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Rússia lança vaga de mísseis visando as estruturas energéticas das principais cidades ucranianas

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O correspondente especial em Kiev, José Pedro Frazão, descreveu o ataque desta noite aos microfones da RFI, indicando que não há electricidade em Kiev e que noutras cidades, como Lviv, os ataques fizeram mortos entre os civis. Um ano depois do início do conflito, a frente em Bakhmut é "crítica" e metade da cidade já está nas mãos do grupo Wagner, numa das batalhas "mais duras" desta guerra.

A Ucrânia foi novamente fustigada esta noite por um ataque de grande envergadura por parte da Rússia.
A Ucrânia foi novamente fustigada esta noite por um ataque de grande envergadura por parte da Rússia. AP - Vadim Belikov
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O ataque que se esperava que viesse assinalar um ano de conflito entre a Rússia e a Ucrânia não aconteceu no dia 24 de Fevereiro, mas sim esta madrugada, com a Rússia a enviar pelo menos 81 mísseis contra diferentes cidades ucranianas e pelo menos 34 a conseguirem perfurar as defesas anti-aéreas. José Pedro Frazão, correspondente especial da RFI na Ucrânia que esta madrugada se encontrava em Kiev, disse que "praticamente" todas as grandes cidades ucranianas foram atacadas.

"A Rússia desencadeou uma vaga de mísseis sobre diversas cidades ucranianas. Tudo indica que os alvos eram infra-estruturas energéticas, mas foram também atingidas zonas residenciais. Praticamente todas as cidades foram atacadas esta madrugada, um ataque de larga escala através de diversos tipos de engenhos, desde misséis balísticos até drones kamikazes", explicou o jornalista.

Em Kiev, segundo José Pedro Frazão, "parte da cidade tem estado sem electricidade nas últimas horas", havendo registo de três feridos e com muitos carros a terem sido atingidos. Em Lviv, os mísseis atingiram uma zona residencial, matando pelo menos cinco pessoas. Outros pontos do país, como Zaporizhia são preocupantes, já que a maior central nuclear da Europa fornece energia a todo o país.

"Os ataques cortaram as ligações entre a central nuclear de Zaporizhia, que está ocupada pelos russos, e a cidade de Zaporizhia do lado ucraniano, o que significa que neste momento, a rede ucraniana de energia não tem acesso à energia produzida nesta central nuclear, já que esta fica nos arredores da cidade que está sob controlo ucraniano. Esta é uma situação que merece muita preocupação de todos, desde logo pela segurança nuclear. O secretário-geral da ONU sublinhou a importância de garantir a desmilitarização em torno desta central nuclear, a verdade é que atacando as linhas de energia há um impacto na distribuição", afirmou José Pedro Frazão.

Em Bakhmut, prosseguem os combates no terreno, com os mercenários russos Wagner a dominarem as forças ucranianas numa situação "crítica" para os soldados de Kiev.

"A situação mais crítica é a de Bakhmut e essa tem merecido muita atenção ao longo dos últimos meses. A indicação mais recente é que mais de metade da cidade de Bakhmut já está nas mãos do grupo Wagner, os mercenários ao serviço sa Rússia, que estão a desencadear um ataque praticamente sem misericórdia, tendo em conta que chegam a utilizar tácticas como enviar praticamente para a morte alguns dos seus combatentes de forma a atrair os ucranianos para zonas de combate que permite depois cercar os ucranianos", descreveu o jornalista, que acrescentou haver muitas dúvidas sobre o decorrer destes combates, embora tenha estado apenas há alguns dias a apenas 12 quilómetros do teatro de guerra.

Alguns analistas indicam que a queda de Bakhmut pode não ser assim tão catastrófica para Kiev, já que a Ucrânia, após obter os tão desejados tanques pesados Leopard, quer agora reconquistar não só as províncias ocupadas como Donetsk, mas chegar mesmo à Crimeia. Para isso, precisa de aviões de combate, daí o apelo do Presidente Zelensky para obter aviões de caça F16.

"Estes tanques Leopard que devem chegar até ao final do mês, com origem na Alemanha e Portugal, vão permitir repelir e chegar mais longe em relação aos territórios ocupados. Há uma questão em aberto que fiz respeito aos caças F16, é uma situação mais sensível porque é preciso um conjunto de treinos específicos para os pilotos da Força Aerea e esses aparelhos não existem na Ucrânia. Isso significaria uma vantagem muito substancial para o lado ucraniano", detalhou.

Se os combates continuam numa parte do país, algumas cidades estão a receber de novo as populações que fugiram da guerra. O problema é agora a criação de riqueza e emprego no meio da destruição deixada pelos russos.

"Há cidades de onde ainda estão a sair pessoas, por exemplo Kherson e estão a ir para uma cidade que fica a 50 quilometros, Mykolaiv, que também é portuária. Mas Mykolaiv, que tem estado mais calma, após ter estado muito sujeita a bombardeamentos aereos, vive agora um regresso de pessoas. O porto está parado e há um grave problema de desemprego. Há pessoa a voltar em várias cidades, mas não tanto em cidades muito destruídas", descreveu José Pedro Frazão.

Quanto às crianças ucranianas alegadamente raptadas pelos soldados russos, José Pedro Frazão disse que há relatos destes raptos e que centenas de crianças estão desaparecidas, com algumas organizações internacionais no terreno a tentar localiza-las. Cerca de 400 crianças estão oficialmente desaparecidas, mas as autoridades ucranianas dizem que pode chegar a 6.000 menores, com a Rússia a defender que se tratou de uma operação humanitária para salvar as crianças.

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