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Sudão: "À espera do seu tempo de paz"

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Os combates continuam entre as forças armadas sudanesas lideradas por Abdel Fattah al-Burhan e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido. Os habitantes da capital e de várias outras cidades vivem com sobressalto os acontecimentos dos últimos três dias no país.

Conflito no Sudão transformou-se numa guerrilha urbana
Conflito no Sudão transformou-se numa guerrilha urbana AFP - -
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Os confrontos começaram no sábado, 15 de Abril, e tiraram a vida a pelo menos 97 pessoas, aponta um relatório publicado esta segunda-feira pelo sindicato dos médicos. Sem água nem eletricidade em alguns bairros, os civis vivem em pleno fogo cruzado.

Esta segunda-feira começam a surgir os primeiros esforços de mediação internacional. "Nos próximos dias, pode-se esperar algum esforço de mediação por parte da União Africana, paralelamente termos outras tentativas externas para tentar encontrar um cessar-fogo entre as partes envolvidas. Há informações que indicam que os Presidentes do Quénia, Sudão do Sul e Djibuti irão, em breve, a Cartum para influenciar um rumo de estabilização e pacificação da situação. Infelizmente não tenho expectativas optimistas de que estes esforços de mediação externos possam culminar numa transformação necessária da situação interna", descreve a investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, especialista do Sudão, Daniela Nascimento.

Os confrontos continuam perto dos locais de poder na capital, bem como em todas as províncias do país, inclusive nas regiões fronteiriças do Sudão do Sul, Etiópia, Eritreia e Chade. "Estamos perante um agudizar da violência e um escalar de posições de parte a parte que, dificilmente serão resolvidos pela mediação de actores externos regionais", acrescenta.

O Sudão vive um momento de disputa do poder interno, num momento em que o país se aproximava de uma transição para a autoridade civil. "A nota de resiliência da população sudanesa tem de ser sublinhada, mas o histórico está demasiadamente ligado a questões militares e de segurança. A população sudanesa está há demasiado tempo à espera do seu tempo de paz", defende Daniela Nascimento.

Em causa neste conflito está a rivalidade entre os dois generais que protagonizaram o golpe de Estado de 2021, o comandante do Exército, Abdel Fatah al Burhan, homem forte do poder, e o general Mohamed Hamdan Daglo, chefe das Forças de Apoio Rápido, forças que integram antigos milicianos da guerra do Darfur. "Estamos perante uma dinâmica de instabilidade, insegurança e de violência que tem tido diferentes níveis de investimento interno e externo. É curioso perceber que a violência que está, de alguma maneira, a assolar o Sudão é uma violência promovida por uma disputa de poder entre duas partes, entre dois actores, que estão muito interligados", descreve a investigadora.

O Programa Alimentar Mundial suspendeu a sua ajuda humanitária, após a morte de três funcionários. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que os responsáveis ​​fossem confrontados à "justiça o mais rápido possível". O Presidente da comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, desloca-se esta segunda-feira ao Sudão para "comprometer as partes a um cessar-fogo".

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