do segundo e terceiro dia, as defesas de mísseis israelitas foram o que se chama "overwhelmed', ou seja, o número de projécteis que foram lançados era tão grande que Israel não conseguia já defender o seu território. O Irão é muito maior do que a Palestina. Obviamente, a distância de ataque é muito maior, mas qualquer país no mundo, sem excepção, poderá ser visado por um ataque de saturação deste género. Portanto, é sempre possível. Agora, obviamente, a distribuição de forças aqui entre o Irão e Israel, não há qualquer comparação em termos de forças convencionais. Israel é um gigante em relação ao Irão que é um anão militar. Em relação a Israel, não há nenhuma comparação possível. Agora, obviamente, este investimento que o Irão fez em todas estas tecnologias, drones, mísseis, sistemas não-tripulados de longo alcance todos estes anos, obviamente já conseguiram produzir muitos sistemas. Existe sempre esta possibilidade de conseguir chegar a este nível. Se o Irão quer mesmo fazer isto, entrar numa guerra convencional com Israel, que Israel provavelmente possui, talvez o quarto ou quinto maior exército, melhor treinado do mundo. Portanto, há aqui uma grande diferença de forças.

RFI: Há quem considere que Benjamin Netanyahu tem sido o maior entrave ao estabelecimento de um cessar-fogo em Gaza. Tem havido também manifestações da sociedade civil e até de familiares dos reféns contra o regime de Netanyahu e, por outro lado, têm também pressões mais à extrema-direita para que seja lançada a famosa operação terrestre em Rafah. Julga que este ataque do Irão altera um pouco o jogo político em Israel?

Ivo Sobral: Netanyahu sempre foi uma figura muito questionada. Em Israel, conheceu muitos problemas políticos, mas sempre a maior capacidade de Netanyahu é sobreviver. Não só sobreviver como prosperar em situações de crise. Portanto, nos últimos cinco a seis anos, isto é uma realidade. O Netanyahu já saiu do governo, já foi dado como um 'zombie político'. Desapareceu, mas voltou outra vez. Conseguiu consolidar a sua situação política em Israel. Obviamente, um ataque externo com esta magnitude de um inimigo detestável para Netanyahu e em relação ao qual Netanyahu tece advertências há décadas, este inimigo, que aparentemente era imaginário no colectivo israelita, agora ficou uma realidade palpável. O Irão realmente atacou Israel com mísseis. É basicamente o que Netanyahu está a dizer há décadas em relação ao Irão. Portanto, em termos políticos, irá consolidar ulteriormente as forças políticas mais conservadoras dentro de Israel, que irão apoiar Netanyahu. Esta narrativa de um líder que está sob um assédio no Médio Oriente, algo que é muito palpável em quase todos os discursos da extrema-direita israelita é basicamente boas notícias para Netanyahu, sem dúvida. Portanto, aqui, obviamente, todos os líderes em Israel têm que ter sucesso a defender-se. Isso é a coisa mais importante. Basicamente, a escolha das próximas respostas militares de Israel estão na mão de Netnyahu. Não está dependente de ninguém. Israel não está a reagir como o Irão fez. Israel está a concertar as respostas, a concertar estratégias a médio e longo prazo.

RFI: Esta tarde há uma reunião do G7 e há também uma reunião do Conselho de Segurança relativamente a esta situação. O que é que a comunidade internacional pode fazer neste contexto?

