Acesso ao principal conteúdo
Convidado

Global Media: não é possível continuar a "empurrar com a barriga" situação dos media em Portugal

Publicado a:

Os trabalhadores do grupo Global Media, que inclui a rádio TSF e os jornais "Jornal de Notícias" e "Diário de Notícias" entre outros, não receberam os salários de Dezembro, com as chefias editorais a falarem em pressões sobre determinadas notícias por parte da administração. Jornalistas vivem "filme de terror" e dizem estar abertos a todas as soluções para salvar rádio e jornais de referência em Portugal.

Os jornalistas da rádio TSF, em Portugal, não receberam os salários de Dezembro.
Os jornalistas da rádio TSF, em Portugal, não receberam os salários de Dezembro. © Facebook
Publicidade

“Até ao fim da rua, até ao fim do Mundo” foi o lema que regeu nos últimos 35 anos a TSF, a única rádio de informação contínua em Portugal de âmbito nacional. No entanto, a instabilidade do grupo Global Media que detém não só a TSF, mas também títulos como o Jornal de Notícias ou o Diário de Notícias, levou à primeira greve nesta rádio em Setembro e os trabalhadores ficaram sem receber os salários no mês de Dezembro, assim como o subsídio de Natal.

Audições esta semana no Parlamento português revelaram ingerências da administração, detida pelo fundo de investimento World Opportunity Fund, sediado nas Bahamas, nas redacções com o questionamento sobre notícias e também a suspensão de todos os programas de opinião na antena. Situações que levaram aos protestos públicos dos trabalhadores e que deixam centenas de jornalistas de todo o grupo Global Média numa situação muito precária, como nos descreveu Filipe Santa Bárbara, representante dos trabalhadores da TSF, em entrevista à RFI.

"A greve em Setembro, para além de ser histórica, não era dirigida contra esta administração, aquilo que nós fizemos foi mesmo a gota de água [...] Nós enquanto jornalistas passamos a vida a defender mais transparência para todos os agentes da sociedade e não é de estranhar que na comunicação social estejamos a pedir o máximo de transparência. Não é o primeiro caso, nem no Mundo, nem no país que um fundo investe na comunicação social. Mas preocupa-nos, de facto. Não foi o fundo que esteve na origem, até porque não sabemos de quem se trata", afirmou Filipe Santa Bárbara.

Para o jornalista "algo que não dá para perceber" neste negócio de aquisição do grupo Global Media é "quem está" e "porque está" a entrar no negócio da comunicação social em Portugal, especialmente em marcas históricas. Poucos meses depois de entrar no capital do grupo, a nova administração disse que a venda falhada ao Estado de 23,35% da Agência Lusa não permitiria pagar os salários dos trabalhadores e quis avançar com um despedimento colectivo de centenas de pessoas.

"Passaram três meses e tornou-se um filme de terror na vida dos jornalistas destas marcas históricas de notícias do país, ao ponto de não conseguirem pagar as contas. Acreditamos que a bem da transparência tivessemos uma ideia mais bem fundamentada sabendo que está por trás deste fundo. Estamos a falar de negócios privados, sim, mas estamos a falar de jornalismo, de liberdade de informação, de liberdade de expressão, coisas muito importantes consagradas na Constituição", indicou.

No final de Dezembro, o Governo português emitiu um comunicado dizendo que acompanhava "com preocupação" a situação na Global Media, dizendo estar em contacto com a ERC e questionando o posicionamento do novo accionista, mencionando ainda a possibilidade de se recorrer "no limite" ao Fundo de Garantia Salarial. Esta é uma possibilidade que os trabalhadores consideram, mas para os quais ainda não estão reunidos todos os critérios, já que não há, por enquanto, falência do grupo e os contratos de trabalho continuam válidos.

Assim, mesmo sem receber os seus salários, os jornalistas continuam a assegurar as antenas da TSF, fazendo o possível para que os ouvintes não sejam prejudicados.

Num clima de várias falências e fim de títulos importantes para a comunicação social portuguesa, um possível desaparecimento da TSF teria um grande impacto na rádio em Portugal, assim como o desaparecimento do "Jornal de Notícias" ou do "Diário de Notícias" fariam com que passasse apenas a haver dois jornais nacionais diários em banca.

"Estamos a falar de assegurar a pluralidade. Ninguém tem no Mundo uma fórmula mágica para a sustentabilidade dos média, mas não podemos fugir dessa discussão. Os partidos políticos têm evitado ao máximo porque o tema queima, mas chegámos a um ponto que não empurrar mais com a barriga", declarou o jornalista da TSF.

Uma das propostas após as audições de ex-membros da direcção da TSF no Parlamento é a possível nacionalização deste gigante da comunicação social portuguesa, uma hipótese avançada pelo PAN e pelo Bloco de Esquerda, numa altura em que os trabalhadores se dizem abertos a todas as hipóteses.

"Não faço a ideia se essa é a resposta. Não temos posição fechada sobre isso, nem temos de ter. É uma discussão que se pode fazer a nível político. Mas não é de excluir qualquer alternativa, mais ou menos criativa, temporário ou composta, para salvar estas marcas, não só para salvar os postos de trabalho - sim, é muito importante porque estamos a falar de muitas famílias - mas estamos a falar de coisas maiores, é bom que estejamos todos cientes disso. Devemos olhar sem preconceito para todas as soluções", concluiu.

O CEO do Grupo Global Média, José Paulo Fafe, aceitou após ter recusado uma primeira vez ser ouvido na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no Parlamento português e a sua audição está marcada para a próxima terça-feira.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Ver os demais episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.