Ivo Sobral: Fazer o que normalmente faz, que é obviamente uma nota de condenação e um apelo para não existir uma escalada do conflito aqui no Médio Oriente. Basicamente, o que aconteceu há décadas. O G7 perde poder quase todos os dias em relação, no Médio Oriente, a países como a própria China que começam a ser muito mais importantes do que o próprio G7. E relativamente às Nações Unidas, se calhar ainda é menor, porque as Nações Unidas. Irá existir, obviamente, a nota de condenação a qualquer tipo de violência e da guerra. Mas em termos do que poderá fazer, existe muito pouco. Outra reunião que está a acontecer, que é muito mais importante, é uma reunião do Conselho de Guerra de Israel. Israel irá decidir o que fazer. Israel vai decidir se vai contra atacar imediatamente ou a médio prazo ou longo prazo, ou então usar outros meios menos convencionais para atacar o Irão, como fez no passado quando atacou, em particular, cientistas iranianos ou pessoas ligadas ao programa nuclear iraniano. Eu acho que essa é a mais importante reunião de todas. As outras, em termos de peso internacional, será o normal à volta desta situação, mas com pouquíssimas consequências. Obviamente, no caso de G7, o apoio será unânime a Israel, com uma série de países que irão posicionar-se para apoiar directamente Israel contra qualquer ataque. E nas Nações Unidas, obviamente, a maioria dos países irão igualmente apoiar Israel na defesa do seu território.

RFI: Como avalia actualmente o risco de isto resvalar para um conflito generalizado?

Ivo Sobral: Infelizmente, pouco nos surpreende neste 2024. Há aqui uma série de condições particularmente negativas que podem aumentar a possibilidade de um grande conflito no Médio Oriente. Governos com elementos mais radicalizados das duas partes. Uma coligação internacional de países que não têm recursos suficientes para apoiar uma posição mais forte. Países ocidentais que estão numa crise bastante grande em termos de identidade e do que podem realmente fazer no Médio Oriente e outros países que começam a ter uma preponderância no Médio Oriente, como a própria Rússia ou a China. E quando isto acontece de facto, temos que pensar que uma possibilidade de um conflito enorme poderá sempre acontecer, infelizmente. Mas em termos internacionais, espero que não aconteça, porque de facto seria bastante negativo para todo o mundo. Seria a última machadada na comunidade internacional que já está tão dividida e com tantas situações de pressurização como o conflito ucraniano e, obviamente, o que está a acontecer em Gaza. Um terceiro conflito seria negativo para todos os países. Mas pensemos na grande História: se pensarmos no conflito da Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, basicamente poucos países também queriam que acontecesse um conflito, mas ele aconteceu na mesma. Eu penso que a referência se calhar à Primeira Guerra Mundial é mais efectiva para esta situação. Neste momento, há uma série de países e organizações, porque no Médio Oriente não é só uma questão de países, é uma questão também de facções, uma questão de 'proxy powers', ou seja, coisas como o Hezbollah, ou então países que são um pouco países falhados, como o próprio Líbano, como a Síria, o Iraque, O Iraque com muito esforço está a tentar estabilizar-se. Neste momento, estão a tentar fazer um bom trabalho. Mas o Iraque não é o Iraque da História, não é o Iraque de Saddam Hussein. É um país particularmente fraco, que não consegue impor-se e está um pouco no meio do vento entre o Ocidente e o Oriente. Portanto, há aqui uma série de pequenos Estados que podem, a qualquer momento, serem atingidos por uma maior crise que poderá vir de um conflito directo. Mas, repito, penso que não será o que Israel quer. O governo iraniano também é bastante experiente e não é isso que quer neste momento. Portanto, o Irão sempre fez um excelente trabalho de usar outras forças para atacar e ter sempre a possibilidade de negar o seu envolvimento em ataques. Portanto, isso sempre aconteceu e eu não creio que é o 'modus operandi' da República Islâmica do Irão entrar em conflitos convencionais, porque conhecem as suas próprias fraquezas. Também tem enormes problemas internos. Existiram tantos movimentos internos nos últimos dez anos em que a autoridade central do governo foi contestada pela população. Portanto, um outro conflito também seria um perigo para a consolidação deste governo iraniano. Portanto, aqui há uma série de factores a ter em consideração. O Irão, o Iraque, o Líbano, a Jordânia, a Síria, se é que existe a Síria, neste momento são países onde existe uma fraqueza estrutural e um pequeno desequilíbrio pode fazer cair a casa.

